sábado, 2 de agosto de 2008

O drama do transplante de órgãos


Na ÉPOCA:

Uma das principais criações da medicina mundial nas últimas décadas, os transplantes são uma glória nacional desde 1968, quando o professor Euriclydes de Jesus Zerbini instalou um coração no peito de um boiadeiro internado no Hospital das Clínicas, em São Paulo – o que fez do Brasil o terceiro país do mundo a realizar uma cirurgia dessa natureza. Há vários anos o Hospital do Rim, em São Paulo, acumula a condição de mais ativa unidade de transplantes do mundo em sua especialidade. Pelo tamanho de sua população, o Brasil realiza um grande número de transplantes por ano – perto de 15 mil –, o que lhe permite, pela quantidade, ocupar um dos primeiros lugares do mundo na especialidade. Em termos relativos, a situação é menos animadora. A quantidade de cirurgias realizadas no país é incompatível com as necessidades da população e as esperanças de prolongamento da vida que os avanços da medicina têm condições de oferecer. Estima-se que, todos os anos, seja realizada, no Brasil, apenas a metade do número de transplantes de córnea necessários. A situação é mais grave no caso de rim, um terço, e ainda pior para os pacientes de fígado, um quarto. Os transplantes de coração equivalem a menos de 5% do que seria preciso. As filas de espera crescem tanto que, dependendo do órgão, 10%, às vezes até 30%, dos pacientes morrem antes de ir para a sala de cirurgia.
A prisão do médico Joaquim Ribeiro Filho e o indiciamento de outros cirurgiões, suspeitos de atuar num esquema de venda de fígados que deveriam ser oferecidos de graça a quem se encontrava no lugar certo da fila, no Rio de Janeiro (leia a reportagem), ajudam a entender o drama dos transplantes no Brasil. É um universo formado por momentos de sacrifício e generosidade, determinação e vontade de viver, mas também incompetência, grotescas falhas de gestão e desperdício. Numa situação assim, a existência de dificuldades abre espaço para os vendedores de facilidades.

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