segunda-feira, 11 de abril de 2016

Nem todo sertanejo é um forte


ISMAEL MORAES – Advogado (@ismaeladvogado)

Há 10 anos defendi os interesses do comerciante Francisco Chapadinha (na imagem, com a presidente Dilma) em um caso cível no Tribunal de Justiça do Pará. Os adversários no processo, além de assistidos por um talentoso advogado, faziam parte de uma poderosa família tradicional de Santarém, cujos tentáculos influíam no Poder Judiciário desde o fórum local até a alta cúpula, tornando difícil o êxito. Ele sabia disso, mas a sua determinação em lutar era contagiante.
Na tribuna, aos desembargadores narrei o percurso difícil de retirante nordestino que, sem inflexão de caráter, dignificou a riqueza que amealhara com o trabalho diuturno e honesto. Citei Euclides da Cunha para atribuir ao meu constituinte a mesma fibra inspiradora da máxima “Todo sertanejo é um forte!”, de utilização clássica quando se quer realçar a resistência não só física como moral dos homens daquela região árida.
Fazendo parte da Câmara Cível do Tribunal, o desembargador Geraldo Lima, nordestino de nascimento e sempre afeto aos oprimidos, foi ao delírio e chamou para si a causa. Divergiu do voto adverso da relatora, e, com o voto vencedor, nos deu a vitória naquele caso que, até aquele dia, considerava-se perdido para o perseverante arigó.
Eis que Chapadinha resolveu candidatar-se a deputado federal, elegendo-se contra tudo e todos, contando apenas com a irresistível simpatia de sua simplicidade e, claro, com os recursos financeiros de empresário bem sucedido. Até hoje não sei se a sua plataforma política é o desenvolvimento da região com melhorias fiscais aos comerciantes, se é a aplicação de recursos para a instalação de projetos econômicos ou se ficara apenas no discurso assistencialista que vi na campanha eleitoral de televisão.
O certo é que Chapadinha detém um mandato popular sem estar obrigado a rezar na cartilha de qualquer grupo político ou econômico porque foi eleito no corpo a corpo, por mérito e, claro, dinheiro próprios.
Mas tão certo quanto isso conferia independência e respeito absoluto ao deputado federal Chapadinha, contra quem ninguém poderia acusar de uso de dinheiro público para qualquer fim, a divulgação recente de que negociara seu voto no processo de impeachment levou-o à vala comum dos políticos profissionais, e permitirá, no futuro, mesmo que de forma injusta, imputar-lhe a aquisição de patrimônio, manter-se no poder ou qualquer outra forma de improbidade com o uso de recursos públicos.
E isso ainda pode ainda piorar com o agravamento da situação econômica e social no caso de a presidente Dilma não ser cassada, porque todos em Santarém ficaram sabendo que a Superintendência do Incra foi entregue ao deputado federal Chapadinha para votar nesse sentido.
Além de Chapadinha não possuir intimidade com o setor fundiário, seja como empresário, sindicalista ou agricultor ("o que ele fará com esse belo cavalo de Troia?"), agrava o fato de que o Incra, a par de ser uma das mais conturbadas autarquias federais em qualquer lugar, em Santarém se notabilizou por levar à cadeia todos os recentes superintendentes, acumulando um passivo administrativo difícil de debelar a médio, quiçá a longo prazo.
Ao aceitar esse “mimo”, que mais parece uma armadilha, Chapadinha foi seduzido pelas veleidades do poder. Deixou-se levar por uma tentação à toa, infelizmente demonstrando que “Nem todo sertanejo é um forte”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma coisa que eu aprendi. O cliente às vezes omite determinadas coisas ao causídico. Nunca confie plenamente nele, no cliente.