No AMAZÔNIA:
Um dia após a morte de um bebê prematuro, por falta de atendimento, em frente à Santa Casa de Misericórdia do Pará, a direção do hospital se recusou a prestar esclarecimentos sobre o caso e a situação dos atendimentos na instituição, limitando-se a emitir uma nota à imprensa. Ontem de manhã a reportagem esteve na Santa Casa, mas foi impedida de entrar. A informação, prestada por uma recepcionista, era de que ninguém falaria sobre o assunto. O hospital se limitou a divulgar uma nota de esclarecimento, onde alega não possuir atendimento de urgência e emergência para atender recém-nascidos.
Sobre o falecimento do bebê, a nota emitida pela direção da Santa Casa informa que 'a criança que foi a óbito na portaria do hospital tinha estado de saúde grave e era prematura extrema, tendo nascido aos seis meses e veio transportada de forma inadequada, sem suporte suficiente de oxigênio'. O bebê saiu do município de Curuçá, a 140 km de Belém, com duas garrafas pequenas de oxigênio, quando finalmente recebeu a terceira, da Santa Casa, mas ainda dentro da ambulância, já havia falecido. De acordo com a nota, 'o recém nascido também foi levado ao hospital sem nenhum encaminhamento e não pôde ser internado na instituição porque o setor de neonatologia da Santa Casa já comportava 115 crianças, oito a mais que a capacidade instalada que é de 107 leitos'.
A instituição nada informou sobre o outro bebê, Ismael Vale de Oliveira Neto, de 27 dias, que tinha dificuldades para respirar e também não foi atendido na Santa Casa também na noite de anteontem. A família da criança viajou de Santo Antônio do Tauá até Belém porque no município, como na maioria das cidades do interior do Estado, a rede pública de saúde não oferece condições para fazer atendimentos de urgência e emergência. Segundo a mãe, Maria Deiane de Souza Lima, 19 anos, a família estava em busca de atendimento na capital há dois dias e já havia 'batido na porta' de vários hospitais.
Repúdio - Segundo o Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa), estão faltando médicos no plantão da Santa Casa de Misericórdia. Wilson Machado, diretor do Sindmepa e médico do hospital, informou, ontem de manhã, que vários médicos deixaram de fazer plantões extras, necessários para cumprir a carência de pessoal da Santa Casa, porque não houve acordo com a direção da instituição sobre os valores dessas 'horas a mais'.
Machado, em nome do Sindicato, repudiou mais essa morte por falta de atendimento na rede de saúde pública. 'É lamentável que uma criança morra na porta de um hospital', disse. 'Precisamos de políticas para ampliar a rede de atendimento de urgência e emergência. Enquanto essas providências não forem tomadas, cenas desse tipo continuarão se repetindo'.
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