quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Edson Gaúcho, Givanildo e o jornalismo abutre

Então é assim.
Mandaram o Gaúcho embora.
Gaúcho, no caso, é Edson Gaúcho, que treinava o Remo.
E mandaram - sujeito indeterminado, na terceira pessoa do plural - é um verbo que, em verdade, se vincula a um sujeito claro, determinado e nominado: Sérgio Cabeça.
Sérgio Cabeça, presidente do Remo, deve ter perdido a cabeça ao mandar Gaúcho embora.
Tudo indica que Cabeça botou a cabeça de Gaúcho na guilhotina logo após a goleada do Remo em Itacoatiara, onde perdeu para o Penarol por 4 a 1. E tanto é assim que ontem à noite mesmo, logo após consumada a saída de Gaúcho, anunciou-se a contratação de Marcelo Veiga.
Gaúcho vinha fazendo bom trabalho no Remo.
Tinha lá suas exasperações, mas, como profissional, vinha bem.
Por que tirá-lo na semana em que o Remo tem um jogo decisivo para saber se continua ou não na Série D?
Marcelo Veiga, o novo treinador, terá tempo para fazer alguma coisa?
Sabe-se lá.
Agora, o curioso são certos coleguinhas - poucos, vá lá.
Eles acham que Gaúcho deveria ser mandado embora porque é grosso, não tem educação, é mal educado e coisas que tais.
Acham que Gaúcho deveria ser mandado embora porque vinha fazendo cobranças públicas sobre a falta de estrutura para treinar.
Mal conseguem disfarçar, os mesmo coleguinhas, a satisfação com o afastamento de Gaúcho porque o treinado chamou jornalistas de abutres, por entender que só havia uma revoada de abutres, ou melhor, de jornalistas no aeroporto de Belém, para receber o Remo no retorno de Itacoatiara, porque o time protagonizou um vexame - e realmente protagonizou.
Olhem só.
Comparemos Edson Gaúcho a Givanildo Oliveira, recentemente contratado para treinar o Paysandu.
Givanildo é um lorde?
Não é. Muito pelo contrário.
Givanildo senta a pua em coleguinhas que o criticam.
Sim, ele já se indispôs com vários que o criticaram.
Givanildo permite a interferência da diretoria em seu trabalho?
Não. Edson Gaúcho também não permitia. Ambos estão, aliás, certíssimos neste quesito.
Givanildo, em outras tantas passagens por Belém, nunca fez cobranças públicas sobre a falta de estrutura condizente para treinar Remo ou Paysandu?
É claro que fez. Igualzinho ao treinador Edson Gaúcho.
Mas, para alguns coleguinhas, Edson Gaúcho não passa de um cavalo que, com suas patadas, com sua falta de educação, tenta ser treinador de futebol.
E Givanildo?
Coleguinhas o chamam de Mestre.
De Giva.
De Professor.
De Comandante.
É assim. Alguém aí não se dispõe a propor que Edson Gaúcho faça um curso de boas maneiras com o Mestre, com o Comandante, com o Professor, com o Giva?
Putz!
E olhem só, coleguinhas: nós, jornalistas, agimos, sim, como abutres.
Agimos assim muitíssimas vezes.
Gostamos, sim, de dar prevalência ao negativo. Sobretudo quando o negativo é, como dizemos, uma notícia que vende, que rende.
Muitíssimas vezes, levamos à enésima potência aquele conceito errôneo de que jornalista só é jornalista - independente, invendível e intangível na sua honorabilidade - se viver por aí sentando a pua em tudo e todos, proclamando ao mundo que todos e tudo é um lixo.
Ao contrário, há coleguinhas que acham, ou melhor, têm certeza de que jornalista, se fizer um elogiozinho só, está vendido, é venal, é um sacripanta de marca maior ou é um chenzeiro (é assim que se escreve?), assim denominados os que pegam chen (é assim?), a gíria no jornalismo equivalente ao jabá no rádio e na televisão, ambos significando um dinheirinho por fora para publicar notícias.
Abutres que parecemos, nós, jornalistas, não gostamos de ser chamados: preferimos alguma coisa com os paladinos que defendem a sociedade.
Somos os tais auditores da sociedade.
Todos - ou quase todos - nos consideramos os intocáveis, os vigilantes, que estão sempre atrás de uma porta para gritar "te peguei" quando descobrem alguma coisa de imoral, de ilegal ou que engorda.
Mas se nós, jornalistas, reconhecêssemos nossa propensão natural para abutres, talvez fôssemos menos abutres.
E mais jornalistas.

2 comentários:

autor disse...

Esse mesmo pessoal que critica o temperamento do Edson Gaucho só falta lamber o chão do Bernardinho que é tão grosso quanto.

Edson caiu porque tentou profissionalizar o Remo, acabando com a farra dos setoristas das rádios no Baenão.

E sempre que estes perdem uma regalia, reagem e pressionam as nossas diretorias. Os cartolas, frouxos e amadores, ainda se deixam levar. Lamentável!

Anônimo disse...

Perfeito e pertinente o seu texto, caro poster.
Edson Gaucho é mais um que foi defenestrado porque desagrada alguns dos seus coleguinhas da imprensa esportiva.
E desagradou por falar duro as verdades do avacalhado e amador futebol"dito profissional" do Pará;
e por indicar jogadores que não emplacam nem redem aqui; e por tentar dar um mínimo de condição a refeições, gramado, horários.
Tudo que vários outros treinadores também o fizeram e /ou reclamaram.
Ora, ora.
E por isso foi vítima de mais uma diretoria amadora, mal de todos os clubes paraenses.
Ah, os jornalistas esportivos, sempre prontos a "produzir" craques e lorotas.
Até as manchetes são repetidas, basta lembrar a recente passagem do Davino aqui.
Após a goleada intempestiva no RePa amistoso, a manchete era:
Time do Paysandú já tem a cara do Davino.
E o cara foi demitido.
Agora, após o "heróico" empate com o Salgueiro, a manchete se repete:
Time tem a cara do Giva.
Até quando não se sabe.
Ah, esses coleguinhas seus...