domingo, 21 de setembro de 2008

Rotina de Belém já sofre as mudanças

No AMAZÔNIA:

Todo ano é a mesma coisa, basta dar uma volta por Belém. As casas ficam movimentadas, cheias de gente; as ruas, tomadas por uma série de enfeites, arcos e cartazes temáticos, sempre elaborados com meses de antecedência. A cidade fica de cara nova, mais colorida e alegre, quem vai chegando procura um lugar para, nela, se aconchegar - e isso não é tarefa fácil, já que são milhares de fiéis todos os anos, vindos dos quatro cantos do Brasil e até mesmo do mundo. Mesmo incorporada à rotina do belenense, a festividade do Círio de Nazaré ainda deixa o município em um clima de pura ansiedade: a três semanas da procissão principal, os preparativos estão a todo vapor.
Fazendo jus a uma tradição secular, as mudanças já começam dentro de casa. Uma das regras gerais do período do Círio é que a casa do belenense comece a sofrer pequenos ajustes, tanto para preparar uma homenagem 'personalizada' à Virgem, quanto para receber parentes que vêm de fora para prestigiar a festividade. A pedagoga Márcia Tupinambá, residente em Belém, é uma das que arruma a casa para o mês de outubro com pontualidade. Também pudera: a mãe dela, Nazaré Tupinambá, de 70 anos, mora no Rio de Janeiro há 40 e, desde então, sempre passa o período do Círio com a família toda reunida em Belém.
'No apartamento moramos eu e meus filhos Larissa (23 anos), Márcio (20) e Alberto (18), então deixamos tudo pronto para receber a mamãe com o maior conforto. Compramos as comidas que ela gosta, separamos um quarto, esvaziamos um armário inteiro. Ela vem para acompanhar a Trasladação, a procissão de domingo e o que mais der, é uma promesseira nata', brinca Márcia, que assume ser do tipo que comemora o Círio onde quer que seja. 'Quando morava em Fortaleza (CE), nossa família dava um jeito de entrar no clima de Círio. Conseguíamos fazer um almoço à moda paraense, com as comidas típicas e tudo. Acho que o importante é respeitar a festividade e celebrá-la com personalidade, seja onde for', comenta a pedagoga.
Mas não é apenas a familiares que o belenense dá abrigo quando o segundo domingo de outubro se aproxima: de uns tempos para cá, com o crescimento do número de romeiros que freqüentam Belém à época do Círio, oferecer um quarto a um amigo ou colega de trabalho tem se tornado uma prática cada vez mais comum. A produtora cultural paraense Deize Botelho, de 42 anos, passou boa parte da vida adulta longe da terra natal, morando em Goiás e Minas Gerais - desde o ano passado, no entanto, ela e os dois filhos moram em Belém e começaram a ver o Círio de perto, o que fez com que a idéia de hospedar alguns amigos parecesse natural.
'Minha formação é católica, mas nunca havia tido tempo de assistir toda a programação do Círio com os próprios olhos. A partir de agora, não só eu, mas quem mais estiver no meu círculo de amigos próximos, terá toda a oportunidade de ver esta festa linda de perto', comenta Deize, que, neste ano, prepara um quarto de seu apartamento para dois amigos de longa data: a arte-educadora gaúcha Manoela Souza e o dramaturgo e diretor galês Dan Baron. O apartamento de três quartos parece pouco, mas é suficiente. 'A gente fica meio apertado, mas é por uma boa causa', conta a produtora cultural.

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