No AMAZÔNIA:
A pressão da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) contra os governos estadual e federal continua. Depois de ocuparem a sede do Instituto de Terras do Pará (Iterpa) na semana passada, mais de 800 trabalhadores montaram acampamento no Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ontem de manhã. Eles são dos municípios de Barcarena, Moju e Tailândia e reivindicam a reintegração de posse de oito áreas na região, de onde foram retirados há cinco dias. A determinação da coordenação da Fetraf é que ninguém entre na sede, nem mesmo os servidores. A expectativa é que até o final do dia de hoje cerca de 1.200 manifestantes estejam no local.
Sem terem para onde ir, os trabalhadores já informaram que só vão desocupar a sede do Incra caso sejam remanejados para outras terras. Alguns viviam nas comunidades de Santa Maria I, II, III, Belo Horizonte II, Canaã III, Chumbo Grosso, Jesus de Nazaré e Cristo Rei há mais de cinco anos. E tiravam da terra o sustento da família com o plantio de arroz, feijão, mandioca, entre outros produtos.
De acordo com o diretor da Fetraf, Raimundo Nonato de Souza, todos eles, menos os da comunidade Chumbo Grosso, foram despejados a mando do Tribunal de Justiça do Estado sem aviso prévio. Ao todo, 2.206 famílias estão sem ter onde morar. Para piorar, os trabalhadores que moravam em Tailândia, nordeste do Estado, tiveram as casas e a plantação queimadas pela Polícia Federal, segundo Raimundo de Souza. 'Nós não somos criminosos para sermos tratados desta forma. A situação dessas famílias é muito triste. Eles não têm para onde correr', disse.
As terras, de acordo com a federação, pertencem à União. E o impasse com o governo do Estado com a reintegração de posse se dá pelo fato de os documentos de algumas áreas estarem com a titulação falsificada. Apesar disso, Raimundo de Souza acredita que os trabalhadores têm direito às terras por produzirem no local.
Ônibus - Cerca de 10 ônibus trouxeram os mais de 800 trabalhadores que estão acampados na área externa da sede do Incra. Há crianças, jovens e adultos. Cada um recebeu 2 metros de lona para fazer barracas e alguns estão instalados em redes nos corredores. Um forno foi improvisado com tijolos para o preparo das refeições, que vão ser feitas com arroz, feijão, carne e peixe.
Segundo um grupo de Tailândia, que não quis ser identificado, todos estão com medo de voltar para o município depois da ação da PF. 'Vivemos cercados de violência naquela região. Todo mundo anda armado e temos medo, pois por estarmos reivindicando terras que poderiam ser de fazendeiros, eles pode nos matar', disse um deles.
Além disso, os trabalhadores informaram que alguns saíram da cidade com apenas a roupa do corpo. 'Passamos por um momento muito difícil e não vamos deixar isso barato. Não nos deram nem o direito de pegar nossas coisas', ressaltou.
O trabalhador rural Faustino Silva, da comunidade Jesus de Nazaré, em Barcarena, disse que só conseguiu trazer um terçado e a enxada. E que se sente revoltado por ter perdido seu meio de sobrevivência, que é a terra. 'Todos fomos pegos de surpresa. Não esperava que isso fosse acontecer de uma forma tão rápida e injusta. Agora, estou sem rumo', disse.
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