segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Procuram-se todas as desculpas


E há muitas desculpas, uma das muitas faz da presidente Dilma Rousseff, uma gestora na encruzilhada. Governos invocam a necessidade da governabilidade (maioria dos votos nas Casas Legislativas) para a aprovação dos projetos. Isso é a prova maior de que muitos políticos não regem suas condutas pelo interesse público, pelos mais altos interesses da nação. Se o projeto é bom, ele merece apoio. Não há que reprovar um bom projeto porque ele é oriundo da oposição. Os representantes do povo estão lá para garantia do interesse público acima dos interesses particulares ou partidários. E o pior é obter a tal governabilidade ao preço de muitas negociatas.
Nada como um deputado petista para enterrar a reforma política. O coveiro tem nome: o deputado Cândido Vaccarezza. Era previsível. Quando o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, escolheu o mais peemedebista dos petistas, o federal Vaccarezza, para coordenar o grupo da reforma política, a intenção não poderia ser outra senão afundar os planos da presidente Dilma. Não deu outra. Na quarta-feira, 17, com aquela peculiar expressão de cara de paisagem, Vaccarezza descartou qualquer possibilidade de empreender mudanças a tempo das próximas eleições, desejo do Palácio do Planalto e maneira de dar uma resposta rápida ao “clamor das ruas”.
Eles dizem que estão discutindo uma reforma que não valerá para as eleições de 2014, porque teriam que aprova-la a toque de caixa. E mais, se vai valer em 2016 eles querem também discutir. “Podemos fazer uma experiência nas eleições municipais”, diz o deputado. De toda forma, parlamentares da base e da oposição já haviam descartado a possibilidade de um plebiscito e colocam em dúvida até a votação de uma reforma ainda neste ano.
Vaccarezza, a exemplo do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, figura no rol dos “bons petistas”. Como fazer reforma política nesse país, se não há vontade política?
E mais encruzilhadas vão aparecendo. Nosso País está dominado pelo desânimo. O problema é conjuntural. O marasmo atinge o comércio e a tendência do emprego muda, enquanto o governo tenta na marra, recuperar a confiança. Diante de tal cenário, a presidente Dilma foi cautelosa em recente reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Ela sustentou que a inflação seguirá abaixo do teto da meta, 6,5% ao ano. Será que o povo deve estar equivocado ou esses políticos não frequentam supermercado, feira etc.
Há quem diga que não tem consistência a afirmação de que a queda na popularidade e, principalmente, a avaliação do governo Dilma seja resultado das manifestações de rua nos dois últimos meses. Acham o tempo curto para refletir os protestos que começou em São Paulo, nos primeiros dias de junho e a data da sondagem de âmbito nacional. Agora, ficam insinuando que os índices de reprovação da saúde, educação e segurança têm pouca variação. Só pode ser brincadeirinha.
E tome entroncamento. Dizem que nos últimos dez anos o Brasil teve um governo do PT. O Partido dos trabalhadores mais simplesmente, obteve a chefia do Estado e do governo sem nunca ter maioria no Parlamento. Viu-se obrigado, portanto, aos compromissos deletérios que todos conhecem e, em relação a suas origens, sofreu inevitavelmente uma parcial mutação genética. Ah, realmente, muito interessante.
Por todas essas desculpas, resulta fundamental realizar a mãe de todas as reformas, ou seja, a política, para conseguir a superação do sistema constituído com base na Constituição de 1988. Contudo, hoje é urgente não uma reforma política indefinida ou de fachada, como enchem a boca os hipócritas de qualquer facção, e sim um novo pacto nacional. Mais do que nunca, da política confiável e nobre é a única resposta de valor.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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