sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O estadista de Tracuateua

FRANCISCO SIDOU

A polêmica em torno da privatização dos serviços de fornecimento de água à população de Belém está provocando muita tensão na Câmara Municipal de Belém. Observa-se, ali, uma nítida divisão entre uns poucos representantes do povo e alguns delegados do “polvo”... Dentre os que se têm manifestado contra a “armadilha” gestada em alguns gabinetes da Prefeitura de Belém, merecem destaque os posicionamentos firmes dos vereadores Carlos Augusto e Evaldo Rosa , este mais conhecido como Sua Excelência, o Cobrador Pregador, título de uma crônica que lhe dediquei por ocasião de sua bonita e limpa vitória nas urnas.
Na sessão de terça-feira, as galerias da Câmara estavam bastante agitadas com as palavras de ordem de combativos sindicalistas urbanitários contra a privatização, mas também com a ameaçadora presença de uma “tropa de choque” a favor não só da privatização da água, mas de qualquer medida do prefeito Duciomar, a quem defendem com unhas, dentes, socos e pontapés, como já ocorreu em sessão anterior.
Essa milícia “positiva-operante” do prefeito, que, segundo denúncia de vereadores da oposição, seria integrada por alguns capangas com DAS, procura intimidar, com vaias e insultos, os vereadores da oposição diante da ação contemplativa do presidente da casa do povo, que está se transformando em verdadeira “casa de Noca “ e até em “balcão de negócios”, como foi mostrado para todo o Brasil, no “Jornal Nacional”, não por coincidência, no Dia de Finados.
A propósito, não poderia o Ministério Público investigar as origens dessa milícia que age com a virulência das “torcidas organizadas”, proibidas por lei? Acaso, elas também não ameaçam o estado de direito quando pretendem calar os vereadores que fazem oposição ao prefeito, que foram legitimamente eleitos pelo povo?
Mas o que estaria por trás dessa verdadeira guerra pela privatização dos serviços de abastecimento de água? Para os situacionistas e “milicianos simpatizantes”, o sentimento que move o prefeito seria a “preocupação” com a saúde (?) da população belenense , que estaria muito mal servida com a “água sem qualidade fornecida pela Cosanpa”. Logo, a privatização seria a solução para todos os males de gestão das águas. Já vimos esse filme no reinado tucano de FHC e seus vendilhões da Vale.
E o caos decorrente da falência múltipla do sistema de saúde municipal, com pessoas humildes, jovens e idosos, morrendo na porta dos pronto-socorros por omissão de socorro? Claro, isso não está em jogo na “bacia das almas” do jogo de poder.
Para a turma da oposição, a única coisa que move o prefeito é a ambição desmedida em amealhar recursos e fazer “caixa” para a próxima eleição, quando deverá se candidatar ao governo do Estado ou ao Senado da República. Tem vereador que revela nos bastidores da Câmara que os “operadores” do prefeito usam de métodos bastante pragmáticos e só carregam “dinheiro vivo” em sacolas pretas. Seriam os mesmos “lobistas” a serviço do “Lobo” , que “operaram” no episódio do perdão da milionária dívida de ISS aos donos de ônibus.
Eles não dão recibo, claro. Nem prestam declarações à Imprensa. Aliás, de jornalistas eles querem distância. Comenta-se, nos bastidores, que o operador-mor do “esquema” seria um ex-superintendente do Ibama, preso pela Justiça Federal, mas já gozando as delícias da liberdade (in) condicional e da mais alta confiança do prefeito Duciomar. Por sinal, como negociador do prefeito, ele até tem freqüentado a Câmara Municipal, em visitas com direito a luz vermelha na porta em gabinetes importantes na “Casa de Noca”, aliás, do “polvo”...
Mas o troféu “cara-dura” da privatização das águas vai mesmo para a nobre vereadora Teresa Coimbra que, do alto da tribuna livre, em tom meio “blasé”, criticou os colegas que fazem oposição ao prefeito, dizendo que eles não entendem seus nobres propósitos em defender a saúde da população de Belém. E concluiu com essa pérola: “os que criticam o prefeito dizendo que ele está preocupado apenas com a próxima eleição, na verdade estão mal intencionados, pois Duciomar está pensando nas próximas gerações, com obras estruturantes, incluindo água de boa qualidade para a população de Belém.” Nada mais hilário, senhora dona Coimbra. Catalogar o atual prefeito Duciomar como estadista chega a ser uma ofensa aos brios cabanos do povo paraense.
Decididamente, Belém não merece o prefeito que tem. Nem algumas de “suas excelências” municipais que fingem representar o povo, mas que na verdade estão a serviço do “polvo” das privatizações e das ambições desmedidas pelo dinheiro e pelo poder sem causa. Parodiando o grande escritor Ernest Hermingway, na obra clássica da literatura universal “Por quem os sinos dobram”, diria que os sinos também dobram pela maioria do eleitorado de Belém pela infeliz escolha do “estadista de Tracuateua” para gerir os destinos de nossa bela e maltratada cidade.
Pobre Belém! Ainda assim, te queremos bem.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Quem garante toda essa sacanagem é a guarda "arbageana" e o comando "gervaseano" do oftalmo-bacharéu que vez por outra reaparece na Belém abandonada.

Anônimo disse...

os problemas são muito fáceis de se resolver, a começar pela consciência da própria população. Deixar de colocar a culpa nos políticos é uma delas.