sábado, 2 de agosto de 2008

A nova revolução cultural

Na VEJA:

Para realizar o que pretende ser a mais perfeita, a mais cara e a mais inesquecível Olimpíada de todos os tempos, a China, literalmente, moveu montanhas. Fábricas foram transferidas e bairros inteiros, derrubados. Dezesseis centros esportivos brotaram do chão em prazo recorde, 87 quilômetros de trilhos de metrô foram estendidos e um exército de especialistas foi escalado para trabalhar dia e noite na hercúlea tarefa de limpar o ar de Pequim, cidade que registra 1 000 novos veículos por dia. Não contentes em submeter a capital do país a uma plástica que mudou suas feições, as autoridades empenharam-se em reformar também os pequineses. Além de conclamá-los a não cuspir nas ruas, não praguejar e mesmo a não pendurar roupas na sacada dos apartamentos, alguns distritos da capital (ela tem dezoito ao todo) chegaram a pedir aos aposentados que evitassem sair de casa para "dar mais lugar aos visitantes". Em poucos países campanhas como essas seriam recebidas com a naturalidade com que foram na China. Além da relação peculiar que os chineses têm com as autoridades, ajuda a explicar a adesão aos mandamentos o fato de o país estar ansioso por integrar-se ao mundo – rompendo, assim, com a tradição isolacionista que o regime comunista só acentuou. É isso que a Olimpíada representa para os chineses: um bilhete de entrada na sociedade moderna e, sobretudo, o reconhecimento do desenvolvimento de uma nação que, a despeito de toda a sua grandeza histórica, permanecia invisível antes da guinada econômica de trinta anos atrás.

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