sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Um dia sem carro, topas?


Entre tantas efemérides comemorativas, umas mais outras menos importantes para a Pátria, a indústria ou o comércio, teremos na segunda-feira, 22, o Dia Mundial sem Carro. A idéia - como não poderia deixar de ser - surgiu no Primeiro Mundo, mais precisamente no eixo conhecido como circuito Elizabeth Arden (Roma/Paris/Londres/Washington), nos anos 70, no auge da crise do petróleo.
A data "festiva" foi oficialmente instituída no ano 2000, mas só chegou ao Brasil em 2001, quando 11 cidades brasileiras, incluindo Belém, aderiram a essa comemoração.
A campanha deste ano tem um mote altamente sugestivo: "Por um transporte público melhor, por menos poluição, por menos engarrafamentos, por mais respeito ao pedestre, por mais ciclovias, por mais cidadania e segurança no trânsito."
Maravilha!
Em São Paulo, incorporando (no bom sentido) o espírito do evento, as equipes de jornalismo da TV Cultura irão cobrir o acontecimento usando bicicletas. Eis a prática de um jornalismo ecologicamente correto. Beleza pura!
No Rio, que tem uma frota de 1 milhão de veículos, a prefeitura irá promover eventos para incentivar a população a deixar o carro na garagem e andar, de preferência, de bicicleta nas ciclovias ou a pé... .
Consta que, em Belém, a prefeitura também irá conclamar a população a deixar o carro na garagem e andar de bicicleta ou a pé... Passeios ciclísticos estão programados, com farta distribuição de panfletos informativos sobre as vantagens do transporte "limpo", no caso a bicicleta. O Zé Carlos deve estar eufórico com o evento e, com certeza, deverá comparecer com sua reluzente Bike. Aliás, a turma do Partido Verde promete verdejante participação, com bandeiras verdes substituindo as famosas bandeiras vermelhas, um tanto raras hoje no cenário urbano pré-eleitoral....
Ta" tudo muito bom, "tá" tudo muito bem... Mas uma pergunta não quer calar: como deixar o carro na garagem, em plena segunda-feira, quando as atividades normais estão "bombando", as escolas funcionando, o comércio e os bancos, idem, o trânsito congestionado e já quase intransitável?
Os ladrões, em plena atividade, também irão comemorar festivamente, com tanta gente "engomada" andando de bicicletas, no "ponto" para serem despojadas de seus pertences e da bicicleta - certamente, na base do "vai passando e não olha pra trás, senão vira presunto"...
O propósito da campanha é das mais louváveis. Mas, infelizmente, não mais condiz com a realidade caótica/neurótica dos grandes centros urbanos do Brasil, "entupidos" com a poluição visual/ ambiental/ sonora, "engessados" pelo trânsito que não transita e pela violência, que amedronta e neurotiza as pessoas, assustadas com a própria sombra.
O modelo rodoviarista, que privilegia o automóvel, adotado equivocadamente no Brasil, por falta de estadistas "pós-Juscelino", faz o pano de fundo de toda essa tragédia urbana. Nem de bicicleta é mais possível transitar nessa selva urbana feroz e cruel em que nossas maiores cidades foram transformadas.
Apesar do apelo ecologicamente correto, infelizmente não poderei abandonar meu modesto carrinho, no Dia Mundial sem Carro, não só por não possuir mais bicicleta (a que tinha me foi roubada) como, também, por não dispor da alternativa de um transporte coletivo decente para o deslocamento trabalho/ casa/trabalho/colégio do filho/supermercado etc. e tal...
Por tudo isso é que defendo a mudança da capital do Pará para o litoral, mais precisamente para a "Ponta da Tijoca", com o sugestivo nome de "Nova Belém". Sei que o tema é polêmico, meio explosivo até, mas prometo explicar, na próxima sexta, se me concederem, ao menos, o beneplácito da dúvida, antes de ser sumariamente julgado e condenado...
A meu favor, devo dizer que amo Belém. Explico depois esse caso de amor mal resolvido.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista

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