segunda-feira, 4 de abril de 2016

Entusiasmo e prazer da boa leitura



Desde a mais tenra idade, tinha - ou achava que tinha -, uma ideia bastante clara acerca das façanhas do que algumas pessoas tinham produzido. Aqueles heróis que conduziam nosso raciocínio em direção a uma vitória, contra tudo e contra todos. Essas pessoas eram os autores de livros, esses mesmos impressos, que muitos acreditam estar com os dias contados. Esses guerreiros dominam com maestria a arte da escrita, nos brindam com ensaios, contos, reflexões, experiências de vida e escrita e alguns poemas que ilustram sua visão sobre o que somos e o que deveríamos ser. Ler e escrever nos faz lembrar de que estamos vivos e de que isso é uma dádiva e um privilégio. E mais, é sobreviver. Qualquer arte, qualquer bom trabalho naturalmente é isso.
Quem escreve tem entusiasmo, prazer, curiosidade. Essas são as qualidades que todo escritor deve cultivar, assim como o espirito de aventura. No livro exuberante, "O Zen e a arte da escrita" o incomparável Ray Bradbury compartilha sua sabedoria, experiência e estímulo de uma vida de escritor. São dicas sobre a arte da escrita dadas por um mestre do ofício. Um livro que reúne tudo. Bradbury é um autor fecundo de romances, contos, roteiros de filmes e peças de teatro. Esse livro é mais do que um simples manual para o aspirante a escritor, é uma celebração do ato da escrita, que vai encantar, exaltar e inspirar o escritor em você. O romance "Fahrenheit 451", que o consagrou mundialmente, foi lançado em 1953 e filmado em 1966 por François Truffaut.
Segundo um profeta profissional, um fenômeno para breve é o desaparecimento do livro. Portanto, a questão é saber se a evaporação definitiva do livro, se ele de fato vier a desaparecer, pode ter consequências, para a humanidade, análogas às da escassez prevista da água, por exemplo, ou de um petróleo inacessível. Umberto Eco disse: O livro irá desaparecer em virtude do surgimento da internet? Escrevi sobre o assunto na época, no momento em que a questão parecia pertinente. Agora, sempre que me pedem para eu me pronunciar, não faço senão reescrever o mesmo texto. A propósito, o computador depende de eletricidade e não pode ser lido em uma banheira, tampouco deitado na cama. Logo, o livro se apresenta como uma ferramenta mais flexível.
Criado numa tradicional família judaica no bairro do Bom Fim, Porto Alegre, Moacyr Scliar parecia destinado ao ofício de escrever, consequência direta de ter sido educado em um ambiente povoado por histórias na infância. Influenciado pela mãe, Sara, que lhe trazia livros de bibliotecas públicas, "mico", como era chamado por amigos e familiares, cresceu cercado de narrativas orais e escritas. É de se perguntar: Como nasce um artista (neste caso, da palavra)? Fazendo um paralelo a esse nascimento, ele também abraça a ciência de Hipócrates, a mais vital e humana das ciências? Pois este homem, escritor e médico, que pergunta e responde - com imensa curiosidade, com frequente humor, com tocante generosidade sobre os destinos da arte e do mundo que ele retrata no livro "O texto, ou: a Vida". É autor de uma fecunda obra - mais de 70 livros - e de uma trajetória como poucos no Brasil. Um dos primeiros contos que Scliar escreveu foi "Joel Ia Voando", texto inédito do escritor, publicado com exclusividade por ISTOÉ. Ele teria sido escrito por volta de 1970, segundo Marie-Hélène Parret Passos, responsável pelo acervo de Scliar. Tinha grande preocupação política, aliada a uma intensa pesquisa, que sempre permeou sua obra.
Alguns dos meus livros foi indicação de um grande amigo, o jornalista e professor Antonio Carlos Pimentel Junior, o Tonga. Recentemente, lançou seu primeiro livro: "Papo de jornalismo. Os quês e o porquê".  Talentoso, escreveu o livro pensando nos seus alunos e nos estudantes das Comunicações, não se trata de um manual, mas é uma contribuição importante para pensar o momento atual, quando os clarins anunciam o fim do jornalismo. O livro além de lembrar suas andanças, mostra sua experiência de 28 anos na profissão. Uma leitura agradável que nos proporciona bons momentos.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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