A bem da verdade, o mundo virtual sempre anda procurando soluções inovadoras. Até hoje, os analistas políticos debatem para entender e decifrar os enigmas de junho. Mas ao menos uma coisa é consensual e parece estabelecida: trata-se da grande mobilização, em uma sociedade historicamente apática, seria impensável sem o respaldo da internet. Veja como a prepotência norte-americana espanta, e seu senso de justiça está equivocado, ao achar que pode tomar conta de tudo e de todos, agora com suas espionagens. Mesmo com as denúncias parece não ser o suficiente. A questão é: como avançar sem sujar as mãos.
O grau da espionagem americana sobre o mundo não para de surpreender. Recentemente, segundo publicou o jornal The New York Times, a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) tem conseguido corromper a proteção digital do comércio e dos sistemas bancários globais, além de proteções automáticas de e-mails, pesquisas na internet, chats e chamadas de telefone, com ajuda de supercomputadores e malabarismos judiciais e políticos.
Antes tarde do que nunca, a descoberta adviria de novos documentos divulgados por Edward Snowden, o ex-técnico da agência de inteligência americana que começou a denunciar os procedimentos de espionagem do país em junho e hoje está asilado na Rússia. E deve continuar causando ainda mais tensão diplomática entre os EUA e governos mundo afora.
Contudo, são muitos os motivos e os interesses que levam os americanos a nos espionar, porém as turminhas de ingênuos de plantão, inclusive dentro dos meios políticos, ficaram atônitas com tal fato. Através da releitura da história, pode-se trazer de volta à memoria de todos a “singela” frase do faz-tudo da época, Mr. Henry Kissinger pronunciada na década de 1970: “Não permitiremos outro Japão ao Sul do Equador”. Está nessa frase um dos elementos para se entender a espionagem americana em nosso país.
Bisbilhotar e preferencialmente espionar são as armas que os americanos usam na guerra econômica que travam contra nações como Brasil, Rússia, China etc. O intuito é sabotar progressos que o Brasil possa fazer em áreas sensíveis, tais como desenvolvimento de medicamentos, área de pesquisa nuclear, aeroespacial, equipamentos militares etc. A Guerra Fria é morta, mas o modus operandi do imperialismo americano continua o mesmo. Tudo isso mostra com clareza até onde vai o cinismo do “grande irmão do Norte”.
A internet mobiliza hoje, em sua maioria, a juventude que é capaz de pautar temas ignorados pela mídia, mas a exagerada polarização ideológica empobrece o debate politico. O cenário permite supor a emergência de uma democracia digital, na qual os cidadãos conectados à internet tornam-se protagonistas do debate político, sem a mediação da mídia ou tutela de partidos ou sindicatos. Essa visão idílica, repetida à exaustão pelos entusiastas da rede, tem sido, porém, cada vez mais contestada.
A internet, assim como abriga pessoas bem intencionadas e que passam críticas construtivas. A mesma plataforma mobilizadora abriga manifestações de ódio contra negros, nordestinos e gays. Há seis anos atrás, havia pouco mais de 20 células neonazistas. Hoje, são mais de 300. Além da atuação criminosa, tornou-se corriqueira, ações de provocadores, debates repletos de acusações e xingamentos. Agora, documentos revelam que o Canadá espionou o Ministério de Minas e Energia. Fala sério!
Os ataques movidos pela bile afastam do debate quem busca argumentos racionais. Isso tudo gera discussões online, como se fossem torcidas separadas por alambrados virtuais a reforçar suas próprias convicções e sem qualquer ponto de convergência.
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SERGIO BARRA é médico e professor
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