terça-feira, 29 de setembro de 2015

Festa de arromba


São Paulo, a metrópole mais importante do País, continua totalmente impotente quando uma ação orquestrada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), constituída por elementos de alta periculosidade, completou 22 anos, com pompa e circunstância e com cada vez mais tentáculos. A organização está mais fortalecida e mais estruturada, utilizando-se de tecnologia de ponta. O estouro do PCC já reverbera em toda São Paulo e também em todos os Estados da federação. O mago, ou vilão transformador costuma ser a tecnologia, força capaz de desestruturar e abalar as forças dos serviços da Inteligência do governo paulista.
E, não é de agora, eles vêm anunciando pelas trombetas dos arautos do fim do mundo, que são superiores às precariedades da Polícia Militar de São Paulo. Eles fingem-se de mortos ou a força publica paulista faz que não vê? Os profetas do admirável fim do mundo advogam que com as novas tecnologias turbinam a criatividade e escancaram o trabalho do PCC conduzido por mentes pervertidas a serviço do mal. O governo paulista proíbe a menção ao PCC e acha que com isso fará a facção desaparecer. Quanta ingenuidade! Quem não se lembra dos filmes e da série de livros infanto-juvenis Harry Potter, os bruxos bons acreditavam que não mencionar o nome do vilão Lorde Voldemort bastaria para mantê-los seguros. Mas Voldemort continuava lá, mesmo sem ser nomeado.
Os membros integrantes do PCC celebraram em 31 de agosto passado o aniversário da facção. A festa foi na Penitenciária Feminina de Sant’Ana, zona norte da capital paulista, foi regada a cocaína, muita maconha e cachaça. Tudo gravado em celulares usados dentro da unidade. Recentemente, foi exibido pela mídia, um vídeo mostrando um pavilhão de dois andares, com cerca de 200 detentas em festa sem nenhum agente prisional. Cada presa tem direito a cheirar uma parte da droga, que estava disposta sobre uma bandeja onde se lê “PCC 1533 22 anos”. Na quarta-feira, 2, outro vídeo expôs o Departamento de Narcóticos da Polícia Civil, responsável por combater o tráfico no estado. Nas imagens, um anão go go boy faz um strip-tease diante de delegados e agentes durante uma comemoração do aniversário de uma escrivã. Vexame total.
Enquanto a polícia de repressão passa vergonha, o PCC está mais organizado do que nunca. O organograma do PCC lembra aquele de uma empresa. Em formato piramidal, as principais lideranças ocupam postos conhecidos como “sintonias”. A cabeça da organização é chefiada pela “Sintonia Fina Geral”, composta de sentenciados considerados fundadores da organização criminosa, e pelo líder máximo, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. O líder do PCC costuma ordenar crimes sem imprimir suas digitais.
As penas somadas dos líderes passam dos 500 anos de cadeia, entre as “sintonias” mais importantes destacam-se a do “financeiro”. Aqui, só os com alto grau de confiança da cúpula. A arrecadação vem do tráfico das ruas, do que é comercializado nas cadeias. É o chamado Progresso 100%. Nas penitenciarias, uma parte deve ser encaminhada à organização. Quem está fora do sistema prisional é obrigado a cooperar com A Cebola (caixinha mensal) e deve arrecadar 650 reais de cada integrante solto. Há também as rifas. Cada membro tem de passar 20 rifas ao custo de 30 reais cada. A cada dois meses são sorteados apartamentos, casas, veículos (carros e motos). Quando não paga pode levar punição do integrante.
Para fazer parte, é necessária uma cerimônia de iniciação. Acredita-se que a ritualística tenha paralelo com aquela dos maçons. O “iniciado” tem que ter três padrinhos e passa a ser conhecido como irmão e a esposa ou companheira como cunhada. O PCC, estima-se, movimenta por ano 120 milhões de reais e mexe com muitos interesses. Na última crise com o Estado, em 2006, provocou 564 mortes. Segundo o depoimento de um delegado foi feito um acordo com Marcola e o governo para cessar os ataques. Os tucanos negam o acordo.

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SERGIO BARRA é médico e professor

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