O site da Unama (Universidade da Amazônia) mantém no ar, desde ontem à tarde, uma nota de esclarecimento que trata, sucintamente, de dois pontos: a venda da instituição e a renúncia de seu reitor Édson Franco.
Notas de esclarecimento são sempre um risco. E requerem alguns requisitos. Dois deles são fundamentais: de preferência, é preciso que sejam curtíssimas, porque quanto menos se escrever, menos riscos corre o esclarecedor de dar motivação a novas polêmicas; e se faz necessário, enfim, que as notas esclareçam.
Isto, o fato de notas de esclarecimento necessariamente esclarecerem, parece até uma redundância, mas não é. Porque há até mesmo, como vocês sabem, notas de esclarecimento sobre boatos que nada esclareceram sobre os tais boatos, como até serviram para divertir, eis que revelaram uma nova e engraçadíssima catiguria, a dos falsos boatos, que se contrapõem, evidentemente, à dos boatos verdadeiros. Ninguém conhece ainda boatos que sejam verdadeiros, mas isso não importa. A empresa, um dia, haverá de esclarecer.
A nota da Unama acerta por apresentar-se sucinta. Mas peca por não esclarecer muita coisa. A rigor, nada esclarece. Como a nota é curtinha, permite até que se façam três comentários, cada um depois de cada parágrafo.
À nota, pois. Os trechos, abaixo, estarão em itálico, seguidos de comentários do blog:
Em virtude da notícias veiculadas hoje, a Unama esclarece:
1. A Universidade da Amazônia não foi vendida – mesmo sendo assediada há anos por grupos e fundos de investimentos, assim como, de resto, também vêm sendo assediadas um grande número (sic) de instituições congêneres em outros Estados.
Ninguém disse, até onde se sabe, que a Unama foi vendida. O que se disse, aqui mesmo no Espaço Aberto e no Diário do Pará – que abriu inclusive manchete de primeira página sobre o assunto – é que cinco dos seis sócios da Unama aprovaram a venda da Unama.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Uma coisa é a maioria dos cinco sócios aprovarem a venda, outra coisa, evidentemente, é a instituição ser vendida. Uma coisa é os sócios, por maioria, terem manifestado a decisão de vender a instituição, mesmo que nenhum comprador tenha se apresentado com o dinheiro na mão. Mas, uma vez decidida a venda, se aparecer o comprador com o dinheiro na mão, o negócio em tese será fechado, já que a decisão está tomada.
Se os sócios da Unama, por maioria, decidiram vender a Unama, poderá nunca aparecer um comprador com proposta concreta. Mas a decisão de vender estará sempre de pé, até que outra em contrário a revogue. Se alguma vez aparecer alguém disposto a comprá-la e as condições forem boas para a Unama, então a venda se consumará.
É plenamente possível, portanto, alguém decidir vender alguma coisa – de universidade a sapato velho -, sem que a venda se concretize de imediato. É possível até mesmo alguém tomar a decisão de vender qualquer coisa, mesmo sem nunca ter recebido uma proposta de compra.
Foi assim com a Unama. As notícias veiculadas mencionaram a decisão dos sócios da Unama de vendê-la. E isto é absolutamente verdadeiro. É absolutamente indesmentível. Não exigiriam, portanto, qualquer esclarecimento.
2. O professor Édson Franco renunciou ao exercício do cargo de reitor, por motivo de foro íntimo, sendo substituído regimentalmente pelo vice-reitor, professor Antônio de Carvalho Vaz Pereira.
Isso de dizer-se que fulano, sicrano ou beltrano renunciou por “por motivo de foro íntimo” é lançar mão de expressão inventada para compor notas de esclarecimento, sejam elas quais forem.
A rigor, qualquer motivo para renúncia é de foro íntimo. Mesmo quando o sujeito renuncia, vai para o meio da praça, sobe num banquinho – como naquele que fica num dos corners do Hide Park, em Londres – e brada ao mundo “Eu renuncio porque isso aqui está uma porcaria”, mesmo quando ele faz isso, portanto, a renúncia é de fato íntimo, a decisão de renunciar operou-se no íntimo daquele que renunciou. Ou não?
No caso da renúncia de foro íntimo do reitor da Unama, é evidente que ela foi de foro íntimo. O que se passou nos recônditos mais íntimos do renunciante: o agastamento, a insatisfação, a contrariedade, o desgaste e sua oposição ao que haviam decidido os demais sócios: a venda da Unama.
Pronto. Foi esse o motivo de foro íntimo do reitor. Sabem-no todos agora, depois que o assunto veio à tona: alunos, professores, Belém, o Pará e o mundo.
3. A Unama mantém as suas atividades rotineiras, sem solução de continuidade.
A sociedade e, em especial, a comunidade acadêmica podem ficar tranqüilas – a Unama continuará a trajetória que vem escrevendo há 34 anos com competência, seriedade e criatividade.
É certo que as atividades da Unama continuarão, mas não mais com a mesma “rotina” de anteriormente. A rotina na Unama, a partir de agora, terá como balizamento um fato: o de que a decisão de vender a Unama está tomada – pelo menos até outra em contrário.
Se a Unama será ou não vendida, nunca se sabe.
Mas a decisão de vendê-la já foi aprovada. Está aprovada. E por cinco a um.
Ou não foi?
4 comentários:
Caro Amigo,
Seu comentário foi muito bem redigido, você escreve muito bem, de fato, sua simpatia pelo Dr. Edson Franco tem fundamento, pois o mesmo também têm na redação um de seus pontos fortes.
Mas o que me deixou intrigado foi, como que você uma pessoa que escreve tão bem gasta um tempo precioso em um assunto desse?
a) Você tem razões pessoais para perder seu tempo?
b) Você é sócio da Unama?
c) Você é comprador?
d) Você é concorrente?
e) Você é desempregado?
Nada é para sempre, Henry Ford morreu e a Ford continua viva até hoje, vamos pensar que o tempo do Dr. Édson passou, como se diz no amor: "Foi bom enquanto durou".
Caro Amigo Anônimo.
Seucomentário é interessantíssimo. É provocador e provocante.Ninguém resiste a ele.
Vou postá-la na ribalta, neste domingo, e debater com você lá.
É melhor, para que todo mundo leia.
Abs.
Talvez o caro anônimo tenha o costume de assistir acontecimentos como este apenas como mero espectador, nunca com instinto investigativo, que faz um ser humano ser chamado de RACIONAL.
Acompanhar cenas de corrupção, violência, e tudo que se passa a seu redor na maior passividade é o mesmo que vir a este mundo a passeio.
O autor do blog está de parabéns pela linha investigativa, em consideração a todos os professores e alunos desta instituição que ficaram abalados com a notícia e necessitam um esclarecimento melhor, já que a rotina já foi alterada drasticamente. Ontem as aulas foram suspensas.
A desconsideração com o Dr. Edson Franco pelo Sr. Anônimo é visível e nota-se que o mesmo não acompanhou a história de luta deste homem pela criação da Unama, uma história de conquista, coragem, ousadia e sucesso que deveria ser exemplo para muitas pessoas.
Mas neste mundo há todo tipo de pessoa, não é de se admirar.
Se um dia isto teria que acontecer, deveria ser de modo pacífico e de acordo com o maior idealizador deste sonho, e não drástico como foi (ou está sendo).
como fofoqueiro mudou de nome...agora chamam de blogueiro ...vou blogar também dia 15/dez a unama demitirá 150 funcionarios administrativos....SEGURA!!!!
func. não identificado
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