segunda-feira, 20 de maio de 2013

Os mapas geocriminais dos narcodólares

SERGIO BARRA

Dia desses, dando uma agitada no controle da TV, comecei a acompanhar o início de uma reportagem sobre apreensão de cocaína. Quase todos os dias, jornais e canais de televisão noticiam operações antimáfia com prisões em diversos países. Muitas vezes, são reportagens breves que não deixam marcas na opinião pública, acostumada e indiferente. No fundo – pensa-se –, são histórias que não dizem respeito à nossa vida.
Contudo, se alguém contasse que, por trás dessas operações, há uma realidade em que narcotraficantes movimentam toneladas de cocaína e bilhões de dólares. No entanto, o que espanta, na verdade, deu-se por conta da quantidade e da pureza da droga, uma vez que um informante havia dado todas as pistas para a polícia europeia sobre o carregamento ilícito: uma encomenda feita pela 'Ndrangheta, a máfia calabresa, a traficantes colombianos.
Na oportunidade, você observa que da Colômbia partem carregamentos com toneladas de cocaína, que se dirigem para Santo Domingo, na República Dominicana, que faz parte do arquipélago das Grandes Antilhas, região do Caribe e de lá são levados para Miami através de barcos velozes (conseguem velocidade entre 150 e 200 km por hora) denominados de “ligeirinhos”. Eles partem de estuários previamente estudados para enganar a policia e o fazem mais durante a noite para alcançar o mar. Se as operações tiverem bom êxito, parte da droga segue para Nova York e de lá para a Europa.
Era sabido que o Brasil era apenas uma escala. A cocaína percorreu centenas de quilômetros pela Floresta Amazônica com a escolta dos paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), grupo de extrema-direita empenhado em combater os guerrilheiros das Farc. E exímios narcotraficantes. Sabe-se que também que a droga entra através de outras rotas, pelos estados do Acre e de Mato Grosso.
O infiltrado era o italiano Bruno Fuduli, dono de uma marmoraria que se viu obrigado a prestar serviços para a `Ndrangheta após assumir dívidas com a mafiosa família Mancuso. Prontificou-se a delatar as atividades criminosas da máfia calabresa à polícia e contribuiu para a apreensão de cinco toneladas de cocaína pelo mundo. Tornou-se um agente duplo. Um carregamento apreendido em Hamburgo, ele estava Colômbia a mando da máfia calabresa que se recusou a pagar pela cocaína confiscada pelas autoridades europeias. Fuduli ficou em cativeiro das AUC por três meses, mantido apenas com água. Após ser abandonado pelos sequestradores, doente e 10 quilos mais magro, conseguiu contatar a polícia italiana e regressar a seu país.
Os narcóticos não garantem apenas o enriquecimento dos criminosos envolvidos diretamente nos negócios. Após as recentes crises financeiras internacionais, vários bancos superaram seus problemas de liquidez com os recursos do tráfico. Aproximadamente 400 bilhões de narcodólares foram absorvidos pelo sistema econômico. Em pesquisa recente, dois economistas da Universidade de Bogotá, Alejandro Gaviria e Daniel Mejia revelam que 97,4% do dinheiro movimentado pelo narcotráfico colombiano é reciclado em bancos americanos e europeus. Nova York e Londres são hoje as maiores lavanderias do mundo.
Um dos principais mentores do esquema de lavagem de dinheiro hoje usado pelo narcotráfico é o ucraniano Semion Mogilevic, apontado pelo FBI como “um dos mais perigosos do mundo”. Oriundo de uma família judaica, eles controlam um banco israelense com filiais em Moscou e Chipre destinado a lavar dinheiro para a máfia russa. Mogilevic especializou-se na exploração de mulheres no Leste Europeu e as usa para distribuir drogas no varejo. Ufa! Também, pudera! Um trabalho hercúleo para o pessoal da delegada Helô, né? Salve, Jorge!

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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