domingo, 6 de dezembro de 2009

Ali Arruda e seus malfeitores

SERGIO BARRA

Ópera em 5 atos
Novembro e Dezembro de 2009
Teatro da Corte

Música
Réquiem para os malfazejos

Libretista
Qualquer cidadão inconformado com tanta rapinagem

Prólogo
A missão de pilantragem ou seria melhor roubalheira a que veio o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, não surpreende a ninguém (aquela de "carpideira" que tirou no senado, só os néscios acreditaram), aquele do painel do Senado escondia outras transgressões que estariam por vir. O escândalo revelado pela Polícia Federal, que recebeu uma mitológica denominação: "Operação Caixa de Pandora", que continua aberta e haja sujeira saindo, Pandora não deve fechá-la, ainda.

Elenco
Governador
Vice-Governador
Presidente da Câmara Legislativa
Deputados
Secretários de Estado
Empresários
Jornalistas
Presidente de Estatais
Administradores Regionais
Outras siglas partidárias
Muitos integrantes e sabe-se lá quantos de instância de decisão

ATO I
Após chorar copiosamente, em 2001, e tentar emocionar a Corte e o povo quando exercia o mandato de senador e ocupando a liderança do governo de Fernando Henrique Cardoso no Senado, José Roberto Arruda teve de renunciar ao mandato (no caso da violação do painel eletrônico do Senado Federal). Sitiado, admitiu a culpa para depois renunciar ao cargo, evitando assim o processo de cassação de seu mandato, que poderia torná-lo inelegível por aproximadamente nove anos.

(Pausa)

ATO II
Arruda vai para o balcão da Corte e canta uma ária para o povão. Quatro anos depois, voltou, consegue eleger-se governador do Distrito Federal. Começa com uma gestão austera (a preparação para novo golpe), marcada por políticas de corte de gastos e ajustes de contas (o pulo do gato), ele atinge altos índices de popularidade. Torna-se a maior expressão política do DEM, ao ponto de ser cotado para uma futura vice-presidência em uma chapa de oposição encabeçada pelo PSDB nas eleições de 2010.

(Intervalo)

ATO III
Cena I
Na sexta-feira, passada 29.11.09, a trajetória do governador deu um giro em torno de si mesmo. A Polícia Federal fez uma bomba explodir na Corte: O governador do DF, Arruda, pela segunda vez em oito anos era protagonista de um escândalo. Descobriu-se algo avassalador, embora nada surpreendente: o mensalão de Brasília, a existência de um grande e milionário esquema de corrupção. O primeiro magistrado do Estado é investigado pela PF por suspeita de uso de doações de caixa dois para comprar deputados distritais. Essa investigação foi denominada Caixa de Pandora (bastante sugestivo).

Cena II
O governador Arruda foi gravado e filmado conversando sobre um monte (e bote monte) de dinheiro recolhido junto a empresários que prestam serviços ao governo. O Ministério Público e a PF conseguiram convencer um de seus secretários a participar da delação premiada. Por meses, o denunciante, Durval Barbosa, centralizava a distribuição de dinheiro no próprio gabinete de trabalho, ex-delegado de polícia que fez carreira de sucesso como arrecadador de dinheiro informal para campanhas eleitorais do PMDB e que ocupava o cargo de secretário de Assuntos Institucionais de Arruda, filmou e gravou tudo o que viu. E não obstante carregasse nas costas dezenas de processos e integrasse a turma do seu antecessor Joaquim Roriz, de muitas traquinagens conhecidas na área - que teve de renunciar ao mandato de senador, em 2007.

(Intervalo - com farta distribuição de panetone e brinquedos para crianças)

ATO IV
Cena I
Quando foi aberta a Caixa de Pandora, o que se viu: Arruda foi gravado e filmado por Durval, quando discutia com ele o destino de uma grana alta R$ 400 mil, dinheiro arrecadado de empresários, para distribuição aos parlamentares da base aliada. Outros R$ 200 mil deveriam ser guardados para despesas futuras (como é precavido). A média de repasses mensais era de R$ 600 mil. A Caixa de Pandora, que continua aberta, tem efeito direto sobre o resultado das eleições do ano que se aproxima. Arruda, candidato à reeleição, lidera com folga as pesquisas de opinião. E, agora?

Cena II
Alegro
Em segundo lugar aparece exatamente o ex-governador Joaquim Roriz, que, pródigo em ironia, comentou a investigação sobre a administração de seu sucessor: "Nunca pensei que pudesse haver corrupção no governo Arruda. É lamentável". É muita cara de pau. Fontes da PF confirmam que as investigações podem aniquilar também as pretensões de Roriz. Claro, isso vai depender do que Durval se dispuser a contar em juízo. Na revista VEJA nº 48, o jornalista Otávio Cabral, diz: Arruda, a fênix que ressurgiu do episódio do painel de votações, pode estar empreendendo outro mergulho rumo às cinzas.

(Pausa - é muita s... junta)

ATO V
Cena I
A patuléia vai ao delírio. Manifestantes invadiram as dependências do plenário da Câmara Legislativa do DF, pedindo uníssono: Fora, Arruda. O medo afasta os deputados envolvidos no escândalo do mensalão, alegando insegurança para evitar aparecer na Casa. Cerca de 50 manifestantes passaram a noite na Câmara. Assim que amanheceu, este número foi rapidamente crescendo. Dos oito pedidos de impeachment contra o governador, somente dois foram admitidos pela Câmara Legislativa. Os outros seis protocolados foram rejeitados pela Procuradoria Geral da Câmara por conterem falhas normais. Os pedidos devem ser encaminhados para a Comissão de Constituição e Justiça da Casa.

Cena II
Foi revelado a existência de uma suposta planilha de caixa 2 da campanha de Arruda em 2006 que derrubou o presidente do PSDB-DF, Márcio Machado. Ele foi o autor do documento divulgado recentemente com o nome de 41 empresas que teriam sido abordadas para ajudar Arruda. O documento contém nome das empresas e, ao lado, valores que somam R$ 11 milhões. Junto do nome, de várias empresas a sigla "PG". Machado pediu licença de 90 dias do cargo, mas dificilmente reassumirá o posto. Como Pandora mantém a Caixa aberta, mais sujeira, na coluna do Cláudio Humberto (O LIBERAL, 5.12.09) ele diz: "Durval Barbosa afirma que Arruda é proprietário de um haras supostamente adquirido "à vista", em nome do "laranja" identificado por "Severo de Tal". O valor seria de R$ 6 milhões". Ufa! A esperança que ainda está na Caixa de Pandora é que esses canalhas que enganam o povo devem cumprir pena na cadeia porque se trata de sonegação, dinheiro não declarado ao Fisco e lavado é crime de Lesa Pátria. Nos Estados Unidos, foi a única solução encontrada para encarcerar "Al Capone".

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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