* Desgaste de Ana Júlia ajudou a eleger Cezar Colares
* Juvenil ainda tentou adiar a votação na sexta-feira
* Jatene e Couto ajudaram a pedir votos para o tucano
* Voto em branco foi de integrante da bancada do PT
Respostas espontâneas geralmente são verdadeiras. Costumam ser verdadeiríssimas.
Das várias fontes que consultou ontem, sobre as razões que levaram a Assembléia a escolher o tucano Cezar Colares (na foto) para conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), em detrimento do deputado Luís Cunha (PDT), preferido da base aliada e da governadora Ana Júlia Carepa, quase todas alongaram-se em pormenorizadas especulações.
Uma das fontes resumiu tudo em pouquíssimas palavras.
- O que foi que aconteceu [para Cunha não ser escolhido]? – perguntou-lhe o blog.
- Foi excesso de trairagem – disse a voz do outro lado.
Realmente, foi também isso: excesso de trairagem fez naufragar as pretensões de Luís Cunha de tornar-se o novo integrante do TCM.
Mas não foi apenas isso.
Contribuíram muitíssimo para a escolha de Colares o desgaste da governadora Ana Júlia Carepa entre vários deputados da base aliada, problemas internos no PT, pedidos não contemplados, reflexos da disputa eleitoral nos municípios e o apoio fechado do G10 a Cezar Colares. Como pano de fundo – daqueles de cores bem fortes e bem chamativas –, a renovação da Mesa da Assembléia no próximo ano.
Por tudo isso, Luís Cunha não é o novo conselheiro.
Candidatura pelo ralo
Se o resultado da votação foi surpreendente, isso não quer dizer que tenham faltado indícios – e dos mais seguros – antecipatórios de que o apoio a Luís Cunha estava escoando pelo ralo havia alguns dias.
O sinal mais seguro de que alguma coisa estava errada – ou então que as vontades não estavam convergindo em apoio ao deputado do PDT – ocorreu na sexta-feira da semana passada. O presidente da Assembléia, deputado Domingos Juvenil (PMDB) foi pessoalmente ao deputado Luís Cunha e lhe propôs adiar a votação, àquela altura já oficialmente convocada para ontem, depois da sessão ordinária da AL.
A alegação da proposta de Juvenil a Cunha foi superficial, mas direta: não “havia clima” para votar a indicação do novo conselheiro ontem. Vira pra cá, ouve pra lá, passou-se a bola da decisão para Ana Júlia.
A governadora decidiu, então, que era melhor mesmo manter a votação para ontem. Mas não fez isso sem antes fazer um movimento ostensivo no tabuleiro: chamou todos os deputados da base aliada ao Centro Integrado de Governo (CIG), na Avenida Nazaré, na segunda-feira à noite, e pediu claramente que todos votassem em Luís Cunha.
Quem vai dizer “não” na frente da governadora? Ninguém. E como ninguém disse “não” – pelo menos na frente dela -, somaram-se os votos: Luís Cunha podia contar com 26 votos fechadíssimos. Estava eleito, portanto.
Ninguém se elege apenas em reunião com governadora, todavia. Foi o caso do parlamentar pedetista, que saiu eleito da reunião com Ana Júlia e acabou saindo não eleito da sessão de ontem, na Assembléia Legislativa.
Insatisfações e vinganças
Várias razões explicam isso.
Primeiro, o desgaste de Ana Júlia entre parlamentares da própria base aliada. Fontes seguríssimas ouvidas pelo blog garantem que o voto em branco, por exemplo, foi de integrante da bancada do PT. Pedidos políticos não contemplados e maior falta de atenção deixam deputados desgostosos. Pois eles se vingam em ocasiões especiais, como a de ontem.
Segundo, as disputas eleitorais nos municípios. Em alguns deles, a base governista tem até quatro candidatos. Pois a governadora comete o despropósito de, mesmo assim, visitar o município pessoalmente, em carne e osso. Chega lá e sobe ao palanque de um dos candidatos. Os outros três ficam porraqui com ela. E em Belém, o deputado que tem vinculação com os candidatos desgostosos também só quer uma oportunidade para se vingar. E se vinga em ocasiões especiais, como a de ontem.
Terceiro, ficou evidente a força do G10 e a coesão do PSDB. O presidente de honra do partido, o ex-governador Simão Jatene, e senador tucano Mário Couto –ao qual vários deputados da atual legislatura rendem homenagens por terem sido tratados com deferência, quando o parlamentar era presidente da Assembléia – ligaram para todos os integrantes da AL, à exceção de peemedebistas e petistas. O esforço de Jatene e Couto foi compensado. Com os dez votos do G10 mais os sete do PSDB, são 17 votos. Com mais um voto em branco e quatro outras defecções na base governista, somam os 21 votos que elegeram Cezar Colares.
Quarto, o governo talvez tenha errado na estratégia quando evitou de escancarar, desde o primeiro momento em que a disputa se configurou, sua opção pelo deputado Luís Cunha. Recentemente, quanto se encontrou pessoalmente com a governadora para anunciar a decisão de disputar o cargo de conselheiro, o deputado Cezar Colares não ouviu dela qualquer palavra que indicasse apoio. Mas também Ana Júlia não insinuou, nem mesmo remotamente, qualquer veto à candidatura do tucano. Ficou tudo numa zona meio cinzenta. A opção escancarada por Luís Cunha apenas nas últimas semanas pode ter contribuído para dar fôlego a Cezar Colares, que, como o pedetista, tem um bom trânsito entre todas as bancadas na Assembléia.
Por último, mas não menos importante, a votação para escolher o novo conselheiro do TCM demarcou a face mais visível da disputa pela renovação da Mesa, marcada para o próximo ano, mas que já se esboça desde agora. O deputado Domingos Juvenil jamais dirá isso a ninguém que lhe pergunte, mas sabe que atualmente não é o candidato preferido do presidente regional do PMDB, deputado federal Jader Barbalho, para se candidatar à reeleição como presidente da Assembléia. Desponta neste caso o G10 como fiel da balança.
E o G10, na eleição de Cezar Colares, já demonstrou que vai mesmo ser um segmento de peso na eleição da Mesa. Quando se somam esses dez votos ao oito do PSDB, então já se vê que a parada vai ser dura.
Duríssima, aliás.
6 comentários:
Só no Espaço Aberto para a gente saber desses bastidores.
Golaço!
Agora , é esperar e se divertir lendo as tentativas de explicações dos derrotados..rs
Dissimular faz parte do jogo. Esse Juvenil...É o voto foi secreto NÉ.
Anônimo das 09:42,
Haverá explicações dos derrotados (rsss)?
Abs.
Anônimo das 09:58,
Voto secreto opera coisas quase impossíveis, amigo. E as possíveis também... (rssss)
Abs.
Bom dia, caro Paulo:
e, na sua listagem, faltou acrescentar uma causa da derrota de um e vitória do outro: votos só se sabe quantos são quando a urna é conferida...rsrsrs..
Abração.
Sim, Bia.
Esta é a verdade verdadeira. E muitas vezes ninguém se conforma com ela, não é?
Abs.
Postar um comentário