Durante a última campanha eleitoral, psolistas e aliados - históricos ou ocasionais - divulgaram por aí a boutade de que, se soltassem o então candidato a prefeito de Belém Igor Normando (MDB) num bairro da perifa profunda de Belém e o mandassem caminhar até Batista Campos, por exemplo, ele não voltaria da perifa nunca mais. Ficaria eternamente perdido. Ou então procuraria um barco, ou uma barca, para pedir carona até a Escadinha, no início da Presidente Vargas.
Que gente maldosa, né?
Pois é.
Agora, com Normando prefeito, parece que a maldade eleitoral não passava, em verdade, de um vaticínio, de uma antecipação de como seriam os passos do Igor gestor, em relação a algumas questões envolvendo, justamente... a perifa.
Está viralizando por aí um vídeo em que o prefeito viaja na maionese, ou melhor, viaja maviosamente numa barca, ao dizer nesta quinta (03), durante evento promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico e Rádio CBN em um hotel de Belém, com vistas à COP30, que "a Vila da Barca começou com uma ocupação habitacional e acabou virando uma ocupação desordenada na beira do rio."
Menas verdade, como se sabe.
A Vila da Barca é uma comunidade que vive de maneira precária, para não dizer precaríssima, na orla de Belém desde os anos 1930, portanto há quase um século. Pode-se até alegar que o aumento populacional na área é um dos fatores de agravamento do drama humano que se registra lá, mas afirmar que tudo começou com uma ocupação habitacional em anos recentes, aí o doutor Normando encarna aquele personagem largado no meio da Vila da Barca e não sabendo mais dar um passo, para voltar em direção aos bairros das zelites, no centro de Belém.
A intervenção do prefeito foi parar no perfil do antecessor Edmilson Rodrigues no Instagram (veja o vídeo acima).
"O projeto básico da Vila da Barca - elaborado junto com a comunidade, em 2003, na nossa 2ª gestão como prefeito -, veio para sanar as mazelas que já haviam (sic) ali. A Vila da Barca é uma ocupação secular com cerca de 7 mil habitantes", diz Edmilson.
Ressalte-se, aliás, que Normando, por influência da esposa pernambucana, inspira-se bastante na gestão do prefeito de Recife, João Campos, que, além de revelar-se um administrador emérito, tem ganhado mais e mais notoriedade como influ de si mesmo.
Vocês já imaginaram se o João Campos não sabe toda a história - presente e passado - da famosa favela sobre palafitas Brasília Teimosa, em Recife? É implausível que não o saiba. Até porque, entra gestão, como a do João, e sai gestão, como a do João sairá, e a Teimosa continua fazendo jus ao nome, desafiando qualquer projeto de urbanismo mirabolante.
Em Belém, a Teimosa de Normando bem que poderia ser a Vila da Barca. Está aí um desafio a ser enfrentado. Urgentemente.