domingo, 8 de junho de 2008

O homem é o único animal que faz dinâmica de grupo

O texto a seguir – sob o título acima - é de Alessandro Martins, sugerido ao blog por Diego Jock, da Casa da Galo. Retrata com perfeição o que é uma dinâmica de grupo.
Você, com certeza, já deve ter passado por aquela experiência de estar numa reunião e o instrutor mandá-lo plantar bananeira ou se requebrar todo no meio da platéia – para que todos riam à vontade de você -, sob o argumento de que isso é ótimo para a “integração do grupo”, para permitir o “autoconhecimento”, para revelar os seus “anseios e recalques” – coisas assim.
Enfim, leia aí o texto do Alessandro.

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Tenho minhas suspeitas de que as dinâmicas de grupo são atividades incorporadas - talvez criadas - pelos departamentos de Recursos Humanos (muitas aspas em Humanos) para selecionar, dentre os muitos candidatos, quais os mais submissos.
A melhor história sobre dinâmicas de grupo que conheço foi vivida e contada por meu amigo Paulo Polzonoff Jr. Claro que vou acabar distorcendo um pouco, mas a essência será a mesma. Se quiserem a versão da fonte, perguntem a ele.
Na época, ele era um jovem e idealista estudante de jornalismo. Dizem que chegou a usar boina. Mas acho que quando isso aconteceu ele já não usava boina.
Mandou seu currículo para um desses programas de treinamento de grandes jornais que exploram a boa vontade de jovens e idealistas estudantes de jornalismo. O negócio tinha o elegante nome de programa de trainnees ou coisa assim.
Depois de ter seu currículo selecionado, Paulo foi chamado a fazer as provas e testes e exames que fariam a peneira, selecionando quem aprenderia a profissão durante alguns meses naquele órgão de imprensa de abrangência nacional.
Chama-se órgão de imprensa pois não se pode dar as costas para ele. De outra forma ele pode fazer coisas impublicáveis com você. Que, ainda assim, se publica.
Paulo fez todos os testes até que o grupo do qual se faria a seleção ficou bem reduzido. Finalmente, para descobrir quem voltaria para o interior e quem ficaria na capital, desfrutando dos ensinamentos dos banbanbans da imprensa, seria feita uma dinâmica de grupo.
Não lembro exatamente o que era, mas era algo como encher balões vermelhos, empurrá-los pela sala com o nariz e dar três pulinhos. Isso tudo envolvendo trabaho em equipe, sinergia e outras relevâncias inventadas por algum psicólogo que entende tudo de balões vermelhos.
Paulo já estava pronto com seu balãozinho murcho na mão, prestes a levá-lo aos lábios e estufá-lo a plenos pulmões.
Neste instante, pensou.
Tentou imaginar Nelson Rodrigues, Mário Filho, Paulo Francis, Rubem Braga, Joel Silveira, Zé Hamilton Ribeiro e até mesmo H.L. Mencken - sei lá quem mais que já passou por uma redação e que teve alguma importância - enchendo um balão vermelho e empurrando-o com o nariz ao longo de uma sala.
Não conseguiu.
Talvez ele não tivesse a mesma importância desses em que pensou, mas se quisesse ter um dia, não deveria se submeter ao tratamento humilhante.
Foi aí que desistiu da chance.
Entregou o balãozinho ao psicólogo, explicou seus motivos e foi embora.
Duas semanas depois, uma carta.
Era o tal jornal.
A vaga era dele.

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