segunda-feira, 1 de setembro de 2008

“Vender a Unama a estrangeiros ou nacionais seria traição”

“A Unama não se profissionalizou suficientemente”
“Nunca antes eu havia amadurecido a idéia de renunciar”
“Não gostaria de ser desmoralizado com meu acomodamento”
“Espero ser simplesmente respeitado como sócio da Unama”


“Sou contra a venda da Unama e acredito que poderemos profissionalizá-la melhor e porque acredito que possa ser realizado um amplo programa de desenvolvimento e de crescimento”.
Assim o ex-reitor da Universidade da Amazônia (Unama), Édson Franco, resumiu ao Espaço Aberto, em entrevista exclusiva – a primeira que concede depois que, na semana passada, deixou o cargo que ocupava havia 34 anos -, a sua clara oposição à transferência do controle da maior universidade privada do Estado para outras mãos.
O ex-reitor concordou sem hesitação, no início da noite de ontem, à proposta do poster de lhe enviar as perguntas por e-mail. Um pouco depois, as respostas aos cinco questionamentos formulados eram remetidas ao blog.
Na entrevista, Édson Franco expõe seu posicionamento contrário à venda da instituição, diz que jamais lhe passou pela cabeça renunciar antes, manifesta-se agradecido pelas manifestações de solidariedade que tem recebido, revela que enfrentou fortes resistências internas para ajudar espontânea, voluntária e gratuitamente na recuperação da Universidade Santa Úrsula e diz que não é capaz de prever como será a Unama sem Édson Franco à frente da reitoria.
A seguir, a entrevista.

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Por que vender a Unama? Ou por que não a vender?
Algumas entidades estrangeiras - na maioria dos casos, sem possuírem universidades - vêem assediando instituições brasileiras de ensino superior. Porque entendem que aplicações financeiras rendem pouco; porque há ainda um enorme mercado educacional a ser alcançado; porque muitas instituições brasileiras não se profissionalizaram na gestão; porque muitas instituições nacionais não fizeram um adequado programa de sucessão e porque muitos instituidores não se prepararam suficientemente para o crescimento institucional. O mesmo acontece com Fundos que mantêm instituições nacionais. Eles não são universidades em si. Bom lembrar que, mesmo as entidades nacionais, decorrem de Fundos, como Banco Pátria, Banco Pactual, GP e outros.
A Unama não se profissionalizou suficientemente e nem se preparou para um amplo programa de crescimento institucional.
Sou contra a venda da Unama e acredito que poderemos profissionalizá-la melhor e porque acredito que possa ser realizado um amplo programa de desenvolvimento e de crescimento, inclusive com o ensino a distância para o qual estamos aguardando apenas o credenciamento, pelo MEC, de uma quinzena de pólos no Pará e no Brasil. Vender a estrangeiros ou nacionais seria uma traição ao próprio sentido e à missão da Universidade da Amazônia e uma rendição ao comodismo. Isto eu somente faria se fosse compelido e tenho uma aliada ao meu lado.

Por que a sua renúncia?
Imaginei um encontro no Hotel Hilton para discutirmos nossos problemas de gestão eficaz e nossas estratégias de desenvolvimento e crescimento. Lamentavelmente, antes de discutirmos problemas de gestão e estratégias de crescimento fomos tolhidos com a manifestação de alguns sócios, a maioria aliás, mas não a totalidade, dizendo que estavam dispostos a vender a Unama e sequer desejaram avançar na discussão da nossa profissionalização e de um programa de desenvolvimento e crescimento. Diante disto, sem quererem ir a fundo no que nos parecia importante, só restava a renúncia ao cargo de reitor. Não gostaria de ser desmoralizado com o meu acomodamento e com a inércia. Nunca antes havia pensado ou amadurecido a idéia de renunciar. Sequer havia pensado nessa hipótese, pois acreditava nas possibilidades de discutirmos o nosso adequado programa de desenvolvimento e crescimento e a nossa melhor gestão. Quase não houve uma maior discussão sobre vender a Unama. A manifestação dos sócios favoráveis à venda antecedeu toda a discussão e tornou inexeqüível a pauta de gestão e de desenvolvimento e crescimento que propus.

Um grupo de alunos está propenso a fazer um abaixo-assinado pedindo o seu retorno à reitoria. O senhor admite a possibilidade de renunciar à renúncia?
Agradeço as várias manifestações que já recebi. Se a entidade mantenedora da Unama desejasse discutir uma gestão eficaz para a Unama e um programa de desenvolvimento e crescimento estaria feliz com isto. No rumo da caminhada, não parece ser esta a idéia maior que preside em determinados ambientes os primeiros momentos com a minha renúncia. Acho até que eu era uma pedra no sapato, especialmente por me dedicar por tanto tempo do dia e da noite à Unama, e aí me lembro de Carlos Drummond de Andrade.

Uma vez sendo irreversível a sua volta à reitoria, o que o senhor vai fazer daqui para a frente? Vai se dedicar à Santa Úrsula? Vai desempenhar outra função na Unama? Qual?
A Universidade Santa Úrsula é um presente que me dei, aos 71 anos, para trabalhar GRATUITAMENTE [termo grafado em caixa alta pelo próprio ex-reitor] pela recuperação daquela Universidade. Não tenho cargos lá. Não quero receber sequer um almoço ou um jantar das Ursulinas e não tenho recebido. Fui demais criticado pelos meus pares para me oferecer GRATUITAMENTE [idem] para aquela instituição. Já consegui alguns resultados. Espero alcançar mais outras vitórias, o que nunca me impediu de trabalhar diuturnamente pela Unama. Aliás, isto eu nem preciso dizer, pois é público e notório. Sou sócio na entidade mantenedora da Unama e espero ser simplesmente respeitado como tal. Tenho fé que saberão todos me respeitar. Quanto a outra função na Unama, sequer pensei nisto.

Como o senhor prevê que será a Unama sem o Édson Franco na reitoria?
Não tenho bola de cristal para fazer previsões.

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Mais sobre o caso Unama:

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Jornalismo, Publicidade e RP da Unama são contra a venda
A nota de esclarecimento da Unama não esclarece
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5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns ao blog. Jornalismo maduro, ético e transparente.
Em síntese: notícia histórica, muito acima do nível da imprensa que estamos acostumados a assistir.
Nota DEZ.

Yúdice Andrade disse...

A meu ver, com as idéias e sentimentos externados na entrevista, o Prof. Édson Franco se inscreve, definitivamente, no livro dos grandes homens deste país, particularmente do nosso Estado.
Não o conheço pessoalmente. Dele, já ouvi coisas boas e más, incluindo um testemunho pessoal, partido de uma amiga, na época trabalhando na Unama, que lhe disse um desaforo e recebeu todo o carinho e atenção depois, porque enfrentava problemas pessoais na época.
O fato é que sua visão de universidade é humilde (reconhece as falhas de sua própria administração), mas audaciosa em seus objetivos. É séria e factível.
Registro o meu respeito pelo grande educador.

Anônimo disse...

Como uma instituição PARTICULAR a Unama pode ser vendida para qualquer um (grupo, fundo de investimento) que poder pagar, claro se ela estiver a venda. A Unama não pertence ao governo estadual ou federal. Por tudo isso que esta acontecendo e que a melhor universidade a se fazer é a estadual ou federal, há muitas vagas, o governo federal esta ampliando o numero de vagas e só ter competencia para passar.

Anônimo disse...

Sou ex aluno da UNAMA e trabalho no Forum de Belém. Vi hoje na secretaria da sexta Vara que o Prof. Édson Frenco entrou com ação de reintegração ao cargo de Reitor.
Afinal, ele renunciou ou não? Quem renuncia não pode pedir reintegração. Será que ele esqueceu as aulas de Direito que ele assistiu ou é luta pelo poder, a qualquer custo?

Poster disse...

É mesmo, Anônimo?
Pedido de reintegração no cargo?
É difícil dizer se o pedido é cabível. Seria preciso ver a petição e seus fundamentos.
De qualquer forma, você passou uma grande informação para o blog.
Vou checar no site do TJE.
Abs.