Sabem aquele falso
paraensismo, tão verdadeiro como uma nota R$ 7, que atribui os, como se
diz, “males do nosso futebol” a atletas trazidos de outros Estados para
reforçar os clubes do Pará?
Sabem aquela hipocrisia
sem tamanho, aquela imbecilidade incontrastável, que insiste na balela de que melhor mesmo é reforçar os nossos clubes com a tal “prata da casa”,
quando, em verdade, precisamos mesmo é de bons jogadores, sejam eles de Belém,
do Pará ou confins do mundo?
Pois é.
Esse mesmo pessoal, os mesmos adeptos dessas
teses esfarrapadas passam a impressão de que, para melhorar o futebol paraense,
basta formar bons times, contratar bons técnicos e arrumas algumas coisinhas
relacionadas à gestão dos clubes.
Algumas coisinhas?
Olhem só esse heroi, esse monumento vivo de amor
ao futebol paraense, esse edificante exemplo de denodo à hercúlea tarefa de expurgar
os tais “males do nosso futebol”.
Ele tem nome.
Seu nome é Antonio Carlos Nunes de Lima.
Um fenômeno.
Sem saca,
um verdadeiro fenômeno.
Nunes é coronel PM da reserva.
Altaneiro – e faceiro, por que não? –
encaminha-se para emplacar 19 anos como presidente da augusta e respeitável
Federação Paraense de Futebol, a FPF.
Há 15 anos presidindo a entidade, foi eleito na
semana passada para mais quatro.
Encaminha-se, assim, para ombrear-se – huuuuu! –
com gente da estirpe desses autocratas ou ditadores de republiquetas –
asiáticas, americanas ou sul-americanas – que se aboletaram no poder por mais
de duas décadas.
Mas disfarcem aí.
Nunes não é ditador, não.
Ao contrário.
Quem o conhece sabe de sua conversa maneira, do
seu jeito, digamos assim, cativante, envolvente, simpático de ser.
Um jeito, um estilo que foram amplamente confirmados
nestas eleições.
Opositor de Nunes, Ulisses Sereni chegou a
denunciar que as chapas de oposição não tiveram acesso à relação dos nomes de
presidentes e vice-presidentes de cada clube e federação com direito a voto.
Também reclamou que a FPF do coronel Nunes
bancou o pagamento de passagens aéreas e estadia a representantes dos clubes
com direito a voto para participar da eleição. Apenas um agrado, digamos assim.
Disse ainda dispor de provas de uso de falsidade
ideológica nas eleições.
E aí?
E aí que é o seguinte. Vocês já leram Ninguém
escreve ao coronel, do García Márquez?
Leiam, meus caros.
Sabem aquele coronel – esquecido, despossuído de
seus poderes, destituído de seus sonhos, que se cansou de esperar o reconhecimento por tudo o que fez?
Sabem o coronel que ficou reduzido à missão de
criar um galo?
Pois este coronel não é o nosso. É o de García Márquez.
Quanto ao nosso coronel, o coronel Nunes, todos
escrevem pra ele.
Todos lhe dão bolas.
Todos lhe rendem loas e boas.
Todos o reverenciam e paparicam.
Todos querem um dedo de prosa com ele.
Acusem de tudo o coronel Nunes.
Não o acusem, todavia, de estar na FPF por atos
discricionários e ditatoriais.
Não.
O coronel tem sido eleito, reeleito, re-reeleito
e assim por diante.
Vai ficando aí, por força da vontade –
“legítima”, dirá o nosso coronel – dos presidentes de clubes.
Os mesmo presidentes de clubes que têm
destroçado o futebol paraense, mas que, acima de tudo e de todos, também amam de paixão o nosso futebol.
Querem saber de uma coisa? Vamos logo é escrever
ao coronel.
Todos temos mais é que escrever a ele.
O cara pode, gente.
Já que ficou 15 anos à frente da FPF, por que
não deixá-lo ficar por mais 15?
Que mal há nisso, afinal?
O tesouro do coronel de García Márquez era um
galo.
O tesouro do nosso coronel, o coronel Nunes, é o
futebol paraense.
Viva ele!
Viva o nosso coronel.
3 comentários:
“males do nosso futebol” ou males do Pará.Na FAEPA temos "Coronel" Xavier a décadas.Tudo o que ,e de atrasado também permeia neste meio.
Duro, também, é ouvir comentarista esportivo defender fervorosamente o tal coronel.
E afirmar que essa figura "é ukiá" de ótimo e mais credenciado, com grandes serviços (?) prestados ao futebol paraense.
Dirigente, poster, dirigente. Se é da PM, ex-PM, servidor público, empresário ou não, não importa. Dirigente, poster, não há cores, camisas e nem origem. Dirigente.
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