segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Em meio à tragédia, a malandragem política corre solta



O Jornal Nacional da Globo, de sábado à noite, mostrou duas imagens emblemáticas.
Emblemáticas e chocantes.
Emblemáticas, chocantes e comoventes.
Numa delas, a médica de um hospital contava à repórter, aos prantos, o esforço que os profissionais de Saúde têm feito para minimizar o sofrimento das vítimas da tragédia no Rio.
Quando parou de falar à repórter, limpou o rosto banhado em lágrimas.
Na outra imagem, aparecia um carro de som - antigo, maltratado, rodado à beça - que salvou centenas de vidas em Areal, uma cidadezinha da região serrana.
Como salvou?
Salvou berrando em alto em bom som, pela cidade, que a enchente nas cabeceiras, na nascente de um rio fatalmente colocaria em risco os moradores de algumas áreas da cidade.
Rapidamente, centenas de pessoas saíram de suas casas para abrigar-se em local mais seguro, atendendo aos apelos da prefeitura.
Por que isso tudo é emblemático?
Porque mostra que o Poder Público, quando quer, torna útil até um carro de som velho para proteger as pessoas.
Por que isso tudo é chocante?
Porque se pensa nas consequências de omissões. Que consequências? As mais de 600 mortes e os milhares de desabrigados em várias cidades da região serrana do Rio.
Por que isso tudo é comovente?
Porque as mortes são decorrência da crueldade, da malandragem política.
Da criminosa malandragem política.
Em meio à tragédia no Rio, podem apostar, criminosos estão à solta.
Os criminosos, no caso, são aqueles que se omitem despudoramente de fazer o que devem para ganhar votos.
Afinal, digam aí? Vocês já tiveram conhecimento de algum prefeito dessas cidades que num dia qualquer de verão, sol a pino, foi a uma dessas áreas que ficam nas encostas de morro para dizer que dali a 30, 40, 60 dias todos seriam removidos de lá, nem que fosse necessário usar a força?
Provavelmente, não.
É porque um prefeito que fizer isso vai, certamente, perder votos.
Mas ele, o prefeito, e políticos de um modo geral, sabem como fazer malandramente, criminosamente para ganhar uns votinhos.
Basta esperar que uma tragédia como essa ocorra.
Ocorrendo a tragédia, ele, o prefeito, na companhia do governador e quantas mais otoridades existam, vai às areas atingidas, chora, derrama as suas lagrimazinhas, presta a sua solidariedade e começa a liberar verbas para, segundo se diz, recuperar as áreas atingidas.
Pronto.
Está resolvida a parada.
Otoridades de todos os níveis acabam se saindo bem.
Muito bem.
Acabam passando por altruístas, benemerentes, generososos.
Acabam se tornando o repositório do melhor espírito público.
Putz!
Que coisa impressionante!
No Brasil, até nas tragédias prolifera a malandragem política.
Aliás, nas tragédias é que a verdadeira malandragem se mostra com todos os seus perfis, com todas as suas faces.
Inclusive a sua face mais criminosa.
Céus!

Um comentário:

Anônimo disse...

Fosse um País sério e o prefeito e todos os vereadores dessas cidades renunciariam de vergonha.
Mas nem vergonha na cara tem esse pessoal!