quinta-feira, 28 de junho de 2018

Você quer uma boa mentira? Corra para o seu grupo no WhatsApp.



Grande!
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) firmou parcerias com empresas de tecnologia e associações de empresas de comunicação para combater a disseminação de notícias falsas, as chamadas fake news, que tenham o potencial de afetar a disputa eleitoral deste ano.
Isso é ótimo.
Qualquer esforço contra a boataria e a propagação criminosa da mentirada, agora conhecida como fake news, será bem-vindo. Aliás, será muito bem-vindo.
Agora, uma coisa é certa: será preciso um esforço maciço, permanente de empresas de comunicação e de plataformas digitais no sentido de convencer o usuário a identificar uma notícia falsa.
É mais: é preciso, acreditem, ensinar as pessoas a usar aplicativos pelos quais circulam todo dia, o dia todo, com uma velocidade assustadora, todas as bobagens, mentiras e coisas absurdas que o ser humano pode produzir. E mais algumas.
Vejam o caso desses grupos que, aos milhares, milhões e trilhões, estão aninhados no WhatsApp.
Eles poderiam ser uma poderosa ferramenta de comunicação e interação – profissional ou simplesmente pessoal e afetiva – entre os integrantes.
Mas não.
Grupos de WhatsApp transformaram-se na maior vitrine de dispersão, desinformação e informações truncadas da face do planeta.
Os motivos principais para isso são, basicamente, os seguinte: nesses grupos, ninguém lê ninguém – seja porque a pessoa tem preguiça de ler o que os outros escrevem, seja porque, narcisisticamente, só acha importante o que ela própria posta, seja porque não consegue mesmo travar a menor intimidade com o aplicativo.
Amigo meu, por exemplo, não sabia até recentemente “como fazer aquela caixinha”, a expressão que ele cunhou para o simples procedimento de responder diretamente a um integrante do próprio grupo.
Até que aprendeu. Fez um curso - virtual, é claro - e aprendeu.
Então, por exemplo, às 7h da manhã você posta um texto – textinho ou textão, com imagem ou não – num grupo qualquer, de 20 ou 30 pessoas.
Lá pelas 8h, os que vão acordando não leem o que postaram antes deles. Não se dão o trabalho de rolar a tela do smartphone pra cima e checar o que os outros vêm dizendo antes dele. Resultado: haja replicarem, o dia inteiro, aquele mesmo texto das 7h, como se fosse uma grande novidade.
E quando chega às 23h do mesmo dia, ainda tem gente que pergunta:
- Vocês já viram? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. É ótimooooooooooooo.
E manda, para fechar o dia, a mesma piada, muitas vezes desengraçadíssima, que já estava no grupo às 7h e foi replicada 300 vezes durante o dia inteirinho.
Outro caso são as manifestações retardadas.
Já houve casos, num grupo de Zap, em que perguntei:
- Tu vais?
Um mês depois, a fulana me respondeu:
- Não.
E o evento, quando ela respondeu, já tinha ocorrido há um mês.
De outra feita, marcaram um evento de família por um grupo de Zap.
Bastava indicar local e hora.
Isso foi feito.
Mas foi feito com tamanha, retumbante, retumbante e falta de clareza, que metade do grupo leu e não entendeu, enquanto a outra metade sequer leu.
Olhem, vou confessar pra vocês: não posso viver sem grupos de Zap.
Eles são o combustível que me animam a acreditar que o ser humano ainda é capaz de se comunicar bem.
Fora de saca.
Vocês imaginem, então, uma notícia falsa postada nesses grupos de WhatsApp. Inevitavelmente, elas vão se replicadas aos milhões e bilhões, porque ninguém se importa sequer em fazer com que o outro se convença de que não deve veicular aquilo, porque é uma mentira, um boato, um idiotice, uma coisa totalmente maluca e sem sentido.
Por isso, é certo que grupos de WhatsApp serão, nestas eleições, a maior fonte de propagação de mentiras.
Porque são o veículo que se apresenta mais propício para tanto.
Convém, no entanto, que todos nos convençamos que precisamos nos empenhar para aprender a utilizar as redes sociais para congregar, e não para dispersar.
Mais ou menos isso.

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