quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Pará, terra sem lei. É ou não é?

Então é assim.
O WikiLeaks, agora com Julian Assange em liberdade, continua fazendo estragos.
Continua mostrando que a diplomacia, sempre cheia de dedos, cheia de rodeios verbais para se manifestar em público, não se poupa de ser clara, não se exime de abrir o verbo, de soltar o sarrafo quando em privado.
Documentos do WikiLeaks revelam, segundo a Folha de S.Paulo, que John Danilovich, ex-embaixador dos EUA no Brasil (2004-2005), afirmou em telegramas diplomáticos que o Pará se parece "com a imagem popular do Velho Oeste": "isolado, pouco povoado" e uma terra "sem lei".
A visão é expressa em relatos sobre a morte da missionária Dorothy Stang, americana naturalizada brasileira.
Olhem só.
Há gente meio contrariada por aqui.
A contrariedade, se dentro de certos limites, faz sentido.
Se descontrolada, não.
Porque o Pará, se geograficamente não é isolado, politicamente ainda o é.
E pior do que isso, ainda é tratado dentro dos sistemas, esquemas, padrões, parâmetros coloniais.
Que o Pará é pouco povoado, isso é estatístico, matemático, é mensurável numericamente. Não há, portanto, maiores divergências a respeito.
E quanto a ser o Pará uma terra sem lei?
Olhem só: o Pará, membro federativo, ente de uma Federação como diz-se que é a Federação Brasileira (putz!), se sustenta no mesmo arcabouço legal, se assenta nas mesmas milhares, milhões de leis que os demais Estados.
Mas que a lei no Pará, muitas vezes, é potoca, não há dúvida que é.
Quantas vezes, aqui no Pará, não temos a sensação de que não temos lei?
Então, se é assim, o ex-embaixador no Brasil não está tão errado no que disse in private.
Ou está?

Um comentário:

Jornalista disse...

Não, Paulo, não está, inclusive na comparação com o Faroeste, ou Velho Oeste, como quiseres. Brasília nos trata como Washington tratava o Texas. Quando a gente vê as concessões de mineração, não pode deixar de se lembrar das concessões das ferrovias americanas. Aliás, um filme bastante antigo, chamado "Abrindo Horizontes" (em inglês, Kansas Pacific) é um retrato fiel disso. Basta substituir os rostos...
O Embaixador está certo - só falta completar a carta com autocrítica...
Abraço, Ana Diniz