segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Oito fatores que ajudam a entender a vitória de Edmilson Rodrigues e a derrota do Delegado Federal Eguchi

Edmilson: mobilização da militância virtual e discurso para descontruir imagem de
que é um galo de briga podem explicar sua vitória para governar Belém pela terceira vez

Analistas de resultados eleitorais - os tecnicamente abalizados ou mesmo os especialistas em achismos - não conseguirão jamais, em tempo algum, libertar-do subjetivismo para apontar por que motivo fulano ganhou uma eleição ou por que razões sicrano não se saiu bem nas urnas.

Às vezes, as análises poderão até basear-se em números - como os de pesquisas segmentadas, por exemplo. Mas mesmo, assim os juízos serão meio precários porque, repita-se, impregnados do incontornável subjetivismo.

Por isso é que análises não são nem corretas, nem erradas. Em última análise, análises não passam de um exercício intelectual para tentarmos comprender os fatos que possivelmente - possivelmente, repito - concorreram para a vitória ou para a derrota deste ou daquele candidato.

Então, Edmilson ganhou por quê?

E Eguchi, perdeu por quê?

Analisemos oito fatores que possivelmente concorreram para a vitória de um e, consequentemente, a derrota de outro.

1. Edmilson soube, sobretudo na reta final da campanha, insistir bastante em sua experiência como gestor de Belém por oito ano como um atributo básico que o credenciaria para um novo mandato. Com isso, reforçou a ideia de que não valeria a pena os eleitores exporem-se a riscos elegendo alguém como Eguchi, que nunca administrou nem um boteco de esquina (e olhem que boteco dá trabalho à beça para administrar, viu, gente? Às vezes, dá mais trabalho de administrar do que um País inteirinho).

2. Eguchi, como lembrou esta manhã mensagem de um leitor do Espaço Aberto,que priva das relações do candidato do Patriota -, "pagou pela própria língua": falou demais sobre temas que não domina.

3. Ao apresentar propostas mirabolantes - como tamponar canais e construir um prédio de 20 andares no centro de Belém -, o candidato do Patriota atraiu a rejeição de eleitores mais conservadores, que ainda esperavam ouvir dele explicações mais convincentes, em vez de abordagens marcadas por um empirismo muitas vezes tosco, sem consistência alguma, caricato e ridículo.

4. Boa parte do eleitorado de centro enfastiou-se com o discurso monótono, monocórdio e monotemático de Eguchi, de combater a corrupção. Porque a corrupção é, sim, um mal. Um tremendo mal. Mas não é o único dos males a corroer a eficácia com que deve se conduzir a administração de uma metrópole como Belém.

5. Em vez de agregar apoios de boa parte do eleitorado mais conservador, Eguchi espantou-o quando polarizou seu discurso sobretudo nos últimos dias da campanha, apresentando-se como uma espécie de Bolsonaro ao Tucupi, invocando de forma equivocada, e com aparência de fanatismo, certos valores morais e religiosos como indispensáveis para um gestor sair-se bem como prefeito de uma cidade.

6. Edmilson, muito embora demonstrando falta de frieza e racionalidade diante das estocadas do adversário, acusando-o de atos de corrupção quando governou Belém de 1997 a 2004, conseguiu compensar essa fragilidade fazendo colar em Eguchi a pecha de propagador contumaz de fake news, de um mentiroso compulsivo capaz de fazer qualquer coisa para ganhar a eleição.

7. Edmilson, e por extensão os partidos de esquerda que apoiaram sua candidatura, soube mobilizar sua militância - a profissional ou orgânica, digamos assim, e a militância voluntária - para atuar intensamente nas redes sociais, neutralizando assim a força que a campanha adversária vinha fazendo nesse ambiente desde o primeiro turno.

8. Ainda que sem transmitir tanto convencimento, Edmilson chegou à fase final da campanha caprichando de forma bem mais enfática no discurso para desconstruir a imagem que dele sempre fizeram os adversários: a de um galo de briga (como mencionou José Priante em sua campanha), a de um político irascível, rancoroso, raivoso, radical e intolerante politicamente. Nesse sentido, se não chegou a transmitir a certeza de que já é um Edmilson Paz e Amor, no mínimo indicou que poderá vir a sê-lo.

Esses, reitere-se, são fatores que, na análise do Espaço Aberto, podem ter concorrido para o resultado final destas eleições. E como são fatores subjetivos, você, certamente, terá oito discordâncias. Ou seriam 800?

Discorde, pois.

ATUALIZAÇÃO ÀS 17H:

Como se disse na postagem, às oito razões expostas pelo blog, você, certamente, terá outras oito - ou 800.

Há pouco, leitor assíduo do Espaço Aberto mandou mais três, a seguir:

1- Eguchi fez aquela fala desastrosa de que quem recebe auxílio é vagabundo. Se não disse ou foi montagem, então o marketing do candidato do Patriota deveria ter reagido imediatamente para desfazer essa versão. 

2- Juntou-se a políticos no segundo turno , como os vereadores Fabrício e Mauro Freitas , além da Mary, vice do Thiago, todos com o DNA do prefeito Zenaldo Coutinho. E deixou que o Edmilson carimbasse o apoio do prefeito a ele, Eguchi, ainda reafirmando que aceitava apoio de quem quer que fosse . 

3- Não atacou o Edmilson no ponto mais fraco: o PT, partido de Edilson Moura, vice na chapa do candidato psolista.

3 comentários:

Anônimo disse...

A vitória do ex e agora futuro prefeito gerou dois episódios no mínimo constrangedores. O primeiro a imensa e desnecessária aglomeração convocada para S. Brás, com batucada de escola de samba e tudo. Isso em uma campanha que pregava medidas de combate a pandemia e acusava o candidato adversário de mninimizá-las. O segundo foi uma denúncia, feita pela vereadora eleita Bia Caminha, do PT, que acusou em redes sociais seguranças da campanha de a terem expulsado quando da entrevista coletiva pós anúncio do resultado, à mando de uma irmã do futuro prefeito. Para a imagem do "Ed paz e amor" que Edmilson cultivou na campanha, imaginarmos brutamontes expulsando uma mulher que atuou na campanha a mando de outra já é bizarro . O fato de a que deu a ordem de expulsão ser a irmã do prefeito é ainda mais preocupante, pois faz lembrar que no governo anterior Edmilson nomeou uma irmã Secretária de Planejamento e outra presidente da Comissão Central de Licitações da prefeitura, o que lhe rendeu críticas e certamente colaborou com o desgaste que o fez perder duas eleições seguidas, vencendo esta última por pouco, contra um candidato neófito e de ultradireita. Parece que o futuro governo começou metendo o pé esquerdo na jaca. Esperemos que melhore a partir de 1º de janeiro.

NÉLIO PALHETA disse...

/Diria que outra razão da derrota (necesária) do Eguci, que apelidei de "Embus(t)she" foi acreditar que, para gerir o município, basta caçar corruptos. E que a prefeitura é uma delegacia.
Ora, esse é o mundo de um delegado de polícia. Logo, as ideias como candidato ficaram entre o caricato, o embuste, o patético e o estapafúrdio.
Ainda bem que a maioria percebeu que Belém teria um péssimo prefeito caso o delegado fosse eleito, a exemplo do que acontece com o Brasil, governador pela inspiração de delgados, capitães, generais, cabos, sargentos (não exatamente nessa ordem de patentes) que se meteram nesta eleição.
Aliás, Bolsonaro entrará na eleição de 2022 com o primeiro turno já perdido, conforme os resultados das eleições encerradas neste dia 29 de novembro de 2020.

Anônimo disse...

O Eguchi é um candidato que obteve votos da chamada "votos de negação". Esses políticos não aceitam essa definição e acham que possuem um eleitorado enorme. Começam logo a pensar em Senado, Governo do Estado. É o efeito jeferson Lima, igualzinho e que hoje não consegue se eleger nem como vereador. A tendência é o esquecimento de Eguchi pelo eleitorado. Faltou o principal - humildade - não basta alardear: sou delegado da polícia federal classe especial, a Interpol até hoje está me esperando, por causa de minha inteligência e experiência. Estou esnobando esse convite.