segunda-feira, 8 de julho de 2013

A arena é a internet


É marcante o momento em que vivemos com a onda de manifestações que emergiu por todo o País. É a população disposta a lutar contra essa inércia em que o Brasil mergulhou. Os gritos de guerra, cartazes e faixas exigiam respostas para muitos problemas que são velhos conhecidos da população brasileira. Mas, apesar disso, ainda não foram tratados como prioridade pelos governantes.
O País acordou para inúmeros absurdos. Um momento histórico sem precedentes que ganhou destaque, felizmente, pela união massiva dos brasileiros e, infelizmente, pelas atrocidades cometidas pela polícia. Essa realidade vivida pelo Brasil e por muitos países deixa também estudiosos e historiadores sem saber o que esperar do futuro. A grita do povo brasileiro impactou mais do que balas de borracha, ardeu mais que o spray com pimenta e constrangeu mais que as bombas de efeito moral.
Os recentes protestos que presenciamos revelam a ruptura com um antigo paradigma. O surgimento de milhares de lideranças nascidas nas redes sociais inaugura a democracia direta. Esse novo modelo surge em oposição à democracia representativa, que dá sinais de esgotamento. Havia uma opinião que insistia em dizer que os jovens de hoje são alienados, que não se interessam por problemas, muito menos por política. Os protestos comprovam que “todo poder emana do povo” merece mais respeito e deve sempre ser lembrado.
O mundo e as autoridades não podem mais ignorar as redes sociais. As manifestações comprovaram seu poder arrebatador. As redes ganharam destaque em todos os continentes com sua função aglutinadora. A capacidade de articulação dos movimentos foi surpreendente, e fez as autoridades enxergarem o potencial dessas ferramentas.
O governo continua sob pressão. Assessores diretos da presidente Dilma Rosseff entregaram relatório com resultados oriundos de redes sociais. Os dados mostravam uma situação mais grave do que se poderia imaginar. A preocupação era com os manifestantes que pediam sua saída do governo, chegando a 21%. A presidente tenta dar um novo rumo a sua gestão, enquanto enfrenta o descontentamento da opinião pública, da base aliada e do próprio PT.
Dia desses, num papo com um grande amigo, o assunto era justamente sobre redes sociais. Dia seguinte, me envia um texto: “Gente que #vemprarua”. Ele fala do sociólogo francês Dominique Wolton, estudioso das comunicações, teceu a teoria das “solidões interativas”, com base em observações sobre o universo das redes sociais. Brilhante, o sociólogo apontou o dedo na tecla mais assustadora da plataforma que sustenta o mundo atual: “Não podemos negar que a internet trouxe uma abertura formidável”. Mas depois de um tempo, pode virar prisões individuais: as pessoas se trancam e não se comunicam com valores diferentes dos seus. E... Imersos na solidão narcísea diante do monitor, o écran que só reproduz a imagem de nós mesmos. Parecia definitivo, o Wolton.
 Ainda no texto, em “Dez dias que abalaram o mundo”, John Reed narra, de maneira fascinante, a desesperada busca por informações no calor da Revolução Russa. O suporte: os jornais. Também assim, por meio do papel, gerações inteiras lançaram manifestos e convocações, conspiraram e tramaram sedições. Como esquecer do panfleto, do mimeógrafo...Nas publicações impressas estava o clamor por mudança. Bem parecido com o de hoje. O contrapoder, como afirma Wolton.
A história é filha do conflito, diz o amigo Tonga. Tanta gente na rua assusta a outra gente que o tempo todo, como que por todo o tempo, anda de cabeça baixa, escondida do mundo, omissa ou alheia, e não mais alienada, porque dos marxismos se despiram quase todos e de ideologias pouco se fala nesses dias de digitalizada contemporaneidade. Mas o susto que assombra é o mesmo que desperta, o que acende e motiva - é o lume que aquela toda gente espera redivivo. Na rua.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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