segunda-feira, 7 de junho de 2010

Anos de tensão


Desde o fim da Guerra das Coreias, os dois países já estiveram próximos de reiniciar o confronto - e tiveram poucos momentos de tranquilidade. A tensão que há mais de 50 anos domina a península onde estão localizadas a Coreia do Norte e a Coreia do Sul voltou ao grau de alerta. O agravamento se deve ao resultado da investigação, conduzida por uma equipe internacional, das responsabilidades sobre o ataque da corveta sul-coreana Cheonan, torpedeada no dia 26 de março.
A corveta afundou no Mar Amarelo, após uma explosão inexplicada perto da fronteira entre as duas Coreias, o que provocou a morte de 46 dos 104 tripulantes. A suspeita de que o navio fora afundado por um submarino norte-coreano surgiu desde o início, mas havia a possibilidade de uma explosão interna ou de choque com uma mina flutuante.
Mas, em 20 de maio, Seul (chamou apenas peritos de países aliados, EUA, Austrália, Reino Unido e Suécia) anunciou que uma comissão internacional concluíra que a corveta fora mesmo afundada por um torpedo. Partes dele teriam sido recuperadas, com inscrições semelhantes às de outros torpedos norte-coreanos e compatíveis à descrição técnica da arma em brochuras para exportação.
Voltemos no tempo. O país foi dividido com o fim da Segunda Guerra Mundial. Tudo começou em 1950-53, com a Guerra das Coreias, o norte, comunista, sob influência da União Soviética, entra em conflito com o sul, capitalista, com o apoio militar da China e dos Estados Unidos, respectivamente. Os países concordaram em um cessar-fogo, mas não assinaram um acordo de Paz. Nesse conflito, 3 milhões de coreanos tiveram suas vidas ceifadas.
Em 1985, a Coreia do Norte assina o Tratado de Não Proliferação (TNP) de armas nucleares. A adesão permite que equipe da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) promovam inspeções a lugares apontados pelos países signatários.
Dois anos depois, em 1987, espiões norte-coreanos foram acusados de colocar uma bomba em um avião sul-coreano, matando cerca de 115 pessoas nesse atentado.
Em 2000, houve a Primeira Cúpula Intercoreana, em que os dois países se comprometeram a diminuir a tensão militar na península e a buscar uma cooperação econômica. Os norte-coreanos dependem do vizinho para sobreviver - onde a fome é uma das maiores preocupações. Um terço de todas as suas relações é feito com Seul, o que permite a entrada de moeda forte no país.
2003: o pior estava por acontecer. A Coreia do Norte anuncia que tem em seu poder armas nucleares com fins militares e abandona o TNP. A tensão volta a provocar turbulências na região. 2007: o que poderia parecer impossível aconteceu. Pela primeira vez, um presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun, atravessa a fronteira a pé entre os dois países.
Em 2006, a Coreia do Norte realizou seu primeiro teste nuclear, o que lhe valeu sanções na ONU. Três anos depois, em 2009, realizou um segundo teste nuclear, o que despertou a perplexidade internacional. A ONU impõe novas sanções. A essa altura, a relação com o parceiro do Sul é tensa.
A realidade mostra que após a Guerra das Coreias, esse conflito tecnicamente, ainda não acabou. Desde 2004, porém, os dois países tentam uma reaproximação. Em 2005, o governo sul-coreano inaugurou na Coreia do Norte o parque industrial de Keasong, empregando mais de 45 mil pessoas. O que preocupa é a figura de Kim Jong-il, o líder doente - ele foi acometido de um acidente vascular cerebral (AVC), em 2008 - e instável do país. Kim faz o tipo chantagista, é um ditador com acesso a armas nucleares. Ele conta com a China para aliviar sanções internacionais.
De imediato, o governo da Coreia do Sul proibiu navios norte-coreanos de entrar em suas águas, embargou quase todo o comércio com o vizinho e iniciou uma campanha de propaganda pelo rádio direcionada a seus habitantes. O Norte reagiu colocando suas tropas em alerta, cortou comunicações e acordos com o Sul, que visavam prevenir confrontos.
Mas, se não foram os norte-coreanos que afundaram a embarcação, quem poderia ter sido? Não está claro qual o interesse do Norte em causar o incidente, quando sua precária economia tem se beneficiado do comércio com o Sul. O embaixador do Brasil na Coreia do Norte, Arnaldo Carrilho, diz: "Os norte-coreanos não são santinhos, mas na Coreia do Sul também há muito santo do pau oco".

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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