domingo, 3 de agosto de 2008

Protógenes é assediado por fãs nas ruas

Na FOLHA DE S.PAULO:

Os telefones não param de tocar no apartamento do delegado Protógenes Pinheiro de Queiroz, 49, carioca que há cinco anos mora em Brasília, lotado na Diretoria de Inteligência da Polícia Federal. Na secretária eletrônica de um de seus celulares, que ele não atende mais, mensagens de policiais, promotores, delegados. Três ofertas de editoras para escrever um livro (nenhuma aceita) e de advogados para abertura de processos contra jornais e jornalistas (o que ele disse que não fará).
Mas a manifestação que mais sensibilizou esse advogado, ex-procurador municipal de Rio Bonito (RJ), filho de um terceiro-sargento da Marinha e de uma enfermeira, foi uma folha de caderno desenhada por uma criança de Londrina (PR). O papel foi deixado no prédio da PF daquela cidade e chegou às mãos dele pelo malote da polícia. O menino desenhou um homem e a bandeira do Brasil e deixou um apelo ao lado do nome do delegado: "Por favor, não desista!".
Parado com freqüência em Brasília nos intervalos do curso que faz na Academia de Polícia, para autógrafos e fotos, Queiroz resolveu tirar a barba com a qual apareceu, em entrevista coletiva às emissoras de TV, no dia das prisões da Operação Satiagraha. Depois disso o assédio diminuiu, mas não muito. Segundo ele, as pessoas lhe agradecem, dizem palavras de apoio.
As manifestações lhe chegam principalmente pelo blog criado em sua homenagem pelo cunhado com a ajuda de amigos. Ele se diz impressionado com as 859 mensagens postadas até a noite de sexta e 11 mil acessos diários desde que o blog entrou no ar, no sábado retrasado.
O delegado disse que só agora tem conseguido descansar da investigação mais longa e desgastante da carreira de quase dez anos na PF. Nos 15 dias que antecederam a decretação das prisões, contou ter dormido "nenhuma noite" e se alimentado quase sempre com água, biscoito e café. A rotina lhe provocou, nos dias posteriores às prisões, lapsos de memória e problemas na fala.
Leitor do filósofo alemão Hegel (1770-1831), uma das influências de Karl Marx (1818-1883), não se considera "de esquerda" porque "todos os rótulos caíram". É católico devoto de Nossa Senhora Aparecida e quando vem a São Paulo, onde morou por anos, procura assistir às missas no mosteiro de São Bento, quando os monges entoam cantos gregorianos. Para ele, uma renovação da fé.
Na adolescência, no entanto, era e se dizia de esquerda, tendo participado do movimento estudantil, de passeatas pelas Diretas-Já e da produção de um fanzine apreendido pela ditadura.
Protógenes Queiroz começou na PF logo encarando uma pedreira, as investigações, no Acre, sobre o deputado Hildebrando Pascoal, acusado de matar desafetos. No ano seguinte enveredou pela investigação de crimes financeiros. Entre 2001 e 2006, prendeu Law Kin Chong, apontado pela PF como o maior contrabandista do país.
Seu papel na prisão de Chong é narrado em algumas páginas do livro recém-lançado "McMáfia - Crime sem fronteiras" (Cia das Letras), do jornalista britânico Misha Glenny.

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