terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O puxadinho das Onze Janelas e o bolsonarismo político em estágio inicial do governo Helder Barbalho


Fatos.
Apenas os fatos.
Se o governo do Estado – do governador Helder Barbalho aos seus subalternos de primeiro, segundo e 14º escalões – cingir-se aos fatos, talvez contribua significativamente para que se travem discussões das mais proveitosas sobre intervenções no patrimônio histórico de Belém e do Pará.
Do contrário, cairemos num maniqueísmo tormentoso que outra consequência não terá senão a de abrir a espaço para que as predisposições políticas contaminem o debate e o desvirtuem lamentavelmente.
Há cerca de uma semana, uma polêmica rola nas redes sociais com o mesmo estrondo de uma pororoca (ainda que seja uma daquelas menores, como as São Domingos do Capim).
Para os leitores do Espaço Aberto que ainda não estão inteirados do assunto, informe-se que a polêmica refere-se à construção de um puxadinho (tecnicamente, uma estrutura metálica) numa área interna da Casa das 11 Janelas, sob a justificativa de que isso é necessário pra proteger da chuva os frequentadores de um restaurante recém-inaugurado, a Casa do Saulo.
Houve uma grita geral – justa e pertinente, convenhamos – de que a estrutura descaracteriza, desfigura e agride a harmonia arquitetônica do espaço, que, lembremos, localiza-se na Cidade Velha, um bairro com trocentos imóveis tombados.
Aos fatos, pois.
Clique aqui e veja, você mesmo, todos os passos do Processo nº 01492.000340/2018-46 que tramitou na Superintendência do Iphan, em Belém.
Tudo começou com um requerimento protocolado pela Secult em 29 de agosto do ano passado, portanto ainda sob a gestão anterior, do tucano Simão Jatene.
Vejam abaixo a imagem do requerimento. E observem que não se menciona, no documento, o acréscimo de nenhum puxadinho.


O processo andou até que houve a primeira manifestação do governo Helder Barbalho. Em 19 de junho de 2019, um requerimento protocolado pela Secult pedia ao Iphan, explicitamente, autorização para se acrescentar uma “cobertura metálica e vidro na área onde funciona a varanda do restaurante [Casa do Saulo].”.
Veja abaixo uma imagem do documento.


 No dia 30 de setembro, o Iphan, através do Parecer Técnico nº 104/2019, disse que não se opunha ao projeto da Secult, já incluindo a construção do puxadinho, porque “as intervenções apresentadas não implicam em mutilação, impedimento ou redução de visibilidade do bem tombado.”
E a conclusão contém uma detalhe importantíssimo. É preciso ainda conhecer-se o posicionamento da Fumbel, uma vez que o imóvel também está sob proteção municipal, conforme se lê no trecho destacado em vermelho, na imagem que aparece abaixo.


Em 1º de outubro, manifestando-se sobre o Parecer Técnico nº 104/2019, a coordenadora técnica substituta do Iphan, Denise Rosário de Carvalho, autorizou a Secult a executar a obra.
Pronto.
Esses são os fatos.
E os fatos apontam o seguinte.
O governo Helder Barbalho, por meio da Secult ou de que órgão for, tem razão quando alega que as intervenções na Casa das 11 Janelas foram precedidas da audiência e autorização de um dos órgãos competentes para apreciá-las, no caso o Iphan.
Mas o governo Helder Barbalho, por meio da Secult ou de que órgão for, não tem razão ao pretender partidarizar esse debate, achando que somente há duas catigurias de seres humanos na face da Terra: os que são a favor do governo Helder Barbalho e os outros – todos tucanos (supostamente ressentidos, recalcados e incapazes de absorver o destronamento do poder, ocorrido em outubro do ano passado), petistas, psolistas etc.
Quando tenta construir seu próprio mundo imaginando que existem apenas essas duas categorias de humanos, o governo Helder Barbalho incorre numa espécie de bolsonarismo político, que se resume naquela máxima do quem não está comigo está ‘contramigo’.
Esse bolsolnarismo político é perigosíssimo, todos sabemos disso. Quando agudizado à enésima potência, leva fanáticos a sustentarem até mesmo que a Terra é plana.
Por isso, é bom evitarmos essa deformação ideológica que não é curável nem com remédio tarja preta, diga-se logo.
Se acha que todos os que estão questionando a construção desse puxadinho - ainda que o Iphan tenha autorizado – são tucanos despeitados, o governo Helder Barbalho põe no mesmo saco de seu bolsonarismo político instituições respeitadas como a Associação Cidade Velha - Cidade Viva, que também se insurge contra o puxadinho nas Onze Janelas.
A entidade foi reconhecida como de utilidade pública para o município de Belém com base na Lei nº 9368, de 23 de abril de 2018.
Da mesma forma, a Associação dos Amigos do Patrimônio de Belém pede o embargo da obra.
Alguém acha que essas entidades são uma espécie de puxadinhos tucanos só pra implicar com o governo Helder Barbalho?
Será mesmo isso?
Alto lá, campeões!
Defender o patrimônio histórico não é tarefa de governos – tucanos, petistas, emedebistas, psolistas ou outros quaisquer.
É tarefa, é obrigação de todos os cidadãos e de todas as instâncias e entidades que se proponham a tal.
Todos, portanto, têm legitimidade para participar desse debate. E não devem, por isso, ter seus propósitos desqualificados.
Sobretudo quando a desqualificação pode ser – eu disse pode ser – sintoma de um bolsonarismo político em estágio inicial.

Um comentário:

Pedro do Fusca disse...

É o que dá preencher cargos para pagar acordos políticos com pessoas que não tem o mínimo compromisso com nada, a não ser passar na tesouraria e receber seus vencimentos. O IPHAN não tem moral para nada pois sua antiga sede na Governador José Malcher um belo prédio que antes era ocupado pelo Comando da Aeronáutica que foi restaurado a pouco tempo esta em ruínas e abandonado mostrando qual tipo de dirigentes tem lá. Como dirigente que não cuida da sede de onde trabalha pode cuidar de outros patrimônios que não lhe pertencem? Será que este Saulo é parente do Governador ou amigo para com seu prestigio descaracterizam um prédio histórico, para aumentar o faturamento desta casa de pasto? Uma vergonha!