Do Consultor Jurídico
A entrevista do professor Celso Antonio Bandeira de Mello à ConJur teve algo de premonitório. Era quinta-feira, 19 de julho, e na manhã seguinte o mundo despertou com a notícia estarrecedora do rapaz que invadiu uma sala de cinema em Aurora, no Colorado (EUA), armado com rifle, espingarda e revólver, e abriu fogo contra a plateia, deixando 12 mortos e dezenas de feridos na sessão de estreia do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.
Na tentativa de explicar a tragédia, os analistas, como sempre acontece nessas ocasiões, apontavam a violência dos filmes e a divulgação sensacionalista dos crimes de sangue pelos meios de comunicação. Era o que dizia Bandeira de Mello horas antes do massacre para justificar sua defesa da censura na TV. “Enquanto existir televisão e não for permitida a censura, nós vamos ter a continuidade dessa violência e as crianças vão assistir violência”, disse o advogado, um tanto constrangido e receoso pelo impacto da declaração. O respiro, afirma, é a internet, que permite encontrar diversas abordagens sobre o mesmo assunto. “Não preciso ficar escravizado pelo que diz a chamada 'grande imprensa'”, diz.
Dita por qualquer outro advogado, a frase poderia indicar contradição ao vir de alguém que tem por dever de ofício defender a liberdade. Mas é conhecida a aversão do célebre professor por determinados veículos de comunicação. É para a imprensa que ele aponta o dedo ao falar sobre o mensalão. Sua interpretação é que houve um conluio dos órgaos da grande imprensa para derrubar o então presidente Lula. É a mesma culpada, segundo ele, da influência deletéria sobre o Supremo Tribunal Federal. “Acho muito ruim decidir de acordo com a imprensa”.
Bandeira de Mello já deixou sua marca no Supremo. A ele é atribuída a indicação do sergipano Carlos Ayres Britto para a vaga de ministro aberta com a aposentadoria do também nordestino Ilmar Galvão. Sobre seu papel na sucessão, ele faz mistério, mas não esconde a amizade de 40 anos com o atual presidente do STF, deixando transparecer que o amigo chegou à mais alta corte do país por sua indicação e pela do professor Fabio Konder Comparato, da Faculdade de Direito da USP, outro conhecido acadêmico de esquerda.
Ácido, o professor há quase quatro décadas na PUC-SP atira contra a formação dos advogados, que em sua avaliação sofrem com a formação deficiente, fruto da expansão desenfreada dos cursos de Direito. “Quando se incorpora uma grande multidão, perde-se em sofisticação.”
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