sábado, 14 de novembro de 2009

Morte na porta da Santa Casa

No AMAZÔNIA:

Um bebê com 12 horas de nascido, prematuro de 6 meses, morreu no colo da mãe, em uma ambulânciaduas horas depois de chegar à Santa Casa de Misericórdia do Pará e não conseguir atendimento. 'Eles só vieram depois que ele já tinha morrido, meu filho morreu por falta de atendimento médico, ele tinha tudo para viver, estava esperto', disse Raimunda Danila de Moraes Barros, 21. Ele nasceu às 7h15 no hospital de Curuçá, a 140 km de Belém.
Acompanhada do pai da criança, o lavrador Wagner Galvão do Couto, mãe e bebê viajaram duas horas e meia para tentar salvar o filho. Ela contou que a criança respirava com a ajuda de oxigênio, depois de ter seu estado considerado estável. 'Ele se mexeu, urinou e o médico lá decidiu encaminhar para a Santa Casa, disseram que enquanto a gente viajava iam conseguir leito, mas chegamos aqui não deixaram a gente entrar e não apareceu ninguém nem para olhar, quando trouxeram uma garrafa de oxigênio não tinha mais jeito', disse, inconsolável. A mãe contou que o bebê faleceu 20 minutos depois que as duas garrafas pequenas de oxigênio esvaziaram e quando surgiu uma outra, da Santa Casa, não havia mais o que fazer.
A criança teve que ser transferida porque Curuçá é mais um dos municípios paraenses sem nenhuma condição para atender casos de urgência e emergência como o do bebê. Segundo os pais da criança, lá não tem nem incubadora, muito menos UTI neonatal, o que coloca sempre em risco de morte crianças que nascem nas mesmas condições. Mesmo em estado crítico e com risco de morte da criança durante a viagem, o problema é tão grave em Curuçá que não foi enviado nenhum profissional da área de saúde com capacidade para realizar qualquer procedimento que a criança precisasse, como determina o SUS nesses casos. Quem trocou a garrafa de oxigênio durante a viagem foi o motorista da ambulância, Davi Borges, que apesar de não ser da área se considera preparado para o procedimento. Ele disse que uma enfermeira estava de carona na ambulância, mas quando chegaram a Belém ela foi direto para a casa de sua família.
Outro caso - Ao lado da ambulância de Curuçá, uma ambulância de Santo Antônio do Tauá mantinha uma criança de 27 dias também sem atendimento na porta da Santa Casa. Com problema respiratório agudo, o bebê Ismael Vale de Oliveira Neto estava pela segunda noite ali para ser atendido. A mãe dele, Maria Deiane de Souza Lima, 19, contou que na quarta feira, 11, ela e o pai da criança, Sidmar Costa de Oliveira, ficaram de 21h de quarta até 4h de quinta-feira, 12, no sereno, tentando leito na Santa Casa, nos dois prontos-socorros de Belém e em vários hospitais da capital, em vão.
Ontem, voltaram para tentar mais uma vez. 'A gente precisa descobrir e tratar urgente o que ele tem, eles pensam que é brincadeira?', reclamou. A criança respira com muita dificuldade e foi sedada no hospital do município para viajar em uma ambulância também sem nenhum profissional de saúde, sem oxigênio, no meio de duas macas de madeira e um pneu socorro totalmente soltos, o que também coloca em risco o transporte de pacientes. A equipe de reportagem foi impedida de ir até a recepção da Santa Casa. A única informação é de que o hospital não poderia receber os bebês e não havia ninguém para falar sobre a morte do bebê prematuro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Desrespeito a dignidade da pessoa humana, omissão de socorro, desprezo pelo sofrimento da população carente. ESTA É A NOVA SANTA CASA. E só se PEDE INTERVENÇÃO POR DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.