Cerca de 50 jovens - a maioria predominantemente jovens – interromperam ontem uma palestra durante o Congresso Estadual dos Jornalistas, no Hangar – Centro de Convenções, para protagonizar o que chamaram de “manifestação”, de “protesto”, de “ato de repúdio” ou seja já o que for.
Pois seja lá o que tiver sido, não passou mesmo é de uma grosseria. Uma inominável grosseria, com fortes pitadas de incivilidade política.
Os protagonistas da grosseria podem anotar em seus currículos que certa vez, num certo dia 2 de agosto, permitiram-se entrar num recinto sem ser convidados para interromper aos berros, aos gritos um evento estranho, absolutamente estranho a entidades às quais dizem pertencer.
E além da interrupção, ainda demonstraram uma hostilidade tão acentuada que a palestrante viu-se forçada, até mesmo por cautela, a se retirar da mesa na qual iniciara sua palestra, para não se ver exposta a crescentes grosserias que poderiam atingir conseqüências imprevisíveis.
Estão enganados os protagonistas dessas grosserias se pensam que conseguiram atingir – como dizem que pretendiam atingir – a Rede Globo ou quaisquer outros veículos de comunicação.
A Rede Globo e quaisquer outros veículos de comunicação vão continuar como estão. Manterão suas linhas editoriais. Não vão mudar uma vírgula que seja na postura política e nos princípios que elegeram como convenientes apenas porque um grupo de grosseiros fez o que fez.
As cenas de grosseria, portanto, atingiram apenas os jornalistas, pessoas físicas, profissionais que estavam num evento discutindo assuntos de interesse da sua profissão. Jornalistas que, por serem profissionais, profissionalmente devem fidelidade às empresas nas quais trabalham, muito embora tenham o direito de, eventualmente, discordar ou dissentir da linha adotada pelos veículos que os empregam.
As cenas de grosseria atingiram jornalistas que estavam discutindo temas de interesse da profissão. Discutiam porque, muito embora sejam profissionais que devem fidelidade às empresas, precisam refletir sobre o papel que eles, jornalistas, exercem. Precisam refletir sobre a importância de identificar a fronteira muitas vezes conflituosa entre princípios editoriais bem definidos e concepções de ordem pessoal dos jornalistas que trabalham em qualquer veículo de comunicação.
Jornalistas devem ser, até mesmo por ofício, afeiçoados ao contraditório, à divergência, ao confronto de idéias, às diferenças e críticas. Certamente, tolerariam sem grande esforço que participantes do evento, ainda que não convidados, expusessem publicamente suas críticas. Mas que o fizessem civilizadamente.
Não foi o que aconteceu. Infelizmente, não foi.
E os manifestantes – em verdade, protagonistas de grosserias –, que bagunçaram um evento para proclamar suas repulsas contra o que chamam de “criminalização dos movimentos sociais” pela Imprensa, apenas ofereceram uma forte contribuição para reforçar estigmas.
Não é desta forma que movimentos sociais, sejam lá quais forem, vão alcançar a legitimidade que dizem possuir e que pretendem, além disso, ver reconhecida. Ao contrário, vão sempre transmitir sustos, apreensões, medos e rejeições.
Como reagiriam, como haveriam de se conduzir os jovens intimoratos de movimentos estudantis e os integrantes de movimentos sociais como a Via Campesina e o MST se jornalistas, advogados, professores, taxistas, feirantes, médicos, enfim, se profissionais de qualquer categoria invadissem o recinto onde eles faziam um evento para interrompê-lo de forma acintosa e grosseira? Como reagiriam?
Se a “criminalização dos movimentos sociais” é um mal, a incivilidade política, a intolerância, a grosseria e a truculência também são perniciosos à convivência democrática. Aliás, são perniciosos à convivência social, às relação sociais em qualquer nível. Até dentro de casa, quanto mais em público.
Enquanto todos não se derem conta disso, grosserias continuarão a ocorrer.
E sempre estarão travestidas de atos políticos. Mas nunca passarão, em verdade, de grosserias.
Ofensivas, como são todas as grosserias.
7 comentários:
Paulo,
democracia, contraditório e boa educação - principalmente esta - são conceitos pequeno-burgueses. Rimam com polainas, ar refrigerado e cabelos penteados.
Este tipo de "manifestante" (na realidade, um bando de gente grosseira, você tem toda razão), que se julga acima do bem e do mal e para quem os fins justificam os meios, nunca vai respeitá-los.
É isso, Francisco.
Aonde chegamos? E aonde vamos parar?
Abs.
Mano, aproveito para compartilhar a nota do Sinjor. Abs, Cláudia
NOTA PÚBLICA
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará considera inoportuna a ação de integrantes de alguns movimentos sociais que, no final da manhã de hoje, ocuparam a sala onde se realizavam as discussões do segundo dia do VI Congresso Estadual dos Jornalistas, no Hangar Centro de Convenções.
O alvo do protesto seria a Rede Globo segundo faixas e panfletos distribuídos com a assinatura do MST, Via Campesina, Fórum em Defesa das Rádios Comunitárias, Consulta Popular, Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos/Pará, Kizomba, Marcha Mundial de Mulheres e Centro Acadêmico de Direito da UFPA. Lamentamos que a ocupação tenha ocorrido num espaço público onde trabalhadores discutiam desafios, avanços e melhorias para a classe dos jornalistas. Mesmo surpreendia e discordando da forma, a diretoria do Sinjor-PA atuou para impedir qualquer repressão à manifestação no local do evento.
É preciso deixar claro que não somos contra protestos, desde que ocorram em locais apropriados. No caso em questão, um movimento desrespeitou o outro. Trabalhadores agrediram outros trabalhadores.
É importante destacar também que todos os palestrantes e representantes das mesas eram trabalhadores e membros da academia. Além da presença de uma profissional da Rede Globo, foi garantida a participação de trabalhadores de vários veículos de comunicação do Estado, como consta na programação do evento.
Lamentamos o desrespeito ao evento e a agressão sofrida a uma trabalhadora e nos solidarizamos à convidada, Lúcia Leão, que foi impedida de se manifestar.
É preciso deixar claro ainda que jamais nos oporíamos ou vetaríamos a participação de qualquer movimento social num evento dessa importância, que discutiu o jornalismo no Pará e no Brasil. Mas acreditamos que as manifestações deveriam ter sido feitas respeitando os participantes inscritos, a coordenação do evento e o perfil do mesmo.
A participação dos movimentos sociais no evento foi garantida no congresso. O SINJOR e o movimento sindical “NOS JORNALISTAS”, que está à frente das últimas duas gestões do Sindicato, mantêm o compromisso histórico, que também é um compromisso nacional, da luta em defesa da democracia na comunicação.
Democracia é sinônimo de respeito, TOLERÂNCIA e reconhecimento da diversidade e da pluralidade de opiniões.
DIRETORIA DO SINJOR-PA E FENAJ
Grato, Claudinha.
Vou divulgar amanhã, com destaque.
Abs.
Boa noite, caro Paulo:
a cada dia me asusto mais com o verso que encima a minha "travessia":
"... se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?..." - Garcia Lorca.
Um abraço.
Boa noite, Bia.
E, realmente, não há tocha capaz de iluminar a escuridão da intolerância e da incivilidade.
Infelizmente.
Abs.
Foi tudo isso ou é mais uma arma contra os já execrados movimentos sociais? Pela reação dos comentaristas parece que os grosseiros sujaram as polainas dos educadíssimos, que coisa feia! Queria ver mesma reação imediata contra as mortes de trabalhadores rurais, mas essas não sujam as polainas dos mauricinhos, né?
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