Na FOLHA DE S.PAULO:
Puxado por investimentos recordes, pela agropecuária e por forte aceleração dos gastos públicos, o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre do ano surpreendeu positivamente e cresceu 6,1% sobre igual período de 2007. A aceleração em relação ao primeiro trimestre do ano foi de 1,6%.
O resultado levou a uma revisão geral de expectativas, apesar da tendência de alta nos juros nos próximos meses, e praticamente garante um crescimento superior a 5% em 2008.
Para crescer abaixo disso, a economia teria de se desacelerar em mais de 30% no segundo semestre, tradicionalmente o período mais "quente" do ano.
Se 2008 tivesse acabado em junho, o Brasil teria crescido 6%. Agora, basta um crescimento de 4% ao longo do segundo semestre para que o PIB atinja o patamar de 5% no ano.
Como já ocorre há vários trimestres, a composição do crescimento da economia brasileira se mostrou bastante equilibrada e promissora.
Os investimentos do setor produtivo, que garantem a oferta futura de bens e serviços e reduzem pressões inflacionárias, foram novamente o carro-chefe do crescimento: subiram 16,2% no trimestre e atingiram o maior patamar da série histórica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em 1996.
18º trimenste de expansão
Foi o 18º trimestre consecutivo de alta nos investimentos, sendo que há cinco trimestres a taxa supera 14%. Os investimentos em máquinas e equipamento voltaram a puxar também as importações, que cresceram 25,8% no trimestre (as exportações subiram 5,1%).
Já o aumento do consumo das famílias (o 19º seguido) se manteve praticamente no mesmo patamar do primeiro trimestre. Subiu 6,7% apoiado em um aumento de 8,1% da massa salarial real e de 32,9% nas operações de crédito.
O que destoou no trimestre foram os gastos públicos, que têm peso específico de 15% na composição do PIB (como comparação, a agricultura pesa 5,5%). Seguindo a tendência de alta do primeiro trimestre, o consumo da administração pública aumentou 5,3% no segundo trimestre (sobre igual período de 2007).
Para Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, a alta reflete o período eleitoral atual e a contratação antecipada de funcionários públicos, já que há uma proibição para novas admissões três meses antes da eleição. "As despesas dos governos ajudaram a elevar o PIB", disse.
Rebeca Palis ponderou ainda que o resultado do segundo trimestre não foi afetado pelo início, em abril, do ciclo de alta dos juros do Banco Central. "Isso leva um tempo para começar a afetar a economia."
Outro destaque do PIB foi a agricultura, com alta de 7,1% (a produção de café subiu 27,7% e a de milho, 12,8%). Já a indústria cresceu 5,7%, puxada principalmente por uma alta de 9,9% na construção civil.
"O crescimento veio forte e com uma boa tendência de aumento da capacidade produtiva, o que traz um bom cenário futuro para o comportamento da inflação", afirma Marcela Prada, da Tendências.
Na análise de Ana Maria Castelo, economista da FGV Projetos, o resultado do PIB reforça a aposta de que o Banco Central continuará em seu ciclo de alta dos juros. "Há muitos setores expandindo a capacidade de produção, mas há uma questão de "timing" aí, de um certo descompasso entre esse aumento da oferta de produtos e do consumo", afirma.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o resultado do trimestre praticamente assegura um crescimento acima de 5% em 2008. "Mas 2009 será mais complicado, com juros mais altos, despesas públicas maiores e crescimento menor", diz.
Rebeca Palis, do IBGE, afirma que já no segundo semestre pode haver uma tendência de desaceleração do crescimento. "A segunda metade do ano terá juros maiores e, provavelmente, gastos públicos menores."
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