O jornalista Celivaldo Carneiro morreu no início da madrugada desta terça-feira (03), em Santarém, vítima de Covid-19. Paciente de alto risco, por ser diabético, ele lutava havia cerca de dua semanas contra a doença e estava internado na UTI do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA). A morte foi confirmada em matéria publicada no Portal Jeso Carneiro, de seu irmão Jeso.
A morte de Celivaldo desperta-me uma aguda consternação, não apenas por sermos velhos companheiros de jornalismo, convivência profissional iniciada ainda nos anos 1980, quando fui chefe de reportagem de O LIBERAL, e prolongada por muitos anos mais, quando eu, já editor, travava quase diariamente contatos com ele, que atuava como correspondente do jornal na região oeste do Pará.
Antes dessa fase em que nossas trajetórias se cruzaram a uma distância de dimensões amazônicas, forçando-nos a contatos por telefone ou e-mail, ele em Santarém, eu em Belém, Celivaldo já era um amigo de infância.
Nossa amizade nasceu na década de 1960, quando eu, ainda moleque, e Celivaldo, já ingressando na adolescência, formávamos na molecada que se juntava quase diariamente, todas as noites, quando eu visitava, com minha família, a casa de meus avós paternos naquela área que os mais antigos de Santarém conheciam como Caisinho - trecho da orla da cidade (hoje uma parte da Avenida Tapajós), nas imediações do Bar Mascote, umas das referências da Pérola do Tapajós.
O Caisinho era caisinho porque dali, daquele pequenos cais, partiam e chegavam, às dezenas, os barcos que faziam linha pelos rios Tapajós e Amazonas. A casa de meus avós ficava a uns 100 metros, se tanto, da casa onde residia a família Carneiro, à frente seu Osvaldo e dona Célia (sempre na lida em seu Mercadinho Abaeté), pais de Celivaldo, Eládio, Jeso e outros filhos.
A partir do final dos anos 1970, quando vim embora para Belém, pouquíssimas vezes - pouquíssimas mesmo, uma três ou quatro, contadas nos dedos -, encontrei-me com Celivaldo, nas minhas idas a Santarém. Mas esses encontros, embora rápidos, foram sempre prazerosos e cheios de gratas recordações.
Não bastasse o enorme sentimento de perda que a morte de Celivaldo Carneiro desperta, ainda temos as circunstâncias de ter sido em decorrência dessa doença tão horrível e letal, mas que, apesar disso, infla o fanatismo de negacionistas e os estimula a continuarem disseminando mentiras e reproduzindo práticas inconcebíveis e inadmitidas por autoridades sanitárias.
Quem sabe a morte de Celivaldo pela Covid-19 - mais uma, entre as mais de 160 mil já ocorridas no Brasil - seja uma centelha capaz de tornar menos cruéis e mais sensíveis e férteis à racionalidade esses segmentos dominados por um obscurantismo atroz, terrível, desumano e irracional. Um obscurantismo selvagem, enfim.
Externo os mais sinceros sentimentos de pesar a todos os familiares de Celivaldo, sobretudo sua esposa, seus dois filhos e uma neta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário