quinta-feira, 16 de junho de 2022

Bruno e André, dois brasileiros mortos em guerras diferentes

GLAUCO ALEXANDER LIMA
Jornalista, publicitário e caboclo da Amazônia

Recentemente o noticiário do Brasil está ocupado pelas informações sobre as mortes de dois brasileiros abatidos em guerras. O brasileiro André Hack Bahi e o brasileiro Bruno Araújo Pereira. André se ofereceu para lutar no exército Ucraniano contra a Rússia. Bruno Pereira lutava pelo Brasil contra um Brasil que não tolera o Brasil.
As motivações de André não são muito conhecidas. Talvez, na sua leitura de mundo, André se achasse um defensor dos mais fracos, um lutador contra injustiças e abusos. Bruno era uns dos maiores especialistas em povos indígenas que vivem em isolamento ou de recente contato com a chamada civilização. Bruno era do nordeste brasileiro, mas se apaixonou por tudo  que a Amazônia tem de mágico e decidiu defender com as armas do amor as nações que são as verdadeiras donas do território brasileiro e indispensáveis para a sobrevivência humana na Terra. Bruno lutava cantando pela vida dos humanos, todos humanos, inclusive os que querem o extermínio dos povos indígenas.
Pelo pouco que se sabe de André, era um homem fascinado pela guerra em si. A guerra pela guerra. André era ex-militar, chegou a se alistar para atuar na Legião Estrangeira Francesa. Bruno se alistou na Funai, a Fundação Nacional do Índio, o órgão indigenista oficial do Brasil, cuja missão é a proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas.
A ação da Funai tinha que ser orientada por princípios que asseguram as tradições indígenas, contribuindo, portanto, para o respeito à diversidade e consolidando o sistema constitucional, que reconhece o Estado brasileiro como pluriétnico.
Bruno fez dessa missão um propósito de vida. Uma decisão que o fez perder a vida e entrar para uma lista de assassinados pelo crime de amar a humanidade. André gostava e mostrar fotos com armas pesadas, trajes bélicos. A legião de André é formada por pessoas que topam ir para qualquer conflito no mundo, independente das causas e motivações. É o gostar da guerra pela guerra.
A história de André lembra um trecho daquela famosa canção: “... há soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão, nos quarteis lhes ensinam, antigas lições, de morrer pela pátria e viver sem razão...”.
André está morto. A família e os amigos de André choram. É preciso respeitar a morte de André, mesmo sem entender direito o que leva uma pessoa a se oferecer para morrer numa guerra que tem conexões muitos distantes ou até inexistentes com o voluntário.
A família de Bruno chora, os amigos e colegas de Bruno choram, os índios choram, os povos da floresta choram, o mundo humano que entende a missão de Bruno chora, todos se desesperam. Há no Brasil de hoje um líder nacional que, com suas falas, atos, sinais, omissões  e gestos truculentos, estimula um clima que empodera os que sentem vontade de bater em mulher, em derrubar ilegalmente árvores, que querem fazer garimpo nocivo e ilegal, que querem fazer pesca predatória, que acham indígena um estorvo, que  atacam gays, xingam gente preta, cultuam revolveres e fuzis, que querem espalhar mentiras sobre vacina, sobre a ciência. Bruno morreu na guerra.
A guerra de Bruno é nossa, uma guerra brasileira, sul-americana. Nossa legião é pequena diante dos interesses gigantes e mercenários que mataram Bruno. A gente espera que André descanse em paz. Nós que entendemos a tarefa de Bruno não podemos descansar.

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