O preconceito contra empregadas domésticas está tão arraigado na sociedade brasileira, que muitos o consideram normal. Tanto é que, das mais de 600 comunidades dedicadas a elas no site de relacionamento Orkut, a maioria contêm frases depreciativas. Entre os diversos exemplos, alguns como: "escondi um monte de roupa debaixo da cama dela, acharam que ela estava roubando e a mandaram embora"; "ela é lesa e varizenta"; "é uma nordestina ridícula"; e "são umas bastardas e seus filhos um bando de molóides". Além das ofensas verbais, elas também sofrem com uma carga pesada de trabalho, com os vínculos empregatícios precários e até com o assédio sexual.
Essas características não passaram despercebidas pela antropóloga Dora Porto nos quatro anos em que desenvolveu sua tese de doutorado na Universidade de Brasília (UnB). O curioso, para ela, é que a maioria das patroas nega a existência desse tipo de relação com as empregadas quando questionadas. "Eu comentava o resultado da pesquisa para conhecidos meus e a tendência natural era ouvir a defesa dos patrões, como o relato de roubos feitos por empregadas", lembra. Segundo ela, esses fatos isolados não são suficientes para justificar, por exemplo, o hábito de deixar a louça do fim de semana acumular para a empregada. Na sua opinião, um ato cruel. "Ninguém gosta de encontrar numa segunda-feira uma pilha de afazeres novos", justifica.
O estudo Bioética e qualidade de vida: As bases da pirâmide social no coração do Brasil, um estudo sobre a qualidade de vida, qualidade de saúde e qualidade de atenção à saúde de mulheres negras no Distrito Federal, defendido em dezembro de 2006, reuniu relatos sobre o padrão de vida de mulheres negras e pardas colhidos na periferia do DF.
As histórias fazem parte de uma realidade compartilhada pela maioria dessas mulheres, que fazem parte da base da pirâmide social brasileira. Como solução, ela sugere "deixar a hipocrisia de lado" e dar visibilidade para a situação. "É preciso estimular a resposta dos movimentos sociais e a criação de políticas públicas voltadas para as mulheres. Elas foram feridas por serem negras e pobres e precisam de políticas compensatórias".
POUCOS VÍNCULOS - Por não serem contempladas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), direitos como Fundo de Garantia (FGTS), seguro-desemprego, hora-extra, salário família e auxílio-acidente não lhes são assegurados. A precariedade dos vínculos empregatícios dá brecha para que sejam dispensadas logo que fiquem doentes. Por isso, muitas optam por não entregar aos patrões atestados médicos que prescrevam períodos de repouso muito longos e mantêm seus afazeres mesmo doentes. O medo da demissão também faz com que trabalhem à noite e em feriados ou outros dias de folga, mesmo sem pagamento adicional.
Como se não bastassem os problemas trabalhistas, o dia-a-dia da profissão afeta negativamente a auto-estima dessas mulheres. Só o fato de almoçarem depois dos patrões e em local separado já desperta o sentimento de diminuição. Isso se agrava ainda mais quando a experiência profissional acumulada ao longo dos anos é ignorada. É comum as patroas "ensinarem" para elas como deve ser feita a limpeza, mesmo quando suas funcionárias têm anos de vida profissional.
As mulheres também citam como exemplos do cotidiano casos de gritos, de grosserias e até mesmo de assédio sexual. Uma delas acabou pedindo demissão depois das constantes investidas do patrão. Mas o comportamento padrão é continuar na situação trabalhista insatisfatória por medo de não conseguir outro emprego.
Fonte: UnB Agência
2 comentários:
Excelente pauta. Tomarei a liberdade de colocar um link em meu blog, para que se chegue a esta postagem. Um abraço.
Olá, Yúdice.
Fique sempre à vontade.
Abs.
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