quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Barcelona não é um time. É um fenômeno.



E o Barça, hein?
Esse não é um time.
É um fenômeno.
Um fenômeno completamente explicável, mas, de qualquer forma, um fenômeno.
Curiosas são algumas reações - antes e depois do baile que o Barcelona deu no Santos.
Nove dias antes do jogo, Muricy Ramalho, o técnico turrão do Santos e, sem dúvida, um treinador competente e vitorioso, disse o seguinte durante entrevista coletiva:

- O Guardiola se mostra vitorioso, um dos melhores do mundo, pois alcança resultados. Agora, trabalhar na Europa é mais tranquilo. Para mim, eles só vão ganhar uma nota 10 quando forem ao Brasil, disputarem um Brasileirão e ganhar. Lá, eles trabalham com os melhores jogadores, têm dinheiro e tempo para planejar. No Brasil, o cara pode ser líder do campeonato. Se não ganhar no fim de semana, é ameaçado de demissão.

Muricy, parece, já estava, àquela altura, sentindo o cheiro da peia e queria, por antecipação, se justificar.
Tentando justificar-se, disse uma besteira.
Ora, é certo que o Barcelona tem alguns dos melhores jogadores do mundo, tem dinheiro e estrutura.
Por isso mesmo, o técnico Guardiola é competente, porque conquista títulos ao treinar time que tem alguns dos melhores jogadores do mundo, tem dinheiro e estrutura.
Se não conquistasse títulos nessas condições é que Guardiola seria incompetente.
Mas o impressionante mesmo é a naturalidade com que o maior time do mundo - que já entrou para a galeria dos melhores de todos os tempos - ganha títulos.
Vocês viram a chegada do Barcelona a Barcelona?
Os catalães nem souberam, talvez, que o time estava de volta do Japão, após conquistar o título do Mundial de Clubes.
Não havia torcedores no aeroporto.
Não houve desfile em carro aberto.
Não houve fãzocas com gritos esganiçados.
Nada.
Absolutamente nada.
O Barcelona, maior time do mundo, foi ao Japão, conquistou mais um título, desta vez o de melhor do mundo, e voltou já pensando no próximo jogo.
O Barcelona e seus torcedores já estão acostumados com isso.
Já por aqui...
Por aqui, os coleguinhas começam a falar nesse negócio de repensar o futebol brasileiro.
Por que o repensamento?
Porque, da mesma forma que Muricy, chegaram à conclusão de que o Barcelona joga com com um esquema tático tipo 3-7-0. Ou seja, o Barcelona não tem atacantes fixos. Sete jogadores - Messi à frente - fazem a função de atacantes e, ao mesmo tempo, voltam para ajudar no setor defensivo.
Coleguinhas estão querendo mesmo o quê?
Que esse esquema passe a ser adotado até no Íbis, o pior time do mundo?
Hehehe.
O Barcelona joga assim porque pode jogar. Porque tem qualidade individual e coletiva.
E vejam: assim que esse time começar a se desmontar, vai voltar para os velhos, surrados 4-3-3 ou 3-5-2.
Porque um fenômeno é um fenômeno.
No futebol, eles não se repetem a cada dois anos.
E não se reproduzem apenas em decorrência de esquemas táticos.
Lembram da Laranja Mecânica, como era chamada a Seleção da Holanda de 1974, aquela que tinha Johan Cruyff como o seu Messi?
Pois é.
Quando apareceu, de 1974 pra cá, uma seleção como aquele carrosel, em que quase todos atacavam e todos defendiam?
Não apareceu mais.
A Seleção Brasileira de 1982, a melhor de todos os tempos, que tinha Telê como treinador, e a própria Seleção da Espanha, campeã da Copa da 2010, lembravam mais ou menos - muitíssimo mais ou menos - a Seleção da Holanda de 1974. Mas não se equivalem a ela, evidentemente.
Então, respirem fundo.
Dificilmente haverá outro Barcelona daqui a 30 anos.
E o Barcelona, este atual, não vai ser assim sempre, não é?

2 comentários:

Francisco Sidou disse...

Caro PB,
Como de hábito, você foi no ponto. "A Balada de Yokohama" também deve servir de lição para alguns coleguinhas da imprensa esportiva, que precisam conter seu deslumbramento ao eudeusarem certos talentos jovens do futebol brasileiro, como Neymar e Ganso, que acabam ficando deslumbrados achando que podem resolver a "parada" com um lance genial. A aula de futebol da Academia Barcelona ensina que futebol é um esporte coletivo, que ninguém ganha jogo sozinho. A lição deve ser absorvida tambem pelos treinadores brasileiros, adeptos ainda das estratégias do medo de perder, de esquemas táticos ultrapassadas, na base de posições definidas (3-3-2, 4-3-3 e outras variações )ainda utilizadas no futebol brasileiro, hoje em franca decadência. Repensar o futebol brasileiro não passa só pela mudanças nos esquemas táticos superados, mas, também,pela mudança de atitudes e de seus dirigentes, que se eternizam no poder, com os mesmos vícios de origem de uma gestão amadora e empírica. Com aquele joguinho da seleção do Mano na base de um passinho pra frente, outro pra trás, outro pros lados - não passaremos das quartas-de- finais na Copa do Mundo de 2014. Chega de deslumbramento! Aprender com quem sabe e ter paciência e humildade para aprender novas lições - é um princípio da sabedoria milenar dos chineses... Não por acaso a China caminha para ser em breve tempo a maior economia do planeta. Enquanto isso, nosso futebol só faz descer a ladeira no ranking da FIFA.

Anônimo disse...

Pois é poster. Sobre as loas da torcida. Aqui quem semeia essa situação é a própia imprensa esportiva. E na Europa (tirando a Inglesa), a torcida se porta como em um primeiro mundo. Aqui estamos no terceiro (pelo menso quanto ao esportivo). Uma bela lição de que a vitória por lá não deslumbra ninguém, a não ser os brasileiros que querem se perpetuar como os melhores do mundo no futebol: O masculino, é claro!! Quantos aos outros esportes brasileiros o poder público relega a um plano abaixo da tarra. Depois ficamos incomodados com aquela ilhinha chamada Cuba, que ganha de nós em várias modalidades esportivas e arrebata medalhas e maius medalhas.