quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Medo provoca invasão

No AMAZÔNIA:

Cansados de pagar impostos e conviver com falta de água, de iluminação pública, saneamento básico e segurança, os moradores das ruas Manoel de Oliveira e Júlia Cordeiro, no bairro Águas Brancas, em Ananindeua, resolveram invadir um terreno abandonado do antigo Ipasep, próximo das ruas, em protesto. Há quatro dias os ocupantes limpam o terreno e afirmam que devem iniciar as construções em mais ou menos um mês. Um dos objetivos dos moradores é tomar o terreno para evitar que os bandidos, supostamente vindos da invasão Carlos Marighela, se escondam nas matas da área abandonada para se aproveitar da população.
O vigilante André Palheta, 38 anos, conta que nos 10 anos morando na Manoel Oliveira, viu vários crimes e a decadência da rua. 'Aqui é horrível. Já vi tudo de ruim. Esse mato do terreno então serve como rota de fuga para bandidos. Como a iluminação pública não funciona, eles aproveitam a escuridão e assaltam quem passa. A partir de 19h, ninguém mais quer andar na rua', reclama. 'Vamos invadir esse terreno antes que os bandidos tomem conta', completa.
André diz ainda que não suporta mais viver sem as condições mínimas de saneamento. 'Com a falta de esgotos e valas bem feitos, quando chove as ruas ficam completamente alagadas. Tem de ter uma canoa ou muita coragem para encarar a água que dá no meio das pernas', ironiza. 'No final de 2007, a prefeitura trouxe máquinas, rasgou a rua para colocar tubulação, cavou umas valas muito malfeitas, botou marcadores de água na casa de todo o mundo e prometeu fornecimento. Todo esse serviço foi ruim. E a água, há mais de meses, só do céu e de tarde, que é quando chove. Essa invasão é nossa forma de protesto', critica André.
Sabendo das dificuldades de morar numa invasão, o ambulante Luiz Pereira, de 41 anos, diz que não vai estranhar viver sem os serviços mais básicos de saneamento básico e urbanismo. 'Estou pronto para aceitar o desafio de viver sem água, luz e esgoto. Já não temos mesmo. Pelo menos vamos assustar mais os bandidos antes que eles ganhem o terreno da gente', adianta.
Devido ao perigo pela falta de iluminação das ruas, que favorece a ação de bandidos, a dona-de-casa Eugênia Ferreira, de 48 anos, perdeu o filho, Luiz Guilherme, de 24 anos, no dia 10 de agosto. 'Meu filho foi assassinado nas matas desse terreno. Não sei de nada sobre como meu filho morreu. Como a insegurança é tão grande nas ruas, vou construir uma casa aqui e começar uma vida nova. Não quero mais ficar na minha casa. Não vou ter nem água e nem esgoto, mas não tenho na minha casa atual mesmo', desabafa.

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