Do jornalista Jorge Herberth Ferreira para o blog, por e-mail
Educação e formação para servir à sociedade. Este sempre foi o pensamento da maioria dos estudantes da minha época. Nunca pensamos em sair da faculdade com uma bolsa de R$ 10 mil para uma pós-graduação. Tá bom, poderia ser para especialização de um ano. Aliás, muitos de nós nem conseguiram ganhar isso por mês até hoje. Alguns começaram ganhando três, quatro vezes este valor, mas somente se juntarmos os salários de todos os 12 meses de um ano com muito trabalho. Quem manda não ser sócio da medicina, não é mesmo! Alguém pensou nisso, não? Mas sempre pagamos o Imposto de Renda e contribuímos com o INSS que sustenta o SUS e a previdência para todos. Também nunca ouvimos, em décadas, dos profissionais do corporativismo, do partidarismo fisiológico e do oportunismo que queriam unidades básicas de saúde e hospitais "padrão Fifa". No SUS, a maioria das consultas dura cinco minutos e não pode passar de 16 pacientes. Mas no consultório e no plano de saúde, hoje também com enormes filas, vai-se a exaustão de pacientes – e tudo rápido que nem no SUS, mesmo que sejam planos constituídos por sócios da medicina. Por isso, muitos sempre deram às costas ao SUS.
Quando foi lançada a estratégia Saúde da Família, para tentar que o Brasil se aproximasse pelo menos do padrão de saúde pública de Cuba, muitos chiaram e poucos comprometidos, que existem, aceitaram fazer parte do programa. Mas muitos só iam ao interior do Pará dois, três dias na semana, mesmo ganhando pelo mês todo. Há plantões nos hospitais particulares – muito mais que os R$ 1 mil pelas 12 horas no SUS – e é preciso voltar à cidade para o jantar com amigos e para o show naquele clube famoso de grandes festas. Ou mesmo para passear de carrão novo que o SUS ajudou a pagar. Nada contra, afinal, o dinheiro pago por nós é seu. O problema é a forma e o sentimento com os quais eles são ganhos.
Em um rápido histórico, com o caos no SUS o sonho de todo formado até os anos 90 era montar um consultório. Com a ascensão dos planos de saúde, muitos conseguiram tê-los através das empresas onde trabalham. Com isso, os planos de saúde, quando não faliram com o dinheiro do consumidor ou mudaram de cidade, foram aos poucos esvaziando os consultórios, onde as consultas custavam e ainda custam o ‘olho da cara’ (R$ 150, R$ 200 até R$ 300, com especialistas raros). A saída para os ‘sócios’ foram as cooperativas, por onde pagam menos impostos, inclusive. E exigem contratos com o SUS muito benéficos para elas, mesmo que na hora da precisão não haja especialista nos PSMs, porque ele está operando em um hospital particular, de onde virá a remuneração para pagar as férias na Europa. Eu sei que o dinheiro é seu! Isso é ideologia! Não daquelas direita e esquerda, que muitos da "intelligentsia" dizem que não existem mais!
Mas planos de saúde e o SUS não remuneram tão bem assim. Qual a saída? Cobrar R$20 mil para ir ao interior do Brasil. Virou remuneração comum na Amazônia. E no Pará prática danosa às pobres prefeituras, obrigadas a esses contratos porque os salários da folha de pagamento não chegam a R$ 3 mil para outras profissões, imagina para essa preciosa e rara. Nada de sal em cada esquina, como disse o saudoso e raivoso prefeito de Belém, Hélio Gueiros. E com R$ 20 mil no interior, é preciso complementar a renda na capital com mais R$ 20 mil. No SUS ou no particular? Eu sei, a decisão e o dinheiro são seus. Mas a saúde é nossa, dos assalariados e do povo pobre, e somos nós que pagamos salários, bolsas, remédios, as estruturas boas ou ruins, os aparelhos quebrados e os consertos, unidades e psm’s onde, raras vezes ou nunca, vocês levaram seus filhos ou pais, mesmo que furando a fila da consulta, do atendimento ou da regulação TFD. Sugestivo isso: nós TFD. E quando pagam qualquer serviço ou medicamento por fora, podem recorrer à justiça, é a vossa justiça, para receber tudo de volta. Mas poucos querem retribuir, aos que pagam, os investimentos na educação que receberam nas escolas e universidades públicas. Se não querem o SUS, deixem para quem quer. Seria a lei natural. Nós só queremos médicos para não médicos, nada mais.
Não queremos médicos intocáveis. Queremos médicos, brasileiros ou estrangeiros - muitos que em pouco tempo até aprendem mais rapidamente o português, como estão sendo cobrados - nem vamos lembrar aqui nas desrespeitosas receitas dos sócios para leitura em Marte ou Plutão - e ainda a saborear o rico açaí, com peixe assado ou camarão, eterna refeição de quem tem o IDHM muito baixo, baixíssimo, abaixo de 0,500 e não tem um barco para ir à escola, não conhece a capital. Não tem nenhum sócio da medicina para lhe receitar, mesmo que inelegível, um elixir paregórico. Pensem nisso. Eu sei! Poucos pensam nisso! Mais médicos, sempre! Pediu meu velho pai.
Um comentário:
Não precisa obrigar médicos a nada. Basta ter hospitais públicos decentes e que paguem bons salários fixos (e não apenas por plantão!!!!). De resto é querer culpar quem não tem culpa (médicos).
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