quinta-feira, 14 de maio de 2015

Professores em greve resvalam para a violência e ilegitimidade



Vamos convencionar o seguinte, meus caros.
Professores, mestres, transmissores de conhecimentos, formadores - esses profissionais, tenham eles a denominação que tiverem, devem ser sempre espelhos de boa conduta, de bom comportamento, de moderações e comedimento.
Não é assim?
Ou foi sempre assim e não é mais?
Não é que professores sejam semideuses. Não é que estejam a um passo da perfeição.
Não é isso.
Mas desses profissionais se espera que estejam menos sujeitos a transgressões deploráveis, a desbordamentos intoleráveis de conduta, a exacerbações que deslizam para o ilícito.
Desses profissionais esperamos que sejam mais resistentes a adotar condutas agressivas, capazes de descredenciá-los e desacreditá-los.
Pois olhem nas imagens acima.
Elas exibem nua e cruamente a transgressão deplorável, o desbordamento intolerável de conduta, a exacerbação que deslizou para o ilícito.
Essas imagens exibem demonstrações estarrecedoras de agressividade explícita.
Os protagonistas dessas cenas espantosas, injustificáveis e agressivas são professores em greve, quando invadiram e depredaram as instalações de um prédio público, o Centro Integrado de Governo (CIG), no bairro de Nazaré, na última terça-feira.
Sabem de uma coisa? Nós, os espectadores assustados e estarrecidos com essas cenas; nós, que sempre respeitamos a docência como uma missão das mais edificantes; nós, que no passado nos levantávamos em reverência quando um professor entrava numa sala de aula, todos nós, enfim, queremos que os professores públicos tenham uma remuneração dez, 20, 50 vezes maior do que eles mesmos pleiteiam.
A sociedade, senão à unanimidade, mas pelo menos em sua grande, esmagadora maioria, apoia firmemente que o professor da rede pública do Pará tenha ótimas condições de trabalho.
Mas como admitir que o exercício de direitos - inclusive o de greve - seja deturpado e desvirtuado a tal ponto que seus titulares percam a legitimidade e passem a trafegar no terreno perigoso da transgressão, que, por ser transgressão, expõe-se a repressões legais emanadas, é claro, do Poder Judiciário?
Professores perderam a legitimidade quando meteram os pés no portão do CIG e o derrubaram.
Perderam a legitimidade quando liberaram as comportas da violência e enveredaram pelo caminho da truculência, a mesmíssima truculência que todos deploramos quando a polícia intervém em certas ocasiões.
Professores perderam a legitimidade quando confundiram o espaço público, o patrimônio público com uma terra de ninguém.
Professores tomados pela irracionalidade perderam a legitimidade quando começou a faltar-lhes a noção de que o patrimônio público, justamente por ser de ninguém, precisa ser tão ou mais respeitado que o espaço privado.
Professores que cederam aos ímpetos da violência e da agressividade inconcebível perderam a legitimidade porque depredaram, invadiram e mantêm ocupado um local que não é só deles. É nosso, de todos nós.
E agora?
Depois que meteram os pés no portão de um patrimônio público e o invadiram, como é que os professores poderão voltar às salas e ensinar a seus alunos noções, princípios e valores que confiram prevalência à ordem, à moderação, ao comedimento e ao respeito ao direito dos outros?
Depois que queimaram uma ordem judicial (abaixo, nas fotos de Rodolfo Oliveira e Fernando Nobre, da Agência Pará), vazada em mandado de reintegração de posse expedido por juiz competente, intimando-os a desocupar o local, como é que os professores poderão ensinar a seus alunos que o Estado precisa valer-se de um Poder, no caso o Judiciário, como instância que se respalda nas leis para mediar conflitos e tentar assegurar o equilíbrio social?
"Não vamos mais esperar. Chega de esperar. [...] Desce. Desce daí e vem pro estacionamento negociar", ouve-se uma sindicalista - supomos que seja sindicalista - vociferar num carro-som.
Era isso mesmo que ela queria dizer - "desce daí e vem pro estacionamento negociar"?
Ou queria dizer, no fundo do fundão d'alma, "desce daí e vem pro estacionamento pra gente te trucidar?"
Há razoabilidade - a mínima razoabilidade - em pôr a faca nos dentes, calibrar o chute, afiar o verbo e partir para cima da parte contrária, exigindo-lhe que reabra negociações?
Quem negocia à base de chutes em portões que acabam derrubados? Quem negocia à base de ameaças, de ofensas propagadas a esmo, de invasões e depredações do patrimônio público?
O que dirão os professores - violentos, inconsequentes, agressivos e passíveis de responder por crimes -, quando voltarem às salas de aula e eventualmente depararem-se com alunos querendo arrebentar as portas porque foram contrariado por qualquer motivo?
Dirão os professores, numa eventualidade como essa, "não façam o que eu fiz no CIG?" Se assim o disserem, terão credenciais morais para dizê-lo, depois dos excessos que estão cometendo?
Por que professores não retomam condutas e práticas que poderão restaurar a legitimidade do movimento grevista que empreendem há mais de 40 dias?
Por quê?




7 comentários:

Anônimo disse...

Quebraram os portões! Quem pagará esse conta? Nós, os imbecis que não entramos com uma ação popular contra esse sindicato, pois é imoral receber sem trabalhar.

Anônimo disse...

Reparem os óculos de grife e os tênis de marca do "líder" sindical...

Anônimo disse...

Você deveria ser menos imparcial. Analisar sem paixão. Com certeza seus filhos não estudam em escola pública. Se você um dia estudou deve ter sido em época distante. Pra quem viaja e conhece outros continentes sabe que educação de qualidade é a única saida. Como o blog é seu você é livre pra escrever o que acha ou não acha.

Anônimo disse...

O problema é que se quer tudo de graça, e isto não existe, porque alguém sempre tem de pagar a conta.
E ai sobre para quem paga imposto DIRETO, porque quem só paga tributo INDIRETO, como a esmagadora maioria da população, não sabe o quanto custa tirar dinheiro do bolso.
E ai quebram.. porque não lhes sai diretamente do bolso

Anônimo disse...

O certo mesmo é ficar do lado de fora gritando por meio de microfones sem que ninguém se digne a receber os professores dentro do CIG. "Tá serto", afinal os governantes estão trabalhando e os professores, vagabundos, não.

Anônimo disse...

Anônimo das 14/5/15 11:53, notória sua indignação com o que o pôster escreveu, mas discordo de suas colocações. Perceba que a postagem trata-se também do exemplar esperado de um educador, pois, como bem disse: "educação de qualidade é a única saída". Então, imagina como serão os alunos que se espelham em seus mestres?

Anônimo disse...

Reposição de aula é pura hipocrisia, encher linguiça, balela pra turista ver e aplaudir!