domingo, 13 de dezembro de 2009

Ameaça velada


A corrupção sempre é abominável. É muito difícil de digerir e não sentir aversão. Mas a relutância é ainda maior quando é vista e ouvida. A operação Caixa de Pandora mostrou para quem quis ver uma sequência devastadora de vídeos que deixaram a Corte em mais um mar de lama. A capital federal parece corroída por um lodaçal em que nunca se viu nada parecido.
O grande protagonista, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, se decência tivesse, deveria logo se afastar do governo. Mas acreditem, apesar de todo escândalo em que está envolvido, afirma: "Vamos até o fim" - provavelmente até ser "impichado". Garantindo assim, que não têm a menor intenção de renunciar. Fez um discurso tentando desqualificar as denúncias feitas contra ele, alegando que pode ter havido montagem nas fitas de vídeos gravadas. É brincadeira!
A falta de acanhamento do governador do DF é tamanha que, após transcorrer quatro anos de silêncio, agora vem a público um vídeo gravado e filmado pelo seu lugar-tenente Durval Barbosa, seu ex-secretário de Relações Institucionais que é acusado de ter feito os ataques por ter tido interesses contrariados - Ah, aplausos prolongados e calientes.
Todos sabem que Barbosa (um tremendo pilantra), além de dezenas de processos no dorso, todos praticados no governo anterior, foi presidente de uma empresa de informática do governo Roriz, de quem foi um grande aprendiz e, pasmem, chegou a mestre ao ponto de enrolar todos os canalhas.
Arruda afirma que, uma vez avisado de que Barbosa respondia como réu, a processos por condutas ilícitas praticadas no governo anterior, tratou logo de afastá-lo do posto que ocupasse e o manteve no governo em outro setor relativo à burocracia - para continuar com as práticas ilícitas, agora, a seu favor.
Além disso, Arruda disse que não teve direito de se defender (será que ele vai chorar?). Tudo não passa de encenação e ameaçou, caso viesse a ser expulso do DEM, contar tudo o que sabe dos políticos que queriam alijá-lo do seu mandato.
Com a ameaça de expulsão iminente (um acordo com a bandeira branca para evitar um mal maior), recuou e decidiu deixar o DEM. Com a desfiliação, Arruda não poderá concorrer nas eleições de 2010. Mas manterá a "tchurma" que com ele se locupletou, e sob suas rédeas, para evitar o "impichamento". Sabe-se que toda essa bandalheira é suprapartidária, está acima das camadas de turbulências. Não se trata de "P" de partido, mas de "P" de pagamento. Arruda tem na mão a maioria na Câmara Legislativa e isso evitaria a queda do "II Reich de corrupção" da velha raposa do DF.
Alguns partidos aliados já se afastaram e entregaram os cargos no governo do DF. Corruptos do padrão de Arruda não entregam e nem se afastam dos cargos públicos que ocupam para dar uma satisfação à sociedade, de forma evidente e cristalina.
A corte ficou tão alvoroçada que estudantes invadiram a Câmara Legislativa e por lá permaneceram em vigília por vários dias. A justa ira. Na quarta-feira passada, os manifestantes, exercendo o direito de expressão e protesto garantido pela Constituição, foram acuados na Corte. Manifestantes voltaram a sentir o peso das botas e dos cavalos, que lembraram perfeitamente os tempos de repressão. A série de imagens da cavalaria da Polícia Militar avançando sobre quase 3 mil manifestantes na manhã de segunda-feira, no Eixo Monumental, mostra toda a truculência de quem devia nos defender.
A manifestação foi reprimida pela polícia em frente ao Palácio do Buriti, sede do governo, na região central de Brasília. A polícia disparou balas de borracha, bombas de efeito moral e usou a cavalaria com os policiais utilizando-se de espadas e cassetetes para dispersar a multidão. Lembrando o Brasil de 28 de março de 1968, a data do assassinato do estudante secundarista Edson Luís pela polícia, em uma manifestação no Rio de Janeiro contra o fechamento do restaurante universitário O Calabouço.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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