segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Com sonhos não se brinca


Revista de circulação nacional veiculou reportagem dando conta de suspeita de fraude no sorteio da Mega-Sena da Virada do ano passado, com o maior prêmio da história das loterias brasileiras. A Caixa investigou denúncia de que os números estariam "congelados" para favorecer esquema de políticos do PMDB.
Essa história mal contada, tratada como "segredo de Estado", foi censurada. Em vez de acionar a Polícia Federal, a presidente da CEF preferiu nomear "araponga" amador para investigar o caso.
Max Pantoja tentou impedir o sorteio, alegando que as bolas não haviam sido conferidas pelos auditores da Caixa, antes de colocadas no globo, um rito necessário para garantir a transparência do sorteio. Pantoja acabou expulso do palco, por ordens superiores, acusado de tumultuar o bom andamento dos trabalhos. E ele teria “problemas de natureza psicológica." Todavia, ao invés de encaminhar o funcionário para uma clínica psiquiátrica, o diretor da Caixa mandou abrir sindicância para intimidá-lo, ameaçando-o de demissão. O assunto acabou arquivado.
Fatos como esse apenas servem para amplificar boatos sobre a possibilidade de fraude nos sorteios de loterias acumuladas que saem para solitários ganhadores, residentes em pequenas cidades do interior. Jamais são localizados nem mesmo por supostos parentes. A presidente da Caixa deveria convocar entrevista coletiva à Imprensa para esclarecer os detalhes dessa nebulosa questão.
Afinal, a CEF vai promover novo sorteio da Mega-Sena da virada, com prêmio recorde, estimado em R$ 190 milhões. Deveria, portanto, cercar-se de todos os cuidados para garantir a lisura do sorteio, convocando auditores independentes e até o Ministério Público Federal, para acompanhar os procedimentos de segurança do sorteio.
A sociedade, além de arcar com o pesado "custo corrupção/Brasil", de estimados R$ 8 bilhões em 2010, ainda suporta estoicamente a maior carga tributária do mundo.
Todavia, os recursos públicos continuam faltando para a saúde, educação, segurança e transportes. O cidadão já apresenta sintomas de "fadiga" diante de tanto descalabro na gestão pública. Até motel e Viagra deputado já paga com dinheiro público. O distinto octogenário, em vez de ser processado, foi nomeado ministro do turismo... Faz sentido.
Tinha razão o grande filósofo popular jurunense Gonçalo Duarte, que pregava o "direito de desvotar" para o eleitor desiludido.Era levado na gozação, mas estava à frente de seu tempo. Os bingos foram fechados sob suspeita de lavagem de dinheiro. No entanto, mesmo proibido, a exemplo do "jogo do bicho", campeia solto nos subterrâneos da ilegalidade, favorecendo a corrupção, inclusive de policiais.
Os jogos da Caixa, legalizados, nada mais são do que bingos eletrônicos. Logo, deveriam ser fiscalizados com os rigores da lei. O episódio, que precisa ser "passado a limpo" pela Caixa, levanta suspeitas sobre a fragilidade dessa fiscalização e também escancara "contaminação" do possível uso político até das loterias da Caixa.
Na juventude, conheci mestre Laurindo, repentista que cantava , nas feiras de Fortaleza, o amor de palhaços e trovadores, que tratava como "ladrões do bem", pois roubavam apenas o coração das mulheres, usando como "arma" uma boa "cantada" em forma de versos ou flor de suave perfume. Para o poeta cearense, ladrão reles mesmo era aquele que roubava sonhos.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Sidou, não sei se estes sorteios não tem maracutaia como tudo que é governamental neste país. Nunca soube que as bolas do sorteio foam evidamente pesadas para que todas tenham o mesmo peso. A quem devemos solicitar tal providencia?

Anônimo disse...

Pronto, começou a neurose. Daqui a pouco vão começar a acusar o PT e o Jáder Barbalho.