No AMAZÔNIA:
A violência pode ser prejudicial ao sistema de saúde pública. Prova disso é que no bairro do Distrito Industrial, no município de Ananindeua, o medo tomou conta dos médicos e enfermeiros da unidade de saúde local. Ao invés de salvar vidas, os servidores se preocupam agora em manter-se vivos em meio à criminalidade.
Nos últimos três meses, dos 3.700 atendimentos realizados no hospital, 810 foram de vítimas de baleamento e esfaqueamento. Ou seja, nove atendimentos de alta complexidade por dia. Uma situação que culminou este ano com a revolta da população, após um criminoso morrer no local.
Em setembro deste ano, 20 homens invadiram a unidade e quebraram tudo que viram pela frente, além de ameaçar e perseguir todos os funcionários que estavam no local na madrugada do dia 14. O motivo do ato de selvageria foi a morte de um criminoso da área, após ter sido baleado. Apesar de o homem ter chegado sem vida na unidade de saúde, eles culparam os médicos pelo seu falecimento.
O episódio deixou traumas. Durante a semana seguinte a depredação, nenhum médico apareceu para o atendimento na área. Muito abalados psicologicamente, eles não tinham mais condições de trabalhar no lugar onde poderiam ser mortos a qualquer hora. O caso teve repercussão nacional. E hoje, mesmo após a reforma da unidade de saúde, muita coisa não mudou. A insegurança continua fazendo parte da rotina dos médicos, enfermeiros e, principalmente, da vizinhança.
Segundo Dora Cunha, coordenadora do pólo de Ananindeua da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), a área precisa urgente de uma intervenção do poder público para que as políticas sociais sejam efetivadas. Para isso, Estado e município têm que caminhar juntos. 'O principal motivo da criminalidade é o tráfico de drogas. Nós, já temos na região um programa para tratar pacientes vítimas de alcoolismo e da dependência química. No entanto, alguns agentes não podem entrar em determinadas áreas do bairro por causa da violência', disse.
Outro fator que causa violência no bairro, segundo Dora Cunha, são as constantes festas que acontecem no Distrito Industrial. É delas que sai grande parte dos atendimentos de alta complexidade da Unidade Municipal de Saúde. 'Quem também sofre com isso são os cofres públicos, já que o custo de um paciente desse é muito mais alto. Uma pessoa que foi baleada, por exemplo, fica muito mais tempo em tratamento no hospital, o que, consequentemente, é mais caro para o município', explicou.
Por causa disso, o hospital, muitas vezes, fica com vários leitos ocupados e os médicos são pressionados e ameaçados para fornecer um atendimento de qualidade com recursos mínimos. O que acaba, no final, virando um círculo vicioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário