Há certas situações que, convenhamos, desafiam a subjetividade e, mais do que isso, a capacidade individual de formular juízos sobre outras pessoas.
Vejam este caso envolvendo o ministro Ayres Britto (na foto), do Supremo Tribunal Federal.
Na última quarta-feira (16), a coluna Painel, de responsabilidade da jornalista Renata Lo Prete, da “Folha de S.Paulo”, publicou o seguinte:
Ataque… É enorme a pressão para que o ministro Carlos Ayres Britto mude o voto no caso Battisti, ajudando a formar no STF, nesta quarta, maioria favorável ao entendimento de que caberia ao presidente da República a decisão final sobre a extradição.
…especulativo. Desde a chegada ao Supremo, em 2003, Britto repete a colegas que deve sua indicação em boa medida ao jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, contratado pela defesa de Battisti especificamente para influenciar o pupilo.
Dois dias depois, quarta-feira (18), Ayres Britto, que votara a favor da extradição de Battisti, manteve o voto nesse sentido, mas também votou seguindo o entendimento de que a execução da medida era autorizativa, e não determinativa, ou seja, o presidente da República pode extraditar o italiano ou mantê-lo no Brasil.
E aí?
E aí, vejam só, há meio-Brasil, senão todo o Brasil, achando que Ayres Britto votou inspirado exatamente nos motivos adiantados pela nota.
Mas, olhem: se Ayres Britto tivesse votado no sentido de que a decisão do Supremo deveria obrigatoriamente ser obedecida pelo presidente Lula, ainda assim ouviríamos gente dizer que ele só fez isso para desmentir a nota da coluna Painel.
É mais ou menos assim.
Dois dias antes de um jogo entre o Íbis – o pior time do mundo – e o Manchester, sai uma nota em jornal dizendo que o Íbis subornou o Manchester para amolecer o jogo e perder.
No dia do partida, o Manchester perde mesmo.
“Ah, então a nota do jornal estava mesmo certa: o Manchester foi subornado”, é o que dirão muitos.
Mas vamos dizer que o Manchester ganhasse.
“Ah, a nota estava certa, sim. O Manchester só ganhou do Íbis para disfarçar, para dar a impressão de que não foi subornado. Mas que foi subornado, foi”, é o que o dirão muitos.
Entenderam?
O ministro Ayres Britto está nesta mesma situação.
É aquele caso: se ficar o Ayres pega, se correr o Ayres come.
É mais ou menos assim.
Ora, o ministro merece crédito.
Ninguém pode dizer que tem elementos para imputar-lhe motivações que não aquelas objetivas, colhidas do juízo que formou a compulsar os autos do caso Battisti.
É muito perigoso fazer certas ilações.
Muitíssimo perigoso.
Um comentário:
Olha só quem é a figura que o Lula não vai extraditar.
A Polícia Federal e a Procuradoria da República afirmaram, em documentos encaminhados à Justiça Federal, suspeitar que o italiano Cesare Battisti manteve no Brasil relação com terroristas, informa reportagem de Hudson Corrêa, publicada na Folha desta sexta-feira (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Condenado à prisão perpétua por quatro assassinatos na Itália, que requer sua extradição, Battisti recebeu do governo do Brasil em janeiro o status de refugiado político --benefício foi concedido pelo próprio ministro da Justiça, Tarso Genro. Nesta semana,teve a sua extradição autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas decisão final será do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os papéis, aos quais a Folha teve acesso, fazem parte da ação penal que Battisti responde desde 2007 na 2ª Vara Federal Criminal do Rio por uso de passaportes falsos.
"Investigações realizadas apontam para o possível envolvimento do italiano Cesare Battisti na prática de crimes ligados à internação irregular de estrangeiros [no Brasil] e ainda com atividades terroristas", afirmou o delegado Cléberson Alminhana, do setor de inteligência da PF, em correspondência à Justiça Federal do Rio no dia 9 de abril de 2007.
Segundo a reportagem, o advogado de Battisti diz que há mais de 30 anos ele não tem ligação com grupos radicais. Já a PF nega existência de relatório sobre terrorismo.
Leia a reportagem completa na Folha desta sexta-feira, que já está nas bancas.
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