Assiste-se agora a uma, digamos, guerra virtual.
Aliás, esse cara aí, Juliano Assange, parece que é mesmo um caso de polícia.
De polícia e de justiça.
A cara do cara, o aspecto dele já não inspira lá muita confiança.
O sujeito tem uma cara de quem já fez alguma coisa que não deveria ter feito, mas sentiu prazer em fazê-lo.
Mas, afinal, ele passou a ser um caso de polícia e de Justiça apenas depois que seu site começou a publicar mais de 200 mil documentos secretos apanhados no fundo dos baús da diplomacia americana?
Ou seria um caso de polícia e de Justiça mesmo que não tivesse divulgado documento algum?
4 comentários:
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Wikileaks e a liberdade de imprensa
O caso Wikileaks já rendeu a divulgação da diplomacia secreta, prisão de editor do site (Julian Assange) por "crimes sexuais", bloqueio da conta pessoal dele no PostFiance e de pagamentos do Wikileaks na Visa e Mastercard, com o subsequente ataque às páginas virtuais dessas três instituições financeiras por hackers, como represália à perseguição à Wikileaks e seu editor; debates sobre de onde essas informações vazam, entre muitos outros temas e acontecimentos, mas é impressionante o silêncio da grande mídia brasileira sobre o assunto principal: a questão da liberdade de imprensa.
Sobre isso, li um depoimento, na excelente revista Carta Capital, do professor Caio Gracco Pinheiro Dias, da PUC-SP. Ele faz uma comparação entre os vazamentos de documentos e a divulgação de escutas eletrônicas pela imprensa brasileira.
Caio diz literalmente:
"No Brasil, volta e meia, revistas, jornais divulgam gravações feitas pela Justiça. Essas gravações são protegidas por sigilo. É responsabilidade da autoridade resguardar o sigilo das gravações. Somente pode revelar as gravações quando elas viram provas, ou seja, no curso do processo. O que acontece é que, muitas vezes, por alguma razão, elas acabam sendo publicadas pela imprensa. Você teve alguém que descumpriu um dever funcional, dever de sigilo. Por outro lado, há alguém que divulgou as informações. A prática no Brasil é considerar que o vazamento é ilegal, mas a publicação pela imprensa não é, desde que haja interesse público. Então, se a gente pensa dessa maneira, é possível associar o WikiLeaks a um órgão de imprensa, ele está dando publicidade. Agora, não foi o WikiLeaks que entrou no sistema do Pentágono, por exemplo. A informação é que um funcionário do Pentágono teria passado os dados"
Ele está com plena razão, afinal quem não lembra dos inúmeros "furos de reportagem" do Estadão, Folha, Veja, TV Globo, et caterva, advindos de sigilosas fontes - muitas vezes pagas a peso de ouro - na Polícia Federal e no Poder Judiciário? Por isso, concordo em gênero, número e grau com a conclusão do professor Gracco: "Se a aplicarmos a mesma lógica usada no Brasil - e, até onde sei, é aplicada nos Estados Unidos -, a publicidade do material não é ilegal".
Estranho não ver nenhuma palavra contra a "ameaça à liberdade de imprensa" nos jornalões do Rio e de São Paulo, nem declarações "indignadas" do William Bonner, no JN, ou partindo da ANJ e da ABERT, que atacam o presidente Lula por uma reles crítica a um jornal ou revista, como se ele não pudesse exercer seu direito individual. Ao contrário, usam cinicamente o conteúdo divulgado para atacar o Brasil e o governo, num malabarismo que só esse complexo eterno de "vira-lata" que a imprensa brasileira tenta disseminar no nosso povo, consegue fazer.
De qualquer forma, recomendo que todos e todas leiam o artigo do próprio Julian Assange sobre o caso: Wikileaks criou um novo tipo de jornalismo.
Blog do Bordalo
Este post revive as teorias Lombrosianas,que tomava o comportamento psiquico das pessoas pelo aspecto físico.
Qual é, seu Espaço? Desvendar as porcarias das altas autoridades é caso de polícia? Os crimes deslavados dos estados opressores merecem ser eternamente acobertados? Que tipo de liberdade de imprensa o senhor defende, aquela que obedece aos ditames do poder?
Interessante comentário também do Jânio de Freitas:
Por Jânio de Freitas
Estava muito esquisito. Precisar fazer estupro, logo na Suécia de tão dourada generosidade? Ainda se fosse na Suíça, nada a estranhar. E reclamação contra assédio masculino? Na Bélgica ainda podia ser. As coisas, porém, afinal voltam à sua natureza nos lugares apropriados. E fica-se sabendo que a acusação a Julian Assange de “estuprar uma mulher sueca e molestar sexualmente outra”, como os meios de comunicação repetem mundo afora há duas semanas, foi não usar preservativo, pode-se supor que com proveito mútuo, e, no outro caso, um ensaio compartilhado.
Mas a conduta dos meios de comunicação não deixou de atingir a reputação de Assange e, com isso, contribuir para a sufocação que governos poderosos buscam aplicar à divulgação que esse valente australiano faz de documentos sigilosos, pelo seu site WikiLeaks. Não estamos só diante de muitos gatos graúdos e um ratinho que lhes roubou pedaços do melhor queijo escondidos com cuidado. É de liberdade de informação que se trata. É do direito dos cidadãos de saber o que seus governos dizem e fazem sorrateiramente, no jogo em que as peças são as comunidades nacionais.
É de jornalismo que se trata. E os meios de comunicação jornalística estão ficando tão mal quanto os países, governos e personagens desnudados pelo Wikileaks. Era a hora de estarem todos em campanha contra os governantes que querem sufocar as revelações. Ou seja, em defesa da liberdade de informação, da própria razão de ser que os jornais, TVs, rádios e revistas propagam ser a sua.
Com escassas exceções, que se saiba, os meios de comunicação estão muito mais identificados com os governos e governantes do que com os cidadãos-leitores e com a liberdade de informação. A união e a contundência que têm na defesa da sua liberdade de empresas, dada como liberdade de imprensa, não se mostra: segue, nos Estados Unidos, o aprendizado imposto pela era Bush e, no restante do Ocidente, os reflexos desse aprendizado sob a paranoia do terrorismo. Os jornalistas profissionais não estão melhor do que os meios de comunicação. Poucos são os seus recursos de expressão, mas, ao que se deduz do noticiário rarefeito, as manifestações de repúdio à pressão contra as revelações do Wikileaks são feitas por leitores/espectadores. Os jornalistas apenas as registram, pouco e mal.
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