Se a ONG internacional Rettet den Regenald se permite disponibilizar em seu site uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio da Silva contra a Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, a leitora Bia também se vê no direito de fazer a sua.
Leia aí embaixo a carta dela, que não se assina Bia, mas Alice no País das Maravilhas:
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Excelentíssimo Sr. Presidente Luiz Inácio da Silva:
Desde que o senhor era aspirante a dirigente sindical, eu admirava sua inteligência e vivacidade e felizes circunstâncias me permitiram acompanhar sua ascensão quando oposição sindical em São Bernardo e a vitória da sua chapa sobre a de Paulo Vidal, então sob suspeita de ser um dirigente sindical a serviço dos órgãos de repressão, dúvida que, ao que eu saiba, nunca se confirmou.
Daí pra frente, acompanhei - e pude ainda votar em V.Excia. como candidato ao Governo de São Paulo, em mil novecentos e nada (desculpe, mas estou com preguiça de precisar data) - e votei em no senhor todas as vezes que se candidatou a presidente da República, com uma única exceção, a bem da verdade: quando Mário Covas foi candidato, votei nele no primeiro turno e no senhor no segundo. Mas, não votei em 2006. Aliás, em 2006 nenhum candidato mereceu meu voto para presidente.
Em 2006, não votei em ninguém, porque seus quatro primeiros anos de governo foram suficientes para me mostrar que eu havia cometido um terrível engano. Porque, na verdade, eu não votei no senhor em 2002 para salvar o Brasil. Votei porque acreditava que seu governo seria capaz de começar a reequilibrar a terrível balança do desequilíbrio regional.
Em 2002, eu até fui a Brasília assistir à sua posse. Eu estava lá, no gramado, porque achei que a minha geração merecia aquela vitória. Esperei uns meses, aquele tempo que a gente espera porque sabe que não é fácil tomar as rédeas de um país com séculos de desvios éticos, morais, políticos, sociais. Para não aborrecer o senhor, não vou falar dos mensalões, cuecões, etc. e tal. que foram desanimadores nos quesitos ética, moral e política. Tá certo que o senhor não inventou a corrupção, mas que deu-lhe asas longas, lá isso deu! Mas, nos dois primeiros anos eu ainda apostava que sua eleição era o começo de um novo giro na roda do Brasil-que-faz para o Brasil-que-também-faz-muito,
O tempo passou e continuei esperando um sinal, por pequeno que fosse, de que o norte do Brasil deixaria de ser pano de fundo para discursos. Porém, a rota estava mantida. E continuamos fazendo do crescimento um caminho de sofrimento para três quartos do país. No nordeste, o Sr. mandou plantar mamona para o biodiesel e agora parece que a Ecodiesel virou uma vulgar "atravessadora", que coleta a mamona dos pequenos produtores e a revende à indústria química, enquanto produz diesel de soja,que é muito mais rentável.
Aqui, o senhor protege os interesses da Vale, de todas as formas. Permite até que o Incra, essa massa falida que se sustenta em cima da reforma agrária que nunca fez, cometa arbitrariedades a favor da empresa. Porque afinal o que a Vale faz, ninguém faz: enche a burra do Tesouro de divisas, tão necessárias para o senhor garantir o superávit primário à custa de um desenvolvimento sustentável. Isso sem falar na explosão de ganhos do sistema financeiro.
Pois, é. Eu não estou choramingando por Belo Monte ou Feio Monte. Eu estou aproveitando esta chance para lamentar que, com o Senhor, perdemos de vez o bonde da história.
Atenciosamente
Alice no País das Maravilhas
Um comentário:
Valeu, Alice!
Parabéns!
Você, eu e mais algumas dezenas de zilhões de brasileiros fomos "vítimas" dos tais governos da mudança, lá por cima e aqui pelo norte.
Deu no que deu: só migalhas nos sobram.
Dos governos e da dona Vale.
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