sábado, 21 de novembro de 2009

Natal na creche


Sábado de manhã, vivi algo muito comovente. Estacionei o carro na Castelo quase com a avenida Magalhães Barata e bati à porta da Creche Lar Cordeirinhos de Deus. Enquanto aguardava, pela grade do portão, fiquei frente a frente com uma criança numa cadeira de rodas. Sem conseguir falar e firmar o corpo sobre o assento, o olhar inquieto daquela menina inocente, vítima de paralisia cerebral, parecia me anunciar tudo o que haveria de viver naquela visita.
A história da creche começou em 2006, quando Noemi Rodrigues e um grupo de amigos resolveram estender a mão para crianças em situação de risco. Desde lá, todos os dias o abrigo abre suas portas para receber e cuidar de um exército de pequeninos. Esse apoio é indispensável para que mães, muitas vítimas também de mazelas sociais, possam trabalhar. Mas, a diferença do modelo convencional é que o espaço é um lar, ou seja, é a casa onde dezenas de crianças moram. Moram ali porque estão à disposição do Juizado da Infância. Moram porque suas casas foram deterioradas. E algumas porque estão gravemente doentes de câncer, hidrocefalia e outras enfermidades.
A creche precisa de tudo. Precisa de alimentos, remédios e de tecidos para fazer lençóis. Precisa de um poço artesiano e de uma caixa d'água para fugir das torneiras áridas que castigam o bairro de são Brás. São 178 crianças que precisam de material de higiene apropriado, fraldas, toalhas etc. Um desafio do tamanho do amor de Deus e da conhecida fé paraense. Um desafio pequeno, se repartido por milhares de mãos, que podem ajudar quem está à frente desse exército de brasileirinhos que insistem em sonhar.
A creche ocupa um prédio antigo. Assim como as crianças que abriga, não nasceu em berço de ouro. Vive da criatividade, da adaptação, da fé. Porém, hoje, devido ao abismo social que separa ricos e pobres no Brasil, a creche precisa de uma reforma urgente. Precisa porque a demanda não para.

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“Provavelmente, você não produz farinha, mas com certeza Deus pôs outros bens em suas mãos. Reparta essa porção com os cordeirinhos de Deus.”
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Paredes precisam de reparos. Há necessidade de abrir janelas para favorecer a ventilação da sala de costura. O consultório médico é improvisado, precisa de um leito para as crianças serem bem atendidas. O refeitório, com suas dezenas de cadeirinhas, necessita de adaptações, assim como a sala de aula, o hall etc.
Talvez você pense: "Precisa de muita coisa! Não posso...". Olhe, enquanto escrevia estas linhas, um amigo me ligou para pedir o telefone da creche. Um conhecido dele queria doar uma saca de farinha. Imagine quantas crianças esse voluntário anônimo vai alimentar. Provavelmente, você não produz farinha, mas com certeza Deus pôs outros bens em suas mãos. Reparta essa porção com os cordeirinhos de Deus.
Segunda-feira, estive em outra reunião com pessoas carentes. Desta feita, era um grupo de pastores do interior que vieram a capital em busca de auxílio para suas igrejas. A necessidade incluía desde valores para aquisição de terrenos até dinheiro para pagamento de lavra de tábuas na mata.
Entre os necessitados, havia um jovem que precisava de um pequeno barco. E foi justamente ele quem não se conteve quando alguém anunciou a necessidade de um microfone. De um salto, correu e apanhou o desejado bem, novinho em caixa, e doou ao companheiro. Seu gesto mexeu com todos os presentes. Aparentemente, voltou sem a canoa, porém, em questão de dias regressará até nós para contar como conquistou um barco doando um simples microfone.
Agora, quando nos aproximamos do Natal, lembremos do Menino Jesus, e levemos presentes àqueles pequeninos. Vamos dar as mãos e abraçar a Creche Lar Cordeirinhos de Deus!

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RUI RAIOL é pastor e escritor (www.ruiraiol.com.br)

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