quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Um dragão muito íntimo


Quem vai ao Rio Janeiro fazer turismo, com certeza vai com as ideias voltadas para conhecer os pontos turísticos da Cidade Maravilhosa. Um desses pontos é um mirante em forma de pagode oriental feitos de troncos semelhantes aos do bambu, a Vista Chinesa. Mas o que pouca gente sabe, no entanto, é que esse pitoresco monumento é o símbolo de um dos capítulos menos conhecidos da história da imigração no Brasil.
No imaginário das pessoas jamais se pensaria que já havia um dragão entre nós. Os imigrantes orientais chegaram por volta de 1812, mas há quem afirme, como o escritor Rodrigo Octavio (1866-1944), que o primeiro registro de entrada de estrangeiros chineses no Brasil data de 10 de setembro de 1814, para trabalhar em plantações de chá na Fazenda Santa Cruz, situada na ilha do governador, e no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, localizado no pé do morro onde fica a Floresta da Tijuca. Os agricultores que começaram a cultivar o produto nessa segunda área se instalaram nas encostas da mata onde estão os fundos do Jardim Botânico.
Muitos cidadãos pensam que os contatos entre Brasil e China são recentes. Não é verdade. Eles aumentaram muito recentemente, mas a relação entre os dois países não é nova. Começou há 200 anos, quando D. João VI trouxe um grupo de orientais para plantar chá no Rio de Janeiro. O que se sabe é que o projeto não prosperou, mas marcou o início da presença chinesa no Brasil.
Com problemas na produção do chá, e conforme avançava o século XIX, começou-se a pensar em uma nova função para os trabalhadores chineses no Brasil: substituir a mão de obra escrava no país. A condição desses trabalhadores podia ser considerada de semiescravidão pela extrema brutalidade com que eram tratados. Apesar de terem um contrato de trabalho, eram frequentemente enganados e vistos como simples mercadoria, e muitos morriam nos navios que os transportavam. O debate sobre essa mão de obra barata e sua utilização na agricultura ganhou força a partir de 1870 e ficou conhecido como a “Questão Chinesa”. Uma fase de preconceito e racismo contra os chineses, considerando- os uma verdadeira ameaça. No começo do século XX, a primeira fase da imigração chinesa no Brasil, havia terminado.
A segunda fase da imigração chinesa no Brasil foi motivada pelas convulsões sociais, políticas e econômicas que abalaram o país asiático ao longo da primeira metade do século XX. Em 1911 a monarquia de mais de 2 mil anos foi
derrubada, e em março de 1912 o líder do Partido Nacional (Kuomintang ou KMT), Sun Yatsen, se tornou o primeiro presidente da recém-proclamada República da China. Dai em diante se instalou um grande período de turbulência, marcado por sucessivos conflitos internos e externos. Depois com os invasores japoneses, que ocuparam o país de 1937 a 1945. Ao fim da Segunda Guerra Mundial o novo Partido Comunista Chinês (PCC) e o KMT retomaram a guerra civil, que terminou com o triunfo de Mao Tse-tung e sua revolução comunista de 1949 (Fundação da República Popular da China).
E finalmente, a chamada terceira etapa. Não se trata propriamente de uma onda imigratória, mas não há dúvida de que nos últimos anos o dragão asiático está cada vez mais presente entre nós. Hoje, eles são executivos engravatados. A grande migração nessa nova fase não é tanto de pessoas, mas de capitais. A tendência é que, nos próximos anos, o gigante oriental passe a fazer cada vez mais parte de nossa vida.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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