segunda-feira, 9 de julho de 2012
Militância desolada
Há dez anos o PP está na base aliada do governo federal, mas a imagem de Lula na foto com Maluf e Haddad deixou a militância desolada. Em troca de mais tempo na tevê – 1 minuto e 43 segundos na televisão e no rádio –, Lula vai ao encontro de Maluf e perde Erundina. Na imagem – que circulou por toda a mídia e particularmente nela – residem todos os problemas desencadeados ao longo dos últimos dias na campanha petista à prefeitura de São Paulo, a começar pelo fato de a exposição pública ter transformado em limão a limonada anterior. No domingo, 17 de junho, pela primeira vez a candidatura de Haddad havia registrado uma alta nas pesquisas. De 3% para 8%, segundo o Datafolha.
Na nossa política Maquiavel poderia ver suas ideias colocadas em prática de forma cabal: aqui os fins parecem realmente justificar os meios. O outrora arauto da redemocratização da sociedade egressa de uma sanguinária ditadura, Lula, afirmava nos princípios da década de 1980, que o conchavo entre os partidos de centro e de direita transformava a política nacional, que deveria ser de “transição”.
Agora, o que dizer desse PT que se une a Paulo Maluf em detrimento de Erundina? Não foi esse mesmo partido que se recusou participar das eleições indiretas que elegeram Tancredo Neves – e seu vice Sarney – exatamente por ser contrário ao pleito indireto? O PT se negou a endossar as alianças envolvendo os dissidentes do PDS – antiga Arena – com os representantes do PMDB. Para esse mesmo PT, Maluf, resquício da ditadura, era o que poderia haver de pior na política brasileira. O até então admirado Lula pisou na bola e fez gol contra a favor de Maluf.
O avanço na sondagem eleitoral tornou-se secundário em poucas horas. A reação de boa parte da militância de esquerda, despertada pelo anúncio da deputada Erundina, do PSB, como vice na chapa, foi de decepção e desalento. As críticas inundaram as redes sociais. Restou à cúpula petista percorrer ao surrado argumento do pragmatismo e comparar-se ao PSDB, que em outas ocasiões valeu-se do apoio malufista. Mau sinal.
Não faltam razões para condenar o acerto com Maluf. Conservador de matizes antitrabalhistas, quando governador biônico da ditadura jamais hesitou em acionar a polícia para debelar manifestações e reprimir as greves do ABC paulista. Sobreviveu politicamente ao fim do regime autoritário, mas tem uma lista de malfeitos tão vasta em suas administrações que acabou incluído no hall da fama da corrupção do Banco Mundial.
E, cabe mais. Não é de hoje que a Secretaria de Habitação é um antro de corrupção, vide o caso de Hussain Aref Saab, ex-diretor do Departamento de Aprovação de Edificações (Aprov), acusado de cobrar propina para liberar empreendimentos. Nos pouco mais de sete anos em que permaneceu à frente do Aprov, Aref adquiriu ao menos 106 imóveis avaliados em mais de 50 milhões de reais. Entregar a secretaria a Maluf chega a ser um acinte, ainda mais pelo fato de o PT possuir em seus quadros respeitáveis urbanistas.
O Brasil é bastante peculiar, como alguns sabem, outros fingem não saber e outros mais simplesmente ignoram porque vivem no limbo. Severa e sincera, a deputada Erundina admitiu saber das conversações avançadas entre o PT e o PP, em São Paulo, ao aceitar ser vive na chapa de Haddad. Tinha ciência, então, da interlocução de Lula com Maluf, presidente do partido dele no estado. Maluf, de fato, é um prato terrivelmente indigesto. Erundina, no entanto, só reagiu após ver a foto da sagração dessa aliança nada santa. Daí vem uma perguntinha pertinente: escondidinho pode?
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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