segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Diferentes tons de encardido


As grandes mazelas que atingem diretamente os cidadãos deixam uma excelente oportunidade para começarmos a nos revoltar, democraticamente, diante de tantas deficiências. E não são poucas. Historicamente, algumas das nossas vulnerabilidades são verdadeiros desacertos, sem citarmos a crise de não nos sentirmos representados pela grande maioria dos políticos no poder e levam às ruas a juventude em protestos quanto a esses estados de coisas. As próximas eleições, agora mesmo, as de 2014, serão uma excelente oportunidade para começarmos a debelar pela soberania popular tais deficiências.
Ninguém tem dúvida de que o povo está ansioso para assistir ao fim do processo do mensalão, discussão que foi retomada quarta-feira, 14, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se de uma espera sofrida e inédita, em que está em jogo a própria justiça brasileira. O povo espera e deseja a pena mais dura aos mensaleiros. Além de serem os mais importantes réus a serem julgados nesse período da democracia, estão investidos de valor simbólico muito importante para a sociedade. Eles representam o que há de maligno e corrupto nos políticos brasileiros. O povo está bravo, irritado e no limite máximo de suportar mais atos cínicos e maracutaias.
O ministro Gilmar Mendes declarou recentemente que não ouvirá a voz das ruas no julgamento do mensalão. Perigosa surdez a do ministro, ao valorizar com exclusividade uma suposta subordinação aos textos das leis, que são passivos, sujeitos à mercê de dignas interpretações e de questionáveis tendenciosidades pessoais. Senhor ministro, as vozes que tem escutado vêm dos lares, da cultura dos homens de bem, de injustiçados penitentes de pecados não cometidos. Muito mais do que simples vozes pretendentes, o que na realidade se houve são gritos de revolta e de indignação. Que não se surpreenda o ministro se a Justiça estiver presente muito mais nas vozes que ele julga serem vindas apenas das ruas.
A ex-ministra do STF, Ellen Gracie, recentemente, se manifestou em artigo publicado em jornal de circulação nacional, com objetividade a questão dos embargos infringentes, da Ação Penal 470, que deverá ser julgada este mês. Disse ela: "Os embargos infringentes, por meio dos quais se pretende o rejulgamento da Ação Penal 470, são letra morta no Regimento Interno do Supremo". E completou: "A lei posterior revoga a anterior (...) quando regule inteiramente a matéria de que tratava a anterior". Assim, temos a convicção de que, eliminadas as medidas protelatórias a Justiça caminhe para promover a reclusão dos condenados. E um novo ciclo político se estabelecerá no país. Claro, nossa grande esperança.
Deveras, o tempo é implacável, o poderoso PT, agora quer expurgar José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil de Lula, e os deputados José Genoíno e João Paulo Cunha, que foram apanhados de surpresa com o veto do PT à participação deles no Diretório Nacional do partido. Ficaram enrubescidos, pois souberam da grande novidade pelos jornais e tabloides em circulação por esse Brasil afora.        
Até aqui, o legado desse governo é aflitivo: inflação e gastos públicos em alta constante, superando até a inflação; intervenção desastrosa em estatais - Petrobras registrou queda nos lucros e no valor de mercado, causando também perdas para os trabalhadores que investiram seu FGTS na empresa. Nas estatais do setor elétrico, o estrago, da mesma forma, tem sido grande com perda de rentabilidade, valor de mercado e prejuízos para os fundos de pensão. A presidente, com a mãozinha de Mantega, depenou o patrimônio de poupadores, investidores, trabalhadores e aposentados. Até os mercados futuros das bolsas de valores ficaram combalidos, como se pode investir em um país cercado de incertezas e inseguranças? Nossa esperança está em mudar os diferentes tons de encardido e fazermos uma harmonia de contrastes.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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